quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

HISTÓRIAS DO CALÇADÃO - James Pizarro (Jornal A RAZÃO - edição de 16/02/2017)

HISTÓRIAS DO CALÇADÃO

James Pizarro  -  professor

HISTÓRIA UM - Dia desses estava eu na cafeteria lendo um jornal. E sem querer ouvi parte da conversa de um cidadão. Ele estava se queixando da vida:

"- Tou velho, não tenho mulher nem filhos...a solidão é fogo ! "

Mas antes de dizer isso eu ouvi ele falar, em tom de orgulho,que tinha namorado dezenas de mulheres...tinha ficado noivo não sei quantas vezes...se juntado com não sei quantas. Estava visivelmente deprimido. Ele contava ao amigo que - pela primeira vez - ao tentar se aproximar duma jovem de 20 anos, a guria lascou na cara dele :

"- Ah, tio...vai procurar a tua turma...quem gosta de velho é reumatismo."

O amigo, num rasgo de sabedoria popular disse a ele :

"- Estás colhendo o que semeaste...pedra que muito rola não cria limo..."

Paguei meu cafezinho. E sai da cafeteria calmamente. Feliz por ter endereço para voltar. E por ter a companhia de uma grande mulher.

HISTÓRIA DOIS - Funcionária exemplar. Dedicada à velha mãe. Adepta do Apostolado da Oração. Vivia para o trabalho. A igreja. E para cuidar da mãe idosa e doente. De repente, a vida iluminou-se. Encontrou um namorado. Sério. Educado. Gentil. Homem que revolucionou sua vida. Que a fez mudar de estilo de roupas. Visão de mundo. Prazer em viver. Belo dia, instalou-se nela a depressão. Melancolia extrema. Silêncio. A colega mais curiosa perguntou-lhe se o namorado tinha falado em casamento. Ela respondeu :

- Sim.

E completou :

- Falou que era ...casado !!!

HISTÓRIA TRÊS - Semana passada assinei um documento no cartório. A moça, desconfiada,  me fez assinar de novo porque disse que minha assinatura  está mudando, está diferente. Durante quase meio século usei apenas giz no quadro, máquina de escrever e computador. Eu me dei conta que não uso mais a caligrafia, a letra cursiva, as provas em papel almaço ou papel ofício, os bilhetes de amor. Tudo ficou automatizado.

Como serão as bibliotecas do futuro ? E se um dia todos os computadores do mundo forem atacados por um vírus xiita e apagar rigorosamente TUDO que está arquivado.  Como meus bisnetos aprenderão a escrever ?

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