terça-feira, 18 de julho de 2017

SALÃO VENITO : O CLIENTE ENTRA FEIO E SAI BONITO ! - James Pizarro ( crônica no Diário de Santa Maria, edição de 18.07.2017)


Há muitas décadas acompanho o nascimento e desaparecimento dos salões em nossa cidade. Entenda-se “salões” como os locais de trabalho dos barbeiros. Estes dedicados profissionais que tratam, prioritariamente, dos cabelos e barba masculinos. Falo “prioritariamente” porque existem senhoras idosas e também mocinhas que são clientes e  pedem cortes bem masculinos, curtinhos.

Lembro de dezenas de salões de Santa Maria. Um que funcionava na gare da Viação Férrea na época áurea dos ferroviários. Outro no início  da avenida Rio Banco que atendia aos viajantes  hospedados nos hotéis e pensões. Outro no Círculo Operário, perto do Bispado. Mais um em frente ao Regimento Gomes Carneiro. Outro ao lado da quadra do Atlético, na André Marques. O Salão  Lord, na Primeira  Quadra (hoje, calçadão).

Mas o mais antigo de todos, ainda em pleno funcionamento, onde vou diariamente bater papo e três vezes por semana para fazer a barba é o famoso SALÃO VENITO. Está localizado na Galeria do Comércio e atualmente os proprietários do ponto são o Roni e a Madalena.

O Salão Venito começou a funcionar em 1953 nas dependências no antigo Hotel Kroeff, localizado onde hoje está  construída a Galeria do Comércio. Mudou-se para sua segunda sede um pouco abaixo da agência central dos Correios. Até que em abril de 1962 se estabeleceu em definitivo onde está, na Galeria do Comércio. Portanto, o salão está em funcionamento há 64 anos !

Conheci dezenas de barbeiros que trabalharam no salão  entre eles o próprio Venito, falecido em 1983, era barbeiro do meu pai. Há poucos meses faleceu o Nelson, que era barbeiro do meu sogro.  Outros que também se foram : Adão, Pedro, Nei, Urias, Laudelino, Álvaro Mendonça.

A equipe atual do salão é composta por sete excelentes profissionais : Amadeo (é o decano, o mais antigo de todos), Julio, Gilmar, Clândio, Francisco, Vilmar e Eduardo (o mais novo integrante da equipe).

O primeiro a chegar todas as manhãs, responsável pela abertura do salão às 6h30, é o Clândio. Providencia na limpeza, água quente, toalhas, lâminas, térmicas e cuia para chimarrão. Porque logo cedo tem uma turma de clientes e amigos que chegam para conversar, saber das novidades do dia e saborear o chimarrão cuja erva é semanalmente rateada por todos.

O Salão Venito têm clientes de dezenas de cidades situadas ao redor de Santa Maria. Profissionais de todos os tipos cortam o cabelo e fazem sua barba ali, alguns desde o tempo em que faziam  seus curso superior quando só existia a UFSM em nossa cidade. Hoje estes mesmos clientes trazem seus filhos e netos para  continuar a tradição.

O barbeiro de certa forma é um terapeuta, um psicanalista, um psicólogo pois - dependendo da situação e do estado emocional do cliente – tem de ouvir, concordar, sugerir, aconselhar, acalmar. Muitos clientes chegam tristes. Outros têm problemas de doença na família. Outros têm problemas econômicos. Outros  estão irritados com a situação econômica, as autoridades, o governo. E o barbeiro tem de ter a palavra amiga. O gesto solidário. Uma palavra de estímulo. Um abraço fraterno. Ou até um silêncio  compreensivo se o cliente estiver de pouca conversa.


E isso tudo tem no Salão Venito !!!

Um comentário:

Unknown disse...

Moro em Goiânia. Quando eu for a Santa Maria, com certeza, incluirei uma visita ao Salão Venito. Por tudo o que foi descrito pelo prof. James, esse é o ponto certo para todos conhecerem. Parabéns!