quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O CORONEL AMAVA OS LIVROS - James Pizarro (jornal A RAZÃO, 6/10/2016)


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O coronel amava os livros


James Pizarro

por James Pizarro em 06/10/2016
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Claudio Barros foi meu colega de banda e de estudos no glorioso Colégio Estadual Manoel Ribas, de Santa Maria, o popular Maneco. Nós dois éramos colegas e amigos do Alceste Almeida, de Roraima, cujo pai - chamado Oséas - chegou a ser gerente do Banco do Brasil na agência central de Santa Maria. O Alceste se formou em Medicina e voltou para Roraima, por onde foi eleito várias vezes deputado pelo PTB. Claudio Barros se formou médico-veterinário pela UFSM e em 1971 ingressou na mesma como docente na disciplina de Patologia Veterinária.
Claudio Barros era genro do coronel do exército Alberto Firmo de Almeida, que foi injustamente afastado do Exército, pois foi cassado pela Revolução de 31 de março de 1964, quando era comandante do Regimento de Infantaria Gomes Carneiro. O coronel Firmo tinha três filhos (duas meninas e um menino) e Cláudio Barros casou com a filha de nome Nina, com a qual teve dois filhos : Mauro, advogado do setor jurídico do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, e Guilherme, músico, também residente em Porto Alegre, que deu a Claudio seu único neto João.
De 1976 a 1980, Cláudio e Nina moraram com as crianças nos Estados Unidos para que ele pudesse fazer seu doutorado em Patologia Veterinária. Regressaram dos EUA em 1980. O coronel Firmo de Almeida faleceu em 1983. Em 1986 passaram a residir na casa do falecido Firmo, onde permanecem até hoje. A casa fica na frente do Quartel dos Bombeiros de Santa Maria, à Rua Niederauer, 897. A casa tem um belo terreno de 100 metros de fundo, onde Nina mantém afetivamente um belo jardim, coisa rara por aquelas bandas da cidade.
Eu fui muito amigo do coronel Alberto Firmo de Almeida. Como fui um estudante universitário de poucas posses, o coronel me emprestava livros da biblioteca do Clube Caixeiral (que ele dirigiu com zelo durante muitos e muitos anos) para que eu pudesse levar para casa. Eu podia frequentar a biblioteca porque meu pai era sócio do Clube Caixeiral. Lá eu lia os jornais do dia, entre senhores de cara fechada e todos eles na faixa dos 60 ou 70 anos, que eram os frequentadores assíduos da biblioteca. O coronel Firmo sempre me dizia : “Pizarro, até hoje não apareceu por aqui nenhum mais moço do que tu para ler”. E vaticinava, baixinho, pois não era de fazer estardalhaço : “O país está criando uma geração de ignorantes”. Quantos intelectuais da cidade saberão quem foi o coronel Firmo? A cidade já terá lhe feito alguma homenagem? Será ele algum nome de rua ou de praça? Ou apenas seus parentes lembrarão dele com saudade? Faço este registro enquanto minha memória viaja mais de meio século em alguns segundos. E sinto uma melancolia pungente no peito.

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