domingo, 13 de junho de 2021

Avenida Tênis Clube é um local onde o esporte aproximou famílias e gerou amizades eternas Nos anos 1970, aprendi a jogar tênis nas quadras do Avenida Tênis Clube (ATC), de Santa Maria. E durante os anos 80/90, praticamente todos os dias, passava as minhas horas de folga nas dependências do clube, ora fazendo sauna, ora jogando tênis, ora fazendo churrasco, ora jogando bocha. E os familiares juntos. Em 1970, só haviam seis quadras no clube, lembro bem. Todas obedecendo rigorosa divisão hierárquica para facilitar a disciplina na ocupação das mesmas. Na quadra número 1 jogavam somente os tenistas veteranos. Na quadra 2, os “Seniors A”. Na quadra 3, os “Seniors B”. Nas quadras 4, 5 e 6, os juvenis, as mulheres e os demais tenistas que não disputavam o ranking. Grande número disputava por puro lazer, entretenimento e pouco estavam se importando para o resultado da partida. Já outros, principalmente, entre os veteranos, se concentravam, dormiam cedo, e entravam na quadra como se fossem disputar uma final em Wimblendon. Lembro de dois exemplos: Jarbas Cunha e o médico Heitor Silva, coronel do Exército, apelidado de “Fofo”, pois assim o chamava a esposa. Lembro – exercitando apenas a memória – de dezenas daqueles queridos amigos, a maioria deles já não mais entre nós, o que enche meu coração de melancolia. lembranças Anterinho Scherer, médico, ex-prefeito de Cacequi, famoso por suas folclóricas histórias. Máximo Knackfuss, professor do Curso de Engenharia da UFSM, que se emburrava facilmente, mas cinco minutos depois esquecia do motivo da zanga. Ênio Ferraz, representante de laboratório médico, apelidado de “Nonô”, que teve a capacidade aeróbica tirada pelo tabagismo. Alberto Leitão, de pavio curto, principalmente nos jogos de duplas, pois já no primeiro erro do seu companheiro, começava a reclamar. Arno Böhrer, era o alvo predileto das brincadeiras do Jarbas Cunha e, ignorando sua avançada idade, jogava várias horas por dia. Abdo Achutti Mothecy, farmacêutico, ex-jogador de basquete, dono de uma loja de aviamentos militares - e também de cortinas - na praça Hector Menna Barreto (ex-praça da República), mais conhecida por “pracinha dos Bombeiros”. De origem libanesa, Abdo foi casado com Tereza dos Santos Mothecy, mais conhecida por “Terezinha” ou “Tereca”. Lembro que o térreo da loja do amigo Abdo era quase uma extensão do ATC, pois ali se reuniam para tomar cafezinho os veteranos do clube, às vezes atrapalhando as atividades comerciais do dono. O Abdo sempre foi generosamente um pacificador, um aglutinador. Adorava pescarias e histórias antigas da cidade. Adaí Bonilha, dentista, esposo da também tenista, Dona Olga, que por muitos anos, também foi professora de tênis das crianças iniciantes. Álvaro Pfeifer, corretor de imóveis, professor de Matemática, dotado de notável espírito de humor. Arno Werlang, juiz, diretor do Fórum de Santa Maria, hoje desembargador em Porto Alegre, pai do Gerson Werlang (integrante da banda “Poços e Nuvens” e professor universitário de música). Arlindo Mayer, engenheiro, professor do Centro de Tecnologia da UFSM. Armando Vallandro, grande jogador de basquete do passado, apelidado de “Picolé”, ex-reitor da UFSM. Alnei Prochnow, também professor da UFSM, sempre alegre e disposto a uma brincadeira. Claudio Morais, coronel do Exército. Dalmo Kreling, engenheiro, dono da Construtora Dikrel, que transferiu depois residência para Santa Catarina. Dalton Kortz, ex-funcionário da Livraria do Globo, vendedor autônomo, hoje pastor metodista, talvez o mais brincalhão de todos. Darkson Cunha, professor do Centro de Educação Física da UFSM. Evaldo Morais, coronel do Exército, morador da Faixa Velha de Camobi, gostava de tocar violão e cantar músicas de seresta. Gerson Morais, funcionário da agência central do Banco do Brasil, na Avenida Rio Branco. Heitor Silva, campeão de tênis do Exército Nacional, cheio de estilo até no caminhar, tinha consciência exacerbada de que era um grande atleta. Jorge Merten, médico traumatologista. Carlos Pithan, dentista e professor da UFSM. Luiz Carlos Lang, dono de um reputado escritório de contabilidade, apreciador de vinhos chilenos. Luiz Carlos Pistóia Oliveira, engenheiro e professor da UFSM. Luiz Carlos Morales, advogado, hoje residindo em São Vicente do Sul. Luciano Rocha, cearense, professor da UFSM, dentista especializado em Odontopediatria. anos felizes Manoel Argentino Sissy, oriundo de São Borja, de apelido “Fanha”, notável contador de casos. Manoel Vianna, dentista, professor da UFSM, também de pavio curto. Paulo Roberto Oliveira, professor de Química da UFSM, ex-jogador de basquete. Simão Sampedro, coronel do Exército, irmão do também tenista, Renan Sampedro, professor de Educação Física da UFSM. Roberto Bisogno, dentista, radialista, professor da UFSM. Roberto Leitão, engenheiro, professor da UFSM. Engenheiro Lang, dono das piscinas “Golfinhos”. Coronel Bins, comandante da Base Aérea de Santa Maria. James Souza Pizarro, meu filho, que foi um talentoso tenista da categoria infanto-juvenil e disputou alguns torneios no estado, defendendo o nome do ATC, na companhia de Álvaro Pfeifer, Máximo Knakfuss, Roberto Bisogno e Arnaldo Valty (médico mineiro, oncologista, que trabalhava no Serviço de Cobaltoterapia da UFSM). Lembrei do Glicério que tomava conta dos motores da primeira piscina. Do amável e simpático Seu José que por décadas cuidava das quadras de saibro. Do ecônomo Chico e garçons da copa. Das dezenas de funcionários da portaria e segurança. Foram anos e anos felizes, com jogos diários, seguidos quase sempre de churrascos. Infelizmente, com o passar dos anos e no “curso natural dos acontecimentos” (como diria meu amigo e colega de rádio, Joel Abílio Pinto dos Santos, já falecido), a morte vai levando os companheiros. Outros se mudam de cidade ou de clube. Outros simplesmente deixam de jogar. Outros, premidos pelas exigências profissionais, se distanciam. Dia desses, vendo minha netinha Bethânia brincando nas dependências do ATC, olhei para os lados e dei falta de dezenas de amigos mortos. Tive de disfarçar rapidamente para que ninguém por perto percebesse que eu estava chorando.

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