sexta-feira, 20 de junho de 2008

POEMA/CRÔNICA PARA SÉRGIO ASSIS BRASIL - James Pizarro


SÉRGIO, UMA VIDA
EM FOTOGRAMAS...
JAMES PIZARRO

LUZ ! CÂMARA ! AÇÃO !

CENA 1 –
Companheiro de camping quando os filhos eram pequenos.
Parceiro de jantares na churrasqueira do velho Alfeu.
CENA 2 –
Co-autor de vídeos ecológicos nos tempos do cursinho.
Companheiro de programa,
Na rádio da UFSM, no terraço do prédio da Antiga Reitoria.
CENA 3 –
Fotógrafo das capas da revista Quero-Quero
A pedido do falecido reitor Mariano da Rocha.
Conviva de jantas da casa do Dr. José Pinto de Moraes,
Seu sogro,ao lado da Estância do Minuano.
CENA 4 –
Conversas noturnas na praça Saldanha Marinho,
Quando passávamos o mundo a limpo
E planejávamos o futuro.
CENA 5 –
Intermináveis conversas dentro do carro
Com Rogério Lobato, Nicola Garofallo e o fotógrafo Pithan.
Conversas intermináveis no barzinho do Erly,
No prédio da administração central,
Prosseguidas depois do setor fotográfico da UFSM,
Do qual foi chefe diligente e criativo.
CENA 6 –
Fotógrafo de posters de meus filhos.
Fundador da SAB – Produções.
Diretor de “Uma Gravata para Mário”,
Estreado por João Teixeira Porto.
CENA 7 –
Susto com princípio de incêndio
No apartamento do Edifício Taperinha,
De onde fotografava a cidade
E a Romaria da Medianeira.
CENA 8 –
Alegria pelo nascimento de
Gustavo, Tiago e Renata.
Tudo com a retaguarda afetiva da gigantesca Ana.
CENA 9 –
Possibilidade de finalização do grande sonho
Do acalentado longa-metragem.
Sonho interrompido pelos tentáculos silenciosos da doença.
CENA 10 –
Calor mortal se abate sobre a cidade que amou.
Pássaros param de voar, em solidariedade.
Cidade fica lenta.
Amigos e colegas em silêncio de espanto.
Nuvens ameaçam luto e se carregam de tristeza.
CENA 11 –
Céu em crise de pessoas de sensibilidade
Teima em nos levar pessoas das artes
Para tornar final de ano celestial mais suportável
O céu é implacável, às custas da nossa dor.
A cidade murcha.
Empobrece.
Silencia.
CENA 12 –
Eu me recolho qual caramujo úmido
Sentindo o peso da gosma de décadas.
Resvalo sobre o musgo do tempo enganando a Angústia.
E me quedo, perplexo,
Diante da morte do amigo, carregando no peito
Uma envergonhada onipotência de sobrevivente.
CENA 13 –
Réquien de Mozart, em BG...
THE END
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**Fiz este texto às pressas, a pedido do Gaspar Miotto, na sala dele no jornal A RAZÃO para que o mesmo fosse publicado no dia seguinte, dia do enterro do Serginho, meu amigo, companheiro, colega de UFSM.


2 comentários:

Anônimo disse...

James, fizestes eu lembrar o Nicola Garofallo...outro amigo dos tempos da Rua André Marques, em Santa Maria...e companheiro de sessões de cinema no Cine Glória, para depois, numa intelectualidade espantosa, debatermos o filme assistido nas lancherias da Primeira Quadra..PÕ, James, tá me dando uma saudades da Santa maria da Boca do Monte!

Anônimo disse...

E o Sérgio Assis Brasil..meu vizinho de porta no edifício do Cine Glória...jamais vou esquecer a simpatia, o sorriso, a amizade...quando nasceu meu primeiro filho, em 1975, tirou uma foto inusitada do recém-nascido procurando o seio para mamar com um biquinho tipo passarinho faminto...coisa mais linda! Saudades de um tempo bom, de gente boa, de convivência autêntica, quando a gente conhecia quem estava ao nosso lado e éramos felizes e amigos de verdade. Beijo, tiadorú, James