sábado, 6 de março de 2021

"PINHA", O CARISMÁTICO ATOR DA ESCOLA DE TEATRO LEOPOLDO FROES - JAMES PIZARRO (DIÁRIO - 6.3.2021 - seção MEMÓRIA - pág. 39 )

Comecei a namorar minha mulher em 1963. Ela residia na rua dos Andradas, 1395, um sobradinho. Onde hoje funciona uma delegacia de polícia. No pátio tinha um campinho de futebol onde, aos sábados, os amigos da família e vizinhos se reuniam para jogar. Pois foi justamente nessas “peladas” que conheci o meu personagem de hoje, com o qual vim a ter uma relação de amizade que durou a vida inteira. Trata-se do Rafael Ernesto Theodorico, que toda a cidade conheceu pelo apelido de “Pinha”. E como tal o tratarei neste texto. A família do “Pinha” morava também na Andradas, quase em frente à casa da minha então namorada. Ele era filho da simpática d. “Riqueza” e do coronel Theodorico, que foi diretor do Hospital da Guarnição Militar do Exército. E também vereador da legislatura de 1958, ano do Centenário do município. Foi nele que a vereadora Helena Ferrari atirou um copo cheio de água em plena sessão, conforme já relatei em outra “Memória”. “Pinha” era uma figura popular, bem-falante, presença constante no centro da cidade, nas rodas de cafezinho da Galeria Chami, nos papos do calçadão. Foi muito ligado à família do Edmundo Cardoso, criador da Escola de Teatro Leopoldo Froes. São declarações da minha cara amiga Gilda May Cardoso, filha do Edmundo : “-Pinha foi uma pessoa muito querida em nossa cidade. Alegre, brincalhão, amigo fiel e um grande ser humano. Inicia sua carreira artística, na Escola de Teatro Leopoldo Fróes, atuando com muito entusiasmo e responsabilidade. Como ator, foi carismático e sempre teve muita empatia com o público infantil e adulto. Foi um ator talentoso, dedicado e admirado pelos seus companheiros de palco. Além de sua participação na Escola de Teatro, surgiu e se consolidou uma forte e duradoura amizade com a família Cardoso, especialmente com Edmundo e Claudio. Torna-se além de amigo dedicado, protetor do Claudio, em todos os momentos e em todos os lugares. Havia uma empatia muito grande entre os dois e um carinho recíproco. Pinha também participa em 2015 do documentário Edmundo - uma vida multifacetada, dirigido pelo cineasta Luiz Alberto Cassol, dando um emocionado depoimento sobre Cardoso. Foi sua última mensagem, tendo partido logo depois. Ao partir, Pinha deixa muitas saudades entre os inúmeros amigos e naqueles que o conheceram e admiraram, e doces memórias e gratidão da família Cardoso”. Graças à gentileza da pesquisa da amiga Terezinha de Jesus Pires Santos, diretora da Casa de Memória Edmundo Cardoso, consegui os dados das participações teatrais do “Pinha”. Sua estreia no teatro foi em 1971, na peça A Revolta dos Brinquedos, peça de teatro infantil de Pedro Veiga e Pernambuco de Oliveira encenada no Cinema Imperial e que obteve grande sucesso na cidade. “Pinha” representou o personagem Soldadinho de Chumbo. Participou em 1972 do II Festival De Expansão do Teatro Infantil, em Santos, São Paulo, onde a Escola de Teatro Leopoldo Froes conquistou dois prêmios: Rafael Ernesto Theodorico recebeu o de “Melhor Ator” e a Aglaia Pavani, o de Atriz Revelação. Nome da peça: A Revolta dos Brinquedos. Representando um operário da construção civil, “PINHA” participou da peça Soraya Posto 2, uma comédia de Pedro Block para adultos montada e encenada fazendo parte das comemorações dos 30 Anos da Escola de Teatro Leopoldo Fróes. Foram encenadas no Cinema Imperial e no Teatro Álvaro de Carvalho em Florianópolis, Santa Catarina Dona Patinha vai ser Miss, peça de teatro infantil de Artur Maia encenada no Cinema Imperial foi a quarta e última peça que “Pinha” trabalhou. “Pinha” trabalhou e se aposentou como funcionário civil do Hospital Militar. Foi casado e teve um filho, estudante de Psicologia, hoje residente em Florianópolis. Durante os dez anos que residi em Florianópolis, por mais de uma vez o querido amigo “Pinha” esteve me visitando na praia de Canasvieiras. Registro também, a bem da verdade e por dever de justiça, o trabalho que o “Pinha” desenvolveu dentro da organização dos AA fazendo palestras, visitando clínicas e fazendas de recuperação para explicar a importância dos grupos de mútua ajuda. Vitimado por complicações cardiorrespiratórias, advindas do tabagismo, o saudoso e querido amigo nos deixou precocemente.

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