quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

O MARTÍRIO DE UM CÃO - James Pizarro (jornal A RAZÃO, 12/1/2017)



COLUNISTAS

O martírio de um cão



James Pizarro

por James Pizarro em 12/01/2017
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Santa Maria – mais uma vez – ganha manchetes no país através do fogo. Desta vez, pela insanidade precoce da mente – certamente perturbada - de três adolescentes da periferia da nossa cidade. Deliberadamente, amarraram um pobre cão sobre esponjas e atearam fogo no mesmo. O pobre animal foi socorrido e levado - em lamentável estado – até a clínica da médica veterinária Marlene, conhecida protetora dos animais em nossa cidade.
Apesar de todos os cuidados recebidos, o pobre animal não resistiu ao martírio imposto e morreu. Vomitando sangue. Olhos queimados. Boca queimada. Corpo em carne viva. Detidos os adolescentes, a seção policial do jornal informa que os pais dos mesmos foram chamados. E assinaram um “termo circunstanciado e foram liberados”.
O leitor já sofreu uma singela queimadura no fogão ao preparar um alimento. Ou um respingo de água quente inadvertidamente ao servir-se de um chimarrão. E sabe muito bem como doeu.
Imagine agora um cão, animal com o corpo totalmente coberto de pelos, amarrado em cima de esponjas (material inflamável), superfície corporal totalmente em chamas...imagine as dores lancinantes que este pobre coitado deve ter sofrido!
E não venham dizer que são inocentes “crianças”, que “não sabiam o que faziam”, que “não sabem diferençar o bem do mal” e outras cantilenas do tipo. Planejaram o crime. Tramaram. Com requintes de crueldade. Basta assinar um “termo circunstanciado” e fica tudo “resolvido”?
Sou um leigo em leis, mas a Polícia, o Conselho Tutelar, as autoridades vão propiciar acompanhamento e tratamento psicológicos a esses adolescentes? Vão fiscalizar a frequência a este tratamento?
Ou simplesmente a família se comprometeu “de agora em diante” a fiscalizar melhor o comportamento dos filhos? Foram as perguntas que me fizeram na barbearia, no calçadão, na cafeteria, por emails quando leitores me sugeriram abordar este tema. As pessoas da comunidade ficam apreensivas com o que enxergam e ouvem na TV.
Todo santo dia é noticiada agressão a moradores de rua. Dezenas e dezenas de mendigos morrem em chamas nas ruas do Brasil porque adolescentes colocam fogo em suas vestes. A coisa menos valorizada que se tem no país é a vida humana.
E o mais incrível é que essas agressões, cada vez mais violentas e perversas, não raras seguidas de morte, são cometidas por menores de idade cada vez mais jovens. E que, quando presos, riem, debocham, não mostram o menor grau de arrependimento do que fizeram. Por isso, a necessidade de cortar o mal pela raiz.
As famílias têm de cuidar de sua prole e buscar auxílio. Na escola. No Conselho Tutelar. Nas faculdades de Psicologia. Na Secretaria Municipal de Ação Social. Na Promotoria Pública. Hoje, queima-se um cão. Amanhã, queima-se um ser humano. Depois de amanhã, a prisão.

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