quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Luiz Glênio Bastos Soares : juiz, cantor, ator - JAMES PIZARRO


Luiz Glênio Bastos Soares, saudoso Juiz de Direito na Comarca de Santa Maria,  foi meu grande amigo desde criança. Fui amigo de toda a sua família.  Sua mãe, de nome Maria Soares,  era uma  famosa cabeleireira em nossa cidade nos aos 50/60. Era uma mulher ativa, loquaz, vibrante, com enorme círculo de amizades.  Seu pai, Teodoro Brandes Soares, trabalho por décadas a fio na Viação Férrea onde se aposentou no setor administrativo. Luiz Glênio tem uma irmã, de nome Vera, notável pianista, compositora e arranjadora, muito conhecida no mundo artístico da cidade.

Tanto eu era companheiro do Glênio e me dava  com a família toda que me recordo dos diversos locais onde moraram : Andradas (quase na esquina do Colégio Sant*Anna), por muitos anos na Vila Belga e, depois, na rua 7 de Setembro (perto do Clube Esportivo). Lembro quando o Luiz Glênio desistiu de ser escoteiro quando menino.  E como eu estava entrando para a então chamada Tropa de Escoteiros Henrique Dias, minha mãe comprou da D. Maria Soares todo o uniforme do Glênio e demais petrechos (mochila, cantil, faca de mato, bastão, lenço, cinturão, divisas, meias, etc...), servindo esta tralha toda de meu glorioso presente de aniversário naquele ano.

Eu e o Glênio fomos adolescentes e universitários juntos, em cursos diferentes. Frequentamos as reuniões e bailes do Caixeiral e Comercial. Ele era cantor de conjuntos musicais da cidade. Cantava admiravelmente bem em inglês.  Foi também um notável contador de “causos” e piadas. Caminhávamos horas a fio pelas avenidas e ruas de Santa Maria observando as coisas. Declamando poemas e crônicas. Falando de namoradas. Traçando planos para o futuro. Imaginando coisas.

Luiz Glênio fez parte, em 1968, a convite do meu inesquecível amigo e ator Pedro Freire Junior, do Teatro Universitário, inaugurado pelo embaixador Paschoal Carlos Magno nos porões da Casa do Estudante, à rua Professor Braga, onde anos depois funcionou a boate (catacumba). Anos depois também o mesmo Paschoal iria inaugurar o teatro da USE, na rua do Acampamento, que levou seu nome, de efêmera duração.

Ali na Casa do Estudante, o Teatro Universitário  dirigido pelo Pedro Freire apresentou dezenas de peças. E uma delas foi justamente o “Auto da Compadecida”, criação de Ariano Suassuna, glória da inteligência nacional, num dos seus mais férteis e talentosos momentos de criatividade. Originalmente escrita para o teatro, esta comédia foi levada às telas  em 2000 sob a direção de Guel Arraes.  A peça conta a história de  “João Grilo”, um sertanejo muito pobre e mentiroso. E também de  “Chicó”, que vivia enganando todo mundo. No cinema, o “Chicó foi vivio pelo ator Selton Mello.

Pois o papel de “Chicó”, no Teatro Universitário de nossa cidade foi entregue ao Luiz Glênio Bastos Soares, então estudante de Direito da UFSM, onde veio a se formar  em Direito em 1968. A peça teve de ser encenada várias noites seguidas porque o público dava gargalhadas homéricas do desempenho dele nesta peça. Foi uma coisa extraordinária !

Luiz Glênio foi morar em Porto Alegre onde se aposentoucomo desembargador . Depois de décadas de convívio, perdi meu amigo de vista. Até que no dia 23 de abril de 2007 tomei uma bofetada na cara com a notícia : a morte do meu amigo. Por uns minutos pensei que poderia ser mais uma piada dele. Ou mais uma brincadeira do “Chicó” para enganar os amigos.

Mas era uma dolorosa verdade.

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