quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A MULHER NUA - James PIZARRO (A RAZÃO, edição de 9/2/2017)

A MULHER NUA

James Pizarro – professor

A semana oferece uma infinidade de assuntos ao cronista distraído. Que poderia escrever sobre o ódio político destilado nas redes  sociais nos últimos dias. Ou sobre o clima de desobediência civil no estado do Espírito Santo que corre o risco de se alastrar pelo país. Ou sobre a irresponsabilidade dos políticos do Executivo que – alheios à anarquia geral – discutem ocupação de cargos em Brasília.

Mas vou tocar num assunto local. Num fenômeno que está ocorrendo à luz do dia. Em pleno centro da cidade. No centro nevrálgico de Santa Maria. Tracem uma linha imaginária reunindo o prédio da Câmara de Vereadores, Catedral Arquidiocesana, praça Saldanha Marinho,  o prédio da SUCEVÊ (onde funcionou até poucos dias o gabinete do prefeito)e o prédio do Banco do Brasil. Teremos ai  aproximadamente um quadrilátero na zona central da cidade.

Pois exatamente no centro deste quadrilátero, em frente à Catedral  Arquidiocesana, no “boulevard” central da avenida rio Branco há uma torneira. E ali, todas as manhãs, uma mulher – aparentando uns 30 ou 35 anos – faz sua higiene íntima. Alheia aos transeuntes, às vezes tira a blusa e fica com os seios a mostra. Mas rigorosamente baixa as calças compridas, tira as calcinhas e demoradamente  - munida de panos  e sabonete – lava a genitália, ventre e coxas por cerca de quinze minutos. A cena, que se repete diariamente, já foi filmada e o vídeo roda pela internet e redes sociais.

O leitor mais apressado não me julgue . E nem de longe pense que estou a escrever  munido de moralismo de cueca por causa da nudez da moça. Que aparenta ter problemas mentais, inclusive. Não faz e nunca fez meu gênero bancar o moralista. O que me preocupa é a integridade física da moça. A saúde dela.  Fatalmente – deixada assim abandonada pelas ruas – acabará sendo currada, estuprada. Acabará grávida. Doente. Se amanhã ou depois não aparecer morta.

Eu vi as centenas de pessoas que por ali passavam. Cumprindo seu destino de passar. Maioria fazendo de conta que não viam aquela moça nua.  Senhoras “piedosas” que saiam da igreja balançando a cabeça em sinal de reprovação.  Alguns guris fazendo piadas. Outros adultos com olhares disfarçados mal reprimindo sua libido.

Lembrei de minhas alunas, minhas filhas e netas. Dei alguns telefonemas quando cheguei em casa para ver em que podia ajudar. Lamentavelmente fui  informado pelos órgãos competentes que a pessoa só pode ser removida da rua se ela permitir, isto é, não pode ser retirada à força e internada se não quiser. Então, numa última tentativa, escrevo esta crônica.

O motorista de taxi me disse que qualquer dia a moça entrará nua na catedral para assistir uma missa.  Já que os homens não encontram solução para esta pobre irmã nossa, quem sabe Jesus Cristo, na sua infinita misericórdia, não dá um jeito ?

Seria um espetáculo a bofetada na hipocrisia da cidade !!!

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