segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

HELGA, UMA CADELA UNIVERSITÁRIA - James Pizarro (DIÁRIO, 13.12.2022)

Eu bem sei que, além de ser um tanto (p)bizarro, virei um tipo maldito no oficialismo da minha cidade natal quando era mais jovem. “Metamorfose ambulante” no conceito do Raul Seixas, virei um tipo maldito, satanizado na cidade. 90 % por causa do preconceito da cidade (que nunca aprendeu a conviver com as diferenças). E 10 % por causa das ,mancadas terríveis que cometi (e das quais já fiz confissão pública. Fui julgado. Crucificado. E ressuscitei. Para desânimo e desencanto dos meus desafetos). Houve uma época que a UFSM presenteava e homenageava numa janta os funcionários e professores que completavam 10, 20, 30 anos de serviço com folha imaculada, sem faltas e advertências. Acho que ainda existe esta premiação. Quando completei 20 anos de serviço fui o único que “esqueceram” de convidar para receber a tal medalhinha de latão, que se compra ali no camelódromo por 1,99 a dúzia. À época, escrevi para a reitoria – por oficio protocolado – que estranhava o esquecimento. E argumentei que poderia ter levado meu lanche de casa na jantinha oferecida se tinham medo da minha gula de obeso. E do custo gastronômico que eu daria. O que certamente afetaria os cofres da instituição. Na semana seguinte, ao entrar na minha sala na Rádio Universidade, encontrei por baixo da porta um envelope contendo a medalhinha de latão com uma espécie de alfinete. Esses troços que se enfiam na lapela do casaco. E nada tinha por escrito, apenas a latinha. Como nunca usei casaco, sou um homem sem lapelas. Naquela distante época, eu tinha três cadela da raça cocker-spaniel. Chamadas Helga, Madonna e Hanna. Chegando em casa, enfiei a medalha na casa da Helga, minha cadela preferida e a mais velha do trio. Porque achei que o carinho e a dedicação que ela me dava mereciam um agradecimento. E afinal, numa cidade com várias universidades, ela não era uma cadela comum. Era uma cadela universitária e, agora, possuidora de um ”merdalhão”.

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