terça-feira, 16 de julho de 2013

PESCA, AGRICULTURA E COMÉRCIO NO NORTE DA ILHA‏ *

* Edição de Julho 2013 do JORNAL FLORIPA NORTE.
Distribuição em todo Norte da Ilha de Canta Catarina.
Por José Luiz Sardá
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PESCA, AGRICULTURA E COMÉRCIO NO NORTE DA ILHA

Sobre a pesca, agricultura e comércio em Canasvieiras Virgílio Várzea cita no livro: Santa Catarina, a Ilha 1900, “que a pesca é aí muito farta também e de todas as freguesias da Ilha esta é, por sem dúvida, a que possui maior número de redes... “que as terras de Canavieiras são ubérrimas e nelas se cultivam a mandioca, a cana, o feijão, o milho, o algodão, a videira e o café, que, insignificante há vinte anos, constitui hoje a sua principal produção”... “que havia então certo número de canoas de voga de quatro e seis remos, da lotação de 100 a 200 alqueires — pertencentes na maior parte ao velho Areias — singrando constantemente, abarrotadas de carga, entre a capital e Canavieiras (estas mercadorias eram levadas dentro destas enormes canoas ao longo do Rio Papaquara que na época possuía calado alto)... “a Venda dos Areias tomou o nome de um velho português que aí residiu muitos anos, com uma dessas casas de negócio da roça onde se vende toda espécie de artigos e gêneros”.

Fico a imaginar as manhãs frias de inverno, nas primeiras décadas do século passado, período da pesca da tainha quando os pescadores de Canasvieiras e localidades vizinhas deixavam os afazeres de lavoura a cargo das mulheres, seguindo direção aos diversos ranchos de pesca da orla da praia de Canasvieiras. As mulheres em casa cuidando da lida doméstica. Muitas delas fazendo renda de bilros. Além do trabalho de rendeiras, colhiam, pilavam e torravam café. Atualmente são poucas nativas que sabem fazer renda de bilros. Para chegar à praia, percorriam diversos caminhos que ligavam a freguesia. Uns seguiam pelo caminho do Rei, atual José Bahia Bittencourt, ou Chico Helena que levava até a Praia da Galega, da Pinguela, das Flores e do Balneário, Milton Leite da Costa.

Para a pesca, vinham pescadores das freguesias de Ratones, Vargem Pequena, Vargem do Bom Jesus, Vargem Grande e Cachoeira do Bom Jesus. Os donos dos ranchos de pesca eram nativos de famílias tradicionais, a saber: Vida, Evaldo Brasil, Nicanor dos Santos, Manoel Sardá, Joaquim da Ilhota, Zilico, Joca Rufino, João Firme, Timóteo Siqueira, Deca do Belo, Dezinho Pacheco, Leôncio e Manoel Schoroeder.
O vigia da pesca de arrastão tinha de ser um pescador com boa visão e experiência. A missão do vigia era avistar o cardume, observar a mudança de coloração d’água para vermelho escuro ou roxo e o saltar alto do peixe. Abanando um chapéu ou casaco, alertava outros pescadores que ficavam junto à praia, na espera de lançar a rede ao mar. Inicia-se o cerco, um deles na praia segura o cabo da rede e a canoa começa a descrever um semicírculo. Dentro dela vai o patrão, quatro remadores e o chumbelero e em cadência a rede é jogada ao mar, retornando na outra ponta. A função do patrão é soltar a rede dando equilíbrio à canoa na medida seguindo mar adentro. Ao retorno da canoa, uma extremidade do cabo é amarrado num dos bancos e o chumbelero dá equilíbrio à embarcação.
Em terra os camaradas aflitos esperam a ordem para começar a puxar a rede com força e cuidado, a rede é deixada na areia e recolhida ao final do arrastão. Terminado o arrastão é realizada a partilha do pescado. A metade fica para o dono da rede, a outra fica para os pescadores. Aquele que dirige a canoa ganha quatro quinhões, o patrão ganha três, sendo da porcentagem dos camaradas e a do dono da rede. O remador ganha dois e os camaradas ganham um. Naquela época a fartura era tanta que ninguém voltava para casa de mãos vazias. O dono da rede sempre dava tainhas para os amigos e parentes dos pescadores.

Hoje a escassez deste peixe é uma constante. Atualmente na praia de Canasvieiras restam apenas três ranchos. Um pertence à Associação de Pescadores de Canasvieiras, que foi fundada em abril de 2005, cujo objetivo é preservar a tradição e a cultura da pesca artesanal. Outros são de nativos, que servem para a guarda dos apetrechos de pesca e esporádicas incursões ao mar.

A partir da década de trinta começam a ser construído um novo modelo de engenho; o de mastro ou rolete. Esses engenhos eram feitos na ilha, por exímios carpinteiros. Nesta época existiam na Freguesia de Canasvieiras quatro engenhos de farinha, todos pertencentes a famílias tradicionais desta localidade: do Timóteo Siqueira, Sergio Souza, Marciano Barcelos e Severo Vieira. Geralmente anexo a estes engenhos havia outras engenhocas: de alambique, outra para descascar arroz, socar milho, para pilão de café e o tear. Dos engenhos que ainda restam no norte da ilha à maioria é movido à eletricidade. Atualmente não temos mais engenhos de farinha em Canasvieiras. Nesta operação toda a família era envolvida, incluindo as crianças.
Naquele tempo os agricultores e pescadores trabalhavam muito, mas sempre quem ficava com o lucro eram os proprietários das canoas de pesca. Os atravessadores tinham caminhões para transportar as mercadorias até Florianópolis, entre eles dois nativos de Canasvieiras, senhor Higino Brito e Olimpio Calazans. Naquela época o dinheiro em moeda papel circulava pouco, o mais comum era o escambo, isto é, a troca de um produto por outro. Plantava-se muito café, cebola e nozes que era utilizada para fazer para fazer o óleo vegetal e sabão.

Início da década de vinte começaram a surgir na freguesia de Canasvieiras ao longo da Estrada Velha (Virgílio Várzea e Tertuliano Brito Xavier) Armazéns de secos e molhados e Vendas. Seus donos eram nativos de famílias tradicionais de Canasvieiras: Antônio Cunha, Dona Dudu, Manoel Dedeca, Marçal, Gigi Brito, Tomaz Vieira, Cido Brito, Tinho Machado, João Silvy, Anselmo e Izidoro Santos.

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