quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

SUCATA HUMANA - jornal A RAZÃO (edição de 7/12/2016)


COLUNISTAS

Sucata humana


James Pizarro

por James Pizarro em 07/12/2016
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Que os planos de saúde colocam mil obstáculos para fazer contratos com idosos, eu estava cansado de saber. Que eles priorizam contratação de planos com jovens, isso também era sabido. Que cobram mensalidades escorchantes e com período de carência estapafúrdios dos idosos, também é realidade.
Mas uma coisa beira ao sadismo: quando um idoso tem condições e aceita as exigências da “empresa”, paga religiosamente em dia, cumpre o período de carência, mesmo assim quando surge a necessidade de uma cirurgia, por exemplo, certos planos postergam a realização da mesma até que uma reunião de médicos decida pela autorização do procedimento.
Os corretores que vendem os planos de saúde têm ordem expressa de evitar a venda de planos para idosos, o que causa aos mesmos uma situação constrangedora. Mesmo assim, muitos efetuavam estes contratos. Os vendedores normalmente ganham de remuneração a primeira mensalidade do contrato que fazem.
Li nos jornais que, para desestimular a venda do plano para idosos, algumas empresas tomaram a providência nojenta de não pagar nenhuma taxa para o corretor quando o contratante é idoso.
Que país é este que trata seus velhos como sucata? Um idoso agora é tratado como uma laranja que não tem mais suco, que virou bagaço? Virou uma caneta esferográfica que perdeu a carga? Uma lâmpada fluorescente que não brilha mais e começa a tremer? Depois de dar uma vida inteira em prol da construção do país, de educar e formar filhos, de lutar pelo patrimônio da família...ele é tratado assim?
Onde estão os clubes da terceira idade que não vão para as ruas e paralisam o trânsito, berrando com a voz tremida e arfante, pelos seus direitos? Onde estão os políticos asquerosos que só pensam aumentar seus salários e não têm a mínima piedade para com esses homens e mulheres de cabelos brancos que merecem um final de vida digno?
Onde estão os jovens estudantes universitários, as lindas meninas das praias, a meninada que se entope de álcool e tédio nas baladas? Pensam que não vão envelhecer? Onde está este nosso povo de vocação galinácea, que toma no rabo e sai cantando, pedindo desculpas ainda por ter ficado de costas? Onde estão todos? Escondidos atrás de seu comodismo? Protegidos em seus carros blindados? Escondidos em seus apartamentos de cobertura? Vivendo uma vida de faz-de-conta que é vida? Onde estão vocês, seus m*?
*Colaborações assinadas não necessariamente manifestam a opinião do jornal A Razão

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