quinta-feira, 29 de julho de 2010

l988/1992 : QUANDO "ESTIVE" VEREADOR...

Enquanto radialista, produtor e apresentador do primeiro programa radiofônico de educação ecológica da radiofonia brasileira - "ANTES QUE A NATUREZA MORRA" - levado ao ar durante 26 anos pela Rádio Universidade (Santa Maria), fiz campanha contra a extração ilegal de areia das margens do chamado "Rio Verde". De fato, durante as décadas de 60/70/80 batalhei duramente contra a destruição da vegetação ribeirinha, das matas de galeria, o assoreamento do rio, etc...por mais de meia centena de areeiras ali instaladas. As mesmas feriam abertamente o disposto no Código Florestal em vigor no Brasil e praticamente nada se fazia contra as mesmas. Posteriormente, eleito vereador (legislatura 1988-1992) com um programa totalmente ecológico, sob o título de "O Guerreiro da Natureza", fiz do meu mandato uma trincheira de dura luta contra os agressores ambientais de qualquer tipo. Naquela legislatura, por força de dispositivo nacional, a Câmara de Vereadores discutiu, redigiu e aprovou a nova Lei Orgânica do Município de Santa Maria, que nada mais é do que a constituição municipal. Consegui, com o apoio dos demais vereadores, a inclusão de um capítulo inteiro somente sobre meio ambiente na carta magna municipal, o que foi uma novidade para os municípios gaúchos. Tanto é verdade que diversas palestras fiz em outras cidades gaúchas e mesmo fora do RS (Olinda, Florianópolis, Recife,etc...) sobre o teor deste capítulo ecológico. À época em que "estive" vereador, as denúncias que fiz contra a situação ilegal das areeiras obteve um notável aliado, que foi o promotor público daquele período (1984-1992). Por ação das denúncias da tribuna da câmara municipal e por apoio total da Promotoria Pública, veio a Santa Maria uma comissão técnica e jurídica do então IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal). Fizeram as inspeções, visitas e, finalmente, determinaram o fechamento das areeiras, até que as mesmas passassem a cumprir os dispositivos legais constantes no Código Florestal. Estipularam, inclusive, datas/prazos e pesadas multas para quem descumprisse o acertado. Evidente que comecei a sofrer represálias, que variaram desde vaias estrepitosas nas sessões da Câmara de Vereadores até ameaças na calada da noite, feitas por telefonemas anônimos contra minha minha pessoa e familiares. Denunciei as ameças ao Poder Judiciário e à Policia Civil, tornando público as mesmas pela tribuna e pela mídia local. Em certas sessões da Câmara, as galerias eram ocupadas por duas facções. Metade do público era constituído pelos estudantes universitários, estudantes do ensino médio, entidades ecologistas e simpatizantes da defesa do "Verde". A outra metade, era constituída pelos proprietários das areeiras, e seus empregados e familiares, cujo porta-voz e defensor entre os vereadores era o médico-veterinário José Manoel da Silveira, infelizmente falecido num desastre de automóvel em Goiás. Ele era meu amigo particular, a quem eu chamava carinhosamente de "Zé Manoel" e nossas discussões, por vezes violentíssimas, ficavam restritas ao plenário. Antes mesmo de descermos ao plenário, ele passava no meu gabinete, no primeiro andar, e me dizia : "Te prepara gordinho...que vou te meter o pau hoje porque o plenário tá cheio de areeiros". Eu apenas sorria e dizia : "Obrigado, Excelência". Depois das reuniões, a gente costumava ir ao melhor restaurante que essa cidade já teve em propostas gastronômicas e de ambiente, o saudoso "Fritz Krug", situado na rua Tuiuti, atrás do Itaimbé Palace Hotel. Estávamos lá, eu e o Zé Manoel, saboreando salsichas bock, com mostarda picante e chope, quando passavam pela nossa mesa pessoas que tinham assistido a sessão. Certa vez, tivemos de ouvir isso : "Esses vereadores são sem-vergonhas mesmo, quase se agarram a pau na sessão, entusiasmam meio mundo e depois vem tomar chope juntos ! " A mediocridade de certas pessoas da cidade não conseguia entender que "adversário" de idéias não é sinônimo de "inimigo" pessoal...Como as areeiras tiveram suas atividades suspensas durante quase 90 dias, é evidente que isso feriu interesses financeiros, particulares, pessoais, políticos. E a areia tinha de ser importada de outras cidades. O próprio prefeito da época, engenheiro Evandro Behr (que foi um ótimo prefeito, a meu juízo), dava entrevistas e me espinafrava : " O povo tá pagando caro pela areia e o único culpado é o vereador Pizarro, defensor de plantinhas e bichinhos". Máquinas extratoras de areia, tratores de elevada potência e de último tipo, começaram a tirar areia a apenas alguns metros das pilastras da recentemente construída ponte do Rio Verde. Denunciei o fato, levei a reportagem no jornal "in loco". Na edição do dia seguinte, A RAZÃO estampou como manchete :"Vereador denuncia : ponte do Verde vai ruir no futuro". Meus Deus do céu ! Meus adversários foram para as rádios e pediram minha cassação. Outros sugeriram minha internação no Hospital Psiquiátrico. Fui acusado de adepto do catastrofismo, de histérico. Pouco mais de dez anos depois, o vão central da ponte - conforme eu vaticinara - ruiu, causando enormes prejuízos à região toda por quase um ano, tempo que durou a reconstrução do vão da ponte.Em 1992, ano em que tentei a reeleição, sem dinheiro algum para bancar os gastos duma campanha dura, enfrentei uma feroz campanha de difamação, calúnia e perseguição patrocinada por pessoas que se sentiram lesadas pela minha ação contra a situação ilegal das areeiras naquela época. Algumas dessas pessoas já faleceram, razão pela qual - seguindo meu código pessoal - não lhes cito o nome. Perdi a reeleição por apenas 16 votos, ficando na primeira suplência. Tal fato me desgostou profundamente e, compelido pela esposa e filhos, abandonei definitivamente as atividades político-partidárias. Mas valeu a luta. Pois houve uma conscientização maior da cidade para os temas ecológicos. Eu fiz a minha parte. Está tudo documentado. Paguei um preço caro em incômodos e desgastes pessoais. Mas valeu a pena. Tenho coisas para contar a meus cinco netos.Agora, me assaltam algumas dúvidas... Existem planos de preservação atualmente ? A fiscalização existe com maior intensidade,passados 20 anos ? As margens do Verde foram reflorestadas ? O assoreamento do rio diminuiu ? Quantas pessoas pensam nisso hoje em Santa Maria, entre populares, políticos e autoridades em geral ? Existem ativistas da causa ecológica ainda em Santa Maria ? Onde estão aqueles que dão a cara pra bater ?
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AUTOR : James Pizarro

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