quinta-feira, 10 de dezembro de 2015


Augusto


James Pizarro

por James Pizarro em 10/12/2015
Compartilhar:
Mais opções
Quando guri costumava acompanhar meu pai - que era enfermeiro - em suas visitas às casas de clientes. Era hábito rotineiro naqueles bons tempos o atendimento particular. Foi assim que conheci o Sr. Manoel Martins - pai do Augusto Martins - que tinha o seu restaurante à avenida Rio Branco, ao lado da antiga estação rodoviária. Lembro da granja que ele instalou para criação das aves que tornaram o restaurante tão famoso anos depois em todo o RS. Quando o restaurante passou para a avenida Medianeira, existia um enorme quadro com uma tela magnífica pintada pelo artista Eduardo Trevisan imortalizando a figura do Sr. Manoel Martins.
Aos 19 anos chega a Santa Maria o Augusto, vindo de Portugal, para residir e trabalhar com seu pai. Como o Augusto mesmo contava para a gente (e deixou gravado em entrevistas que circulam na internet, basta procurar no YouTube), levou 25 horas de voo pela Varig desde Portugal até Santa Maria. Costumava dizer : “Comecei de baixo no restaurante do meu pai, lavando louça e abrindo a casa às 5h45 da madrugada para servir café com rosca aos taxistas”.
Acompanhei toda a saga do Augusto, pois eu dava aulas no Master que se limitava - na parte dos fundos - com o pátio da nova sede do Restaurante Augusto, que começou modestamente com um só salão, poucas mesas e funcionários até se transformar - décadas depois - na potência que é hoje.
Augusto conseguiu a façanha de se tornar querido de toda a sociedade santa-mariense, atendia a todos de mesa em mesa querendo saber a opinião sobre os serviços da casa. Conseguiu conviver com políticos de todas as tendências e partidos. Tinha carinho especial pelo Dr. Leonel Brizola, pois este era freguês cativo dos seus galetos quando visitava Santa Maria. A própria UFSM - através da figura do seu reitor-fundador Mariano da Rocha - está indelevelmente ligada à história do restaurante, pois nele faziam suas refeições todas as autoridades estrangeiras e nacionais convidadas pela UFSM, professores e educadores de todos os cantos do mundo, assim como as festas de formatura dos diversos cursos da UFSM.
Augusto estava aposentado e retirado das lides do restaurante, que é dirigido por seus descendentes. Depois de uma vida de lutas, trabalho e muita produtividade, Augusto infelizmente nos deixou na semana passada. Dizia para todos : “Portugal é a terra onde eu nasci, mas minha terra verdadeira é o Brasil, a quem tudo devo e por quem lutaria se houvesse necessidade”. Augusto deve estar fazendo um rebuliço no céu, reencontrando centenas de amigos. Certamente, São Pedro o recebeu com a mesma simpatia que ele sempre dedicou aos clientes do seu restaurante.

James Pizarro

Nenhum comentário: