Pontífice pediu coragem na luta contra o tráfico, pois a descriminalização não “conseguirá reduzir a propagação e a influência da dependência química”.
Rio de Janeiro (AFP) – O papa Francisco descartou a “descriminalização do consumo de drogas” durante encontro com dependentes químicos em tratamento na quarta-feira 24 num hospital franciscano da Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro.
O pontífice também pediu coragem para a luta contra o tráfico de drogas, atividade que já matou dezenas de milhares na América Latina nos últimos anos. “Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a propagação e a influência da dependência química”, disse o primeiro papa latino-americano da história.
“A chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e semeia dor e morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem”, acrescentou Francisco, ao fazer uma referência implícita aos confrontos ligados ao tráfico de drogas.
“É preciso enfrentar os problemas que estão na raiz de seu uso, promovendo uma maior justiça, educando os jovens nos valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança no futuro”, disse sem dar mais explicações.
O presidente da Guatemala, Otto Pérez, e os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (Brasil), Vicente Fox e Ernesto Zedillo (México) e César Gaviria (Colômbia) promovem uma mudança de estratégia na guerra contra as drogas lançada há quatro décadas pelos Estados Unidos, e defendem sua descriminalização.
O presidente do Uruguai, José Mujica, já propôs descriminalização da maconha no país, e o projeto conta com os votos necessários para a aprovação do projeto, apesar do posicionamento contrário da oposição.
O Brasil, país com maior número de católicos do mundo, é considerado o primeiro consumidor mundial de crack, com um milhão de consumidores, segundo estudo da Universidade Federal de São Paulo.
Durante a cerimônia desta quarta-feira, o pontífice abençoou uma placa de inauguração da nova ala de reabilitação para dependentes químicos do Hospital São Francisco de Assis, administrado pelos franciscanos desde 2011. A previsão é de que o local conte com 80 leitos.
A visita do Papa ao hospital aconteceu durante sua viagem ao Rio de Janeiro, uma cidade que luta há décadas contra o tráfico. Desde 2008, as autoridades iniciaram a ocupação de dezenas de favelas dominadas por traficantes, como parte da preparação da cidade para a Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.
Nesta quinta-feira Francisco deverá visitar a favela da Varginha.
* Publicado originalmente no site da AFP e retirado do site Carta Capital.
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