No dia 15 de maio de 2013, às 7,30h, estavamos eu e minha mulher no Cemitério Municipal de Santa Maria. Tínhamos a missão de tirar os ossos da minha saudosa sogra - Edith Grau Souza - e colocar os mesmos no túmulo do meu sogro, Braulio Araujo Souza. Era um desejo manifestado em vida pela minha sogra e uma promessa assumida pela minha mulher. Não havíamos feito antes porque não haviam passado os cinco anos previstos em lei para estes casos.
Quando o funcionário colocou os ossos de minha sogra no saco de plástico negro, eu estranhei o pequeno volume. E para puxar conversa, comentei isso com ele. Ele foi sintético e, distraído, disse:
- São poucos ossos...
Depois de cumprida a tarefa por 3 funcionários do cemitério e das taxas pagas, rezamos pela alma de ambos e resolvemos dar uma volta pelo cemitério. Registro aqui a gentileza e carinho dos funcionários municipais da secretaria do cemitério, fato surpreendente nos dias que correm nas repartições públicas brasileiras. Foi surpreendente o número de túmulos encontrados de pessoas que não sabíamos que haviam morrido, uma vez que moramos em Florianópolis já há mais de cinco anos. Fotografei grande número de túmulos por possuirem obras de arte em mármore e bronze. Fazem parte da chamada "arte cemiterial", pouca divulgada.
Mas o que mais me espantou foi um estranho cheiro que pairava no ar em certa zona do cemitério. Indaguei um dos funcionários que varria o local sobre a procedência daquele odor. Ele, candidamente, me respondeu :
- É o cheiro da morte.
Olhei para minha mulher e sem compreender direito, pedi informações a ele. Deu detalhes que, para não ferir suscetibilidades, deixo de registrar. Apenas resumo tudo afirmando numa só frase a explicação dele :
- Transladaram um corpo que ainda estava em putrefação.
O dia estava sombrio. Prenúncio de chuva. Saí de lá pensando muita coisa sobre a natureza humana. Vaidade dos homens. Traições para subir na vida. Brigas por heranças. Busca desesperada por cargos e poder. Avarentos que amealham. Ricos que concentram capital e vivem uma vida de pobre. Tudo para se ficar reduzido a "poucos ossos". E depois a pó...
Abracei minha mulher, que estava visivelmente emocionada. Saímos do cemitério.
Mais uma vez firmei minha convicção antiga : quero ser cremado. Não gostaria de ter túmulo. Se morrer em Santa Maria, gostaria de ter as cinzas esparramadas pelos morros, onde tantas vezes subi quando escoteiro. Se morrer em Florianópolis, gostaria de ter as cinzas largadas diretamente no tranquilo mar de Canasvieiras.
Para a alegria das tainhas e anchovas.
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