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Este artigo foi publicado no jornal DIÁRIO DE SANTA MARIA, edição de 5/abril/2010, página 4 (JAMES PIZARRO,Professor aposentado e associado à Seção Sindical dos Docentes da UFSM -Sedufsm
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Estive vereador em Santa Maria na legislatura 1988/1992, quando Evandro Behr foi prefeito municipal. Sempre me chamou atenção o grande número de atropelamentos nas paradas de ônibus quando os mesmos acabavam de estacionar. Falei com técnicos, com policiais, pesquisei, entrei em contato com prefeituras de outras cidades. E todos me diziam que uma das razões principais era o fato de a porta de saída para os passageiros ser a da frente, pois os mesmos desembarcavam e tentavam atravessar a rua pelo lado dianteiro do ônibus.
Naquela época, apenas duas cidades no Brasil tinham a entrada dos passageiros pela porta da frente do ônibus: Brasília e Curitiba. Em Curitiba, eu havia residido alguns anos antes para fazer minha especialização e presenciei essa mudança.
Munido da maior boa vontade, elaborei e apresentei um minucioso projeto de lei em 1990, que levou o número 4.100, com a seguinte ementa: “Estabelece a porta dianteira do ônibus como entrada e a porta traseira como saída e dá outras providências”. O projeto ganhou grande espaço na mídia local e tive a oportunidade de apresentar mapas, estatísticas etc na televisão. A maioria da população se mostrou favorável, por meio de sindicatos, associações de bairros e estudantes.
No entanto, os empresários e os proprietários das empresas de ônibus (eram cinco empresas àquela época) moveram tenaz combate contra a aprovação do projeto, alegando gastos, perda de tempo etc. Eu presenciei uma comissão desses empresários visitando os gabinetes dos outros vereadores pedindo que votassem contra o mesmo quando fosse a plenário. Um dos vereadores mais chegados a mim disse, claramente: “Pizarro, a pressão empresarial é muito grande e teu projeto vai receber o voto só teu. Acho melhor tu fazer a retirada do projeto de pauta e deixar para outra oportunidade”.
Esse foi um dos capítulos que mais me entristeceu enquanto estive vereador. Porque eu percebi na prática o que significava sociedade de consumo de feroz mundo capitalista. O que menos interessava e menos se discutia era poupar vidas nos atropelamentos. Mas fico feliz que agora, 20 anos depois, a ideia vai ser executada, mesmo que com um "leve" atraso de duas décadas.
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