domingo, 5 de janeiro de 2020

NO TOPO DO MORRO, UM CRIME QUE CHOCOU SANTA MARIA - James Pizarro (DIÁRIO, Caderno MIX, edição de 4.1.2020)




A imagem pode conter: 1 pessoa, atividades ao ar livreEsta é uma história triste que jamais saiu da minha cabeça por mais que eu me esforce para que isso corra. Mas basta eu olhar os morros da cidade que ela retorna num passe de mágica.
Lá pelos anos 50, quem descia a avenida Rio Branco em direção à gare da Viação Férrea, em Santa Maria, RS, olhava para o alto e contemplava enorme montanha até hoje existente.
No final da rua 7 de Setembro, que ia terminar justamente nessa montanha, foi construído o Clube Esportivo, tradicionalmente conhecido pelo nome carinhoso de "Clube do Sopé do Morro".
Quem olhasse para o topo do morro, atrás do Clube Esportivo, ia ver um pequeno chalé de madeira pintado de branco, cognominado pela população de "Casinha Branca". Nessa casinha, isolada lá em cima, vivia um casal de idosos. Eles desciam uma vez ou duas por mês, através de uma íngreme trilha no meio do mato, para fazer compras de gêneros alimentícios e remédios.
Um ou outro visitante subia lá. Naquela época – tinha eu meus 14 ou 15 anos – era escoteiro da então chamada  Tropa de Escoteiros Henrique Dias, cuja sede ficava nas dependências do então Círculo Operário, situado na esquina das ruas Silva Jardim e André Marques. Eu exercia o cargo de secretário da Patrulha da Pantera, cujo chefe era o saudoso amigo Wellington Landerdhal, jornalista da Assembléia Legislativa do RS falecido há poucos anos. E era bastante comum a subida da nossa tropa até à “Casinha Branca” para exercício físico e acampamento de alguns dias nos feriadões ou  fins-de-semana.
Certa vez, o dono do armazém onde o casal de idosos fazia suas compras, estranhou a ausência dos mesmos.  E resolveu subir  para ver o que tinha havido. Em lá chegando, encontrou o corpo já em estado de decomposição dos dois pobres velhinhos.
Diligências  feitas pela polícia logo acharam os culpados, dois marginais que trucidaram os idosos com marteladas na cabeça, crime que chocou toda a cidade. E mataram o casal para roubar alguns pertences de pouco valor  e, segundo um deles confessou, imaginavam que os idosos tivessem dinheiro escondido.
Já naquela época, há cerca de 60 anos, pessoas se retiravam para viver em paz no meio da Natureza. Na santa paz das árvores, flores e pássaros.
Mas mesmo lá, satânicas criaturas destruíram o sonho dos velhinhos a marteladas.
Mesmo depois de tanto tempo me invade uma melancolia imensa ao pensar na agonia dos dois idosos, sentindo a vida se esvair. Sob a brutalidade do ataque insano de duas mentes doentias. Olhando lá do alto, com seus olhos esmaecidos pela catarata, os milhares de pontinhos de luzes piscando na cidade. Sem que nenhum socorros lhes pudessem dar.
Luzes faiscantes como vagalumes. Que se acendiam e se apagavam.
Como a vida que estava a se escoar de seus corpos minguados.



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