quinta-feira, 18 de agosto de 2016

ELKE, A MARAVILHOSA - James Pizarro (jornal A RAZÃO, 18/8/2016)


COLUNISTAS

Elke, a Maravilhosa


James Pizarro

por James Pizarro em 18/08/2016
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Formou-se em Letras. Foi professora. Tradutora. Intérprete. Era poliglota. Falava português , russo, alemão, italiano, espanhol, francês, inglês, grego e latim. Casou oito vezes. Seu grande amor foi um saxofonista brasileiro afrodescendente. Participou de três dezenas de filmes, entre os quais “Xica da Silva” e “Pixote, a lei do mais fraco”. Fez dez peças de teatro.
A partir de 1960 passou a atuar como modelo. Atendia pelo nome de Georgvnievia . Nascida russa. Filha de pai russo e mãe alemã. Mas se tornou uma figura realmente popular em todo o Brasil pela sua participação como jurada de programas de calouros, especialmente nos programas do Chacrinha e Silvio Santos. Surge, então, no cenário artístico nacional, a figura única da alegre, excêntrica, personalíssima de ELKE MARAVILHA !
Usando roupas especiais, coloridas, extravagantes, bizarras para a sua época - criadas por ela mesma – com adereços chamativos, Elke era a imagem da própria alegria e deslumbramento pela vida. O que mais me fascinava nela era a sinceridade e a honestidade com que expunha suas ideias e opiniões nas entrevistas para a mídia. Não raro, suas opiniões produziam polêmica com o falso moralismo vigente nos sempre eternos puritanos de plantão.
Lembro especificamente de duas entrevistas que causaram furor à época, cerca de trinta anos atrás. Em uma delas, Elke falava que já tinha experimentado diversos tipos de drogas, mas não tinha gostado de nenhuma. Em outra, Elke falava que não tinha vocação para ser mãe e que s por isso tinha feito três abortos. ´
Estas opiniões desassombradas para a época lhe custaram muitos incômodos, artigos raivosos pela imprensa, ameaças de processos e ameaças de demissão nas TVs onde trabalhava. Chacrinha sempre a defendeu com unhas e dentes, pois eram amigos verdadeiros.
Nunca teve papas na língua. E por isso também teve problemas com a Lei de Segurança Nacional, pois em 1971 foi presa e teve sua cidadania brasileira cassada. Anos depois obteve cidadania alemã.
Na madrugada do dia 16 de agosto, Elke Maravilha nos deixou. Aos 71 anos, partiu para sua definitiva viagem espacial. Rumo às estrelas. Onde vai emprestar seu brilho e sua purpurina à Via Láctea. Onde certamente – à frente da comitiva de tantos outros artistas que já partiram - estará Chacrinha, de braços abertos, para um abraço eterno. Adeus, Elke ! Você foi nossa última e talentosa transgressora!

Um comentário:

Gigi disse...

Admirável, esclarecedora crônica. Não sabia que Elke era tudo isso. Falava português , russo, alemão, italiano, espanhol, francês, inglês, grego e latim!
Cumprimentos ao cronista e, lá no além, à Elke.
Luiz