O Prado Veppo (pai) era médico psiquiatra, poeta, intelectual, vasta cultura geral. Era meu padrinho de casamento e meu grande amigo. Companheiro de papos quase diários durante quase 40 anos.
Eu vivia importunando ele pra conhecer o hospital psiquiátrico por dentro. Um dia, ele me disse :
- É hoje a tua visita. Vens comigo. Não pergunta nada, apenas me acompanha e faz tuas observações.
Pela primeira vez adentrei ao HP da UFSM. Fiquei sabendo da divisão em duas alas. A ala do SERDEQUIM, onde ficam os dependentes químicos. E a ala Paulo Guedes, onde ficam internados os pacientes que tem transtornos psiquiátricos.
À medida que os guardas íam fechando as portas e a gente avançava nos corredores, confesso que fiquei preocupado e meio arrependido da minha curiosidade. Chegamos numa sala de estar, onde ficava uma espécie de balcão da Ala Paulo Guedes e o Veppo me disse :
- Ficas aqui,enquanto eu atendo meus pacientes.
Fiquei olhando, através das das janelas com grades, a paisagem do campus que ficava para o lado da Base Aérea. Era uma manhã nublada, cinzenta, melancólica. Estava perdido em minhas elocubrações, quando uma mão me toca o ombro direito e me faz levar um susto. Viro rapidamente e dou de cara com um velho professor meu, abraçado a um grosso livro de capa dura e vermelha, cujo autor li de relance : Eça de Queiroz.
Muito sizudo de olhar fixo,o velho professor me indagou :
- O senhor também está internado por aqui ?
Sem saber o que dizer e para ser solidário, meio puxando conversa, respondi candidamente :
- Ainda não !
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