quinta-feira, 7 de outubro de 2010

UM CÃO QUE DIZ DE PERTO AO MEU CORAÇÃO

Fico irritado quando falam em cão "vadio". Desses que existem às dezenas pela praia e ruas de Canasvieiras. Vadio é o dono irresponsável que o deixou na rua. Que não o esterilizou. Que jogou o filhote ao abandono.
O nome técnico é cão "errante". Que erra, isto é, que vagueia sem rumo. Sem paradeiro. Sem norte. Destino. Dono. Afeto. Que luta pela sobrevivência no inverno, na baixa temporada. Pois na ausência de turistas, os restos de comida se tornam escassos.
À noite, na época das baixas temperaturas, eles se recolhem sob as marquises. Onde são acolhidos pelos mendigos. Que também tremelicam. Perdem peso. Adquirem sua bronquite. Pneumonia. Entranhas cheias de vermes. Pelos com ectoparasitas.
Como moro a trinta metros do mar e caminho diariamente na praia, levo restos de comida para os cães. Para um deles em especial.
Parece um lobo. Lindo animal. A miséria não lhe tirou a dignidade. O porte altaneiro.
Ele espera a mim e minha mulher. Levamos a comida em sacos plásticos. Depois que ele come - e também outros comem - recolhemos os sacos e colocamos nas lixeiras. Os outros cães se vão.Passam. Cumprindo seu destino de passantes.
Mas este, em particular, costuma caminhar conosco. Faz festa. Ele não possui músculos da mímica, como os homens. Logo, não podem fingir.
Então ele sorri como pode.... sacode a cauda.
Parece um lobo. Pelo lindo, embora sujo, tem meu cão predileto.
Eu não posso trazê-lo para casa. Adotá-lo. Como seria meu desejo. Pois moro num apartamento.
Mas ele - nos enigmas tortuosos lá do seu genoma - "sente" que temos uma ligação de afeto.
Cada manhã que piso na areia vislumbro a praia em toda a sua extensão, não sem certa ansiedade. E eis que lá vem ele, como surgido do nada.
Mas já experiente na vida, sei que um dia ele não virá. Ele poderá ter partido para sua definitiva viagem espacial, rumo ao Grande Deus dos Cachorros.
E ninguém mais, a não ser eu, sentirá falta dele.
Mas também poderei eu partir antes dele. Quantos sentirão falta de mim ?
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Autor : James Pizarro

2 comentários:

Sandra disse...

Adorei que você se referiu aos cães, não como vagabundos, vadios, mas co mo errantes....Também penso assim!!!

Sandra Petersen

sueli disse...

James
tenho uma cadelinha já velhinha tem 14 anos, como moro em sobrado
ela vivia caindo nas escadas, até que parou de subir, mas pelo que ela me dá de alegriasempre carrego
no colo pra que ela possa ver a rua temos o maior cuidado com ela
e sabendo disso rs. sempre aparece um cãozinho na minha porta
a penultima é vira lata genuina rs.
levei pra casa do meu irmão é um
doce de cadela minha companheira
de trabalho, mas tbem é politica
na rua todos gostam dela, pois apesar de te-la adotado, ela tem liberdade para dar umas voltinhas
mas logo volta e fica sentada no
portão, esperando alguem abrir pra
voltar da casinha dela
ah...a última é uma pitbull que foi morar no campo, minha nora levou tem vida de rainha
agora é uma pena mas não tenho onde colocar mais os injeitados
que aparecem por aqui
fiz a minha parte