Segundo deputados, os lençóis com sangue encontrados no Recife vieram de hospitais dos EUA no Iraque e no Afeganistão.
A comissão externa criada pela Câmara dos Deputados para acompanhar a devolução do lixo hospitalar encontrado no Recife e importado dos Estados Unidos encontrou indícios de que parte dos resíduos é proveniente de hospitais militares instalados pelos norte-americanos no Iraque e no Afeganistão. A informação estará presente no relatório final do deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), previsto para ser concluído ainda neste mês. Depois de analisar os resíduos dos dois contêineres parados no Porto de Suape (PE), os deputados que compõem a comissão identificaram, em lençóis descartados, as logomarcas dos hospitais de campanhas militares dos Estados Unidos. "Todos os indícios são de que parte do lixo é proveniente do Iraque e do Afeganistão. As características são de hospitais instalados para as guerras nos dois países", disse ao Correio o relator da comissão, Protógenes Queiroz, eleito deputado depois de atuar como delegado da Polícia Federal (PF).
Em 11 de outubro, a Receita Federal apreendeu, no Porto de Suape, o primeiro dos dois contêineres. A importação foi feita por uma empresa brasileira, posteriormente multada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Lençóis manchados com sangue, seringas e luvas, entre outros resíduos hospitalares, faziam parte da carga transportada até o litoral de Pernambuco. Parte do lixo passou a ser vendida no interior do estado. O Ibama e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinaram à empresa importadora que providenciasse a devolução do lixo hospitalar, o que ainda não ocorreu. Um inquérito foi aberto pela Polícia Federal (PF) para investigar o episódio e, como os resíduos se constituem em prova pericial para descobrir a origem da carga, os dois contêineres — com 46t de lixo — continuam parados no Porto de Suape.
Diante das evidências de que parte dos resíduos é proveniente de hospitais de campanhas militares, as negociações passaram a envolver o Itamaraty e a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. A polícia federal norte-americana, o FBI, também acompanha as investigações. "A existência de roupas de cama com origem de hospitais militares de Iraque e Afeganistão surpreendeu as próprias autoridades norte-americanas. Uma equipe do FBI está no Brasil", diz o deputado Protógenes. Segundo ele, os lençóis traziam a identificação das Forças Armadas dos EUA. "O governo norte-americano foi avisado sobre isso. Do mesmo jeito que existiu um canal livre para o lixo hospitalar, pode existir para o contrabando de armas de guerra."
Queixa na ONU
O deputado afirma que a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil ainda não se posicionou à comissão externa da Câmara sobre a devolução dos contêineres. Caso ela não providencie o retorno dos resíduos, Protógenes diz que o relatório final da comissão vai pedir ao presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), que represente os Estados Unidos junto à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Organização Mundial da Saúde (OMS).
O Correio procurou o Itamaraty e a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil para saber detalhes da negociação que decide pela devolução do lixo hospitalar. O Itamaraty se limitou a informar que "a questão é tratada" e que "há negociações para um bom encaminhamento". Já a Embaixada dos Estados Unidos sustenta que os agentes do FBI e da Agência Federal Alfandegária e de Imigração (ICE, na sigla em inglês) "não identificaram nenhuma evidência de que a origem dos lençóis é de hospitais militares no Afeganistão ou no Iraque". "Os agentes enviaram um relatório sobre a investigação à PF e à alfândega. Nos Estados Unidos, FBI e ICE continuam a investigar o caso e a empresa exportadora", diz a nota enviada ao Correio.
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Fonte: Correio Braziliense / Vinicius Sassineo (Lixo com marcas da guerra - 06/12/2011).
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