terça-feira, 22 de maio de 2012

Professores da UFSC lançam a publicação ‘Mudanças Climáticas – Clima de Mudanças’

Mudanças Climáticas – Clima de Mudanças
As alterações do clima podem representar riscos para alguns e oportunidades para outros. O alerta faz parte da publicação ´Mudanças Climáticas – Clima de Mudanças`, lançada no âmbito do projeto Rede Europeia Sul-Americana para Avaliação da Mudança Climática e Estudos de Impacto na Bacia do Prata (Projeto Claris).
Os autores são Luiz Renato D´Agostini e Sandro Luis Schlindwein (professores do Departamento de Engenharia Rural da UFSC), Alfredo Celso Fantini (Departamento de Fitotecnia) e Sérgio Roberto Martins (Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental), todos integrantes do Núcleo de Estudos em Monitoramento e Avaliação Ambiental (Numavam).
Integrado à rede de pesquisa que envolve 19 institutos de nove países, o Núcleo ligado ao Centro de Ciências Agrárias da UFSC ficou responsável por estudar a adaptação aos impactos das mudanças climáticas na Bacia do Prata, além de ouvir e orientar agricultores sobre as alterações climáticas que deverão enfrentar.
Em linguagem de fácil entendimento, a publicação aborda a evolução do clima na Terra, o clima nas diferentes regiões, o registro sistemático de dados sobre quantidades de chuvas e variações de temperatura, o funcionamento da atmosfera – nosso “cobertor inteligente”, conhecimento básico para entender o aquecimento global.
Direcionado a públicos como comunidades rurais e estudantes da educação básica, o livro trata também da energia luminosa, da energia química e da energia térmica (o calor que aquece a superfície do nosso Planeta), do efeito-estufa, da influência dos humanos sobre fenômenos e alterações climáticas, das diferenças entre mudança climática, variação climática e eventos climáticos – e a mudança climática planetária, principal assunto abordado. Dedica atenção especial a uma das atividades humanas que mais será atingida pelas mudanças climáticas: a agricultura.
“A ignorância sobre o clima, assim como em outros assuntos, já trouxe sofrimento demais para muitos seres humanos. Hoje sabemos bem mais sobre tudo isso que acontece com o clima em diferentes lugares, ou mesmo em toda a Terra. Mas se não aprendermos ainda mais, pode ser que nós humanos venhamos a sofrer de novo, e até mais do que já se sofreu no passado por causa de velhos costumes da mãe Natureza”, destacam os pesquisadores na publicação.
Adaptação
A última grande mudança planetária do clima terminou há cerca de10 mil anos, lembram os autores. Foi mais ou menos no fim desta época que os mamutes, os tigres dente-de-sabre e outros animais desapareceram – provavelmente porque não conseguiram se adaptar à mudança do clima.
“Todos aqueles que não se adaptam ao clima onde vivem desaparecem. É importante nos lembrarmos sempre disso. Não para viver em um clima de medo, mas para despertar em nós um clima de atenção”, ressaltam os professores, que dedicam diversas páginas ao tema adaptação.
A equipe defende a necessidade de estudos sobre estratégias de adaptação ao clima que muda. Mas, ressalta, é preciso ter cuidado com o que se entende por adaptação, porque o seu resultado também pode ser ruim. Para ilustrar esse problema, os professores usam a metáfora do sapo que lentamente vai se adaptando à água cada vez mais quente em uma panela, até morrer cozido, já que quando pretende reagir não é mais possível.
“Vivemos um dilema, pois o processo é lento e esperar muito pode significar não conseguir reagir”, reforça o professor Sandro Luis Schlindwein, coordenador do Projeto Claris no Numavam/UFSC.
Ele lembra que no início do projeto, em 2008, além de apresentar um diagnóstico da situação do clima, e trabalhar com a projeção das mudanças climáticas para as próximas décadas, a Rede Europeia Sul-Americana para Avaliação da Mudança Climática e Estudos de Impacto na Bacia do Prata tinha como expectativa poder apontar estratégias de adaptação para a região. Na equipe de mais de 150 pesquisadores o Núcleo da UFSC ficou encarregado de estudar essas estratégias de adaptação e, entre outras pesquisas, três dissertações foram direcionadas a analisar a percepção de pequenos produtores rurais do extremo oeste de Santa Catarina e de agricultores cooperados no Rio Grande do Sul sobre as mudanças climáticas. Assim como outras experiências, estes estudos provocaram mudanças na visão inicial (se não de toda equipe, mas de diversos pesquisadores integrados à Rede, considera Schlindwein).
“Desenvolver estratégias de adaptação é muito mais difícil do que se pensava, pois a percepção sobre as mudanças climáticas é complexa. As pessoas percebem mais a variabilidade do clima, dizem por exemplo que o sol parece mais quente, mas a percepção depende do contexto onde se dá o fenômeno”, explica o professor.
Oportunidades
Diante da complexidade do assunto, da dificuldade em lidar com diferentes percepções e de determinar objetivamente a vulnerabilidade à mudança climática, ao invés de propor estratégias de adaptação, a equipe desenvolveu um quadro conceitual (um framework) que pode auxiliar nesse processo. O dispositivo tem como objetivo ajudar no desenvolvimento de estratégias de adaptação a partir da caracterização do estado atual do sistema de interesse e de sua vulnerabilidade, pela identificação de ameaças e da percepção de riscos, entre outros pontos, em um ciclo contínuo de aprendizagem sobre a situação.
“A adaptação pode ser mais complexa do que a mitigação, que envolve ações como a redução das emissões de gases de efeito estufa. A adaptação é uma reação à mudança e não é possível generalizar estas reações”, ressalta Sandro, lembrando que iniciativas com esse objetivo têm relação com aprendizagem e a consciência de que a problemática climática precisa ser tratada de forma sistêmica (o que implica levar em conta que interesses estão em jogo, quais as implicações das escolhas feitas, quem vai se apropriar das oportunidades, entre outras questões).
Na visão dos pesquisadores, ter uma estratégia de adaptação às alterações do clima é ter um plano, é saber ou imaginar quais as atitudes seriam mais adequadas para continuar a viver bem, mesmo que o clima mude muito. “Precisamos encontrar formas criativas de o poder público orientar e regular as adaptações. Do contrário pode acontecer uma adaptação baseada somente no poder econômico, no dinheiro. Seriam mais apropriações de oportunidades pelos mais ricos do que cuidar que continuem a existir oportunidades para todos produzirem”, preocupam-se os autores.
No mês de setembro, os pesquisadores da rede ser reúnem no Uruguai para compartilhar experiências e resultados. “Não queremos passar uma imagem catastrófica. Nossa postura é de esperança, de aprender a mudar, de oportunidade de pensar e agir diferente, em clima de mudança”, adianta Schlindwein.
Mais informações com o professor Sandro Luis Schlindwein / Departamento de Engenharia Rural (48) 3721-5434 / (48) 3721-5482
Por Arley Reis / Jornalista da Agecom
Saiba Mais
Projeto Claris
A Rede Europeia Sul-Americana para Avaliação da Mudança Climática e Estudos de Impacto na Bacia do Prata é coordenada pelo Institut de Recheche pour le Développment (IRD), com sede em Paris, e tem envolvimento de 19 institutos de pesquisa de nove países. No Brasil, além da UFSC, participam a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O financiamento do estudo, no valor de 3,5 milhões de euros, é da Comissão Europeia.
A Bacia do Prata
Quinta maior do mundo, a Bacia do Prata tem grande importância para a agricultura e geração de energia hídrica na América do Sul. Regiões do Brasil, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai fazem parte de sua área de abrangência, que engloba os rios Paraná, Paraguai e Uruguai, além do rio da Prata, com delta entre Uruguai e Argentina. A área agrícola nesta região tem se ampliado nas últimas décadas com a pressão da demanda mundial por alimentos e biocombustíveis. Dezessete por cento de sua área está na América do Sul e 63% da superfície de Santa Catarina está em seu no interior. No Estado a Bacia do Prata abarca os rios que correm na direção oeste – Pelotas/Uruguai, Canoas, do Peixe e Chapecó, entre outros.

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FONTE : UFSC
EcoDebate, 22/05/2012

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