sábado, 21 de fevereiro de 2009

MANEZINHO DO TROMBONE


Tocando a vida
Mesmo após sofrer dois AVCs, Mazinho do Trombone continua conduzindo os passos de quem ama o samba

O instrumento reluzente, de um brilho dourado impecável, é retirado da caixa preta como um bebê de seu berço. A montagem, feita com zelo, precede a música, que encanta e espanta pelo fôlego, disposição e sutileza. Tamanha é a fusão homem-ferramenta que a palavra trombone completa o nome de Mazinho, nascido Daldumar Roberto Vieira, há 67 anos, na Ilha de Santa Catarina.

Mazinho do Trombone está decepcionado com o Carnaval. Tanto que quando começa a falar do assunto, a voz treme e o filho Luciano Roberto Vieira, 35 anos, tem de fazer as vezes de intérprete. Também pudera: o sexagenário músico teve dois acidentes vasculares cerebral (AVC), tem dificuldades de fala e ao caminhar. Mas a música, no entanto, continua fluindo perfeita de seus pulmões.

– O médico pediu para ele tocar, é bom para exercitar – explica o filho.

Durante 43 anos, Mazinho animou o Carnaval de Florianópolis, mas após algumas mudanças na administração municipal, foi deixado de lado. Antes tocava os cinco dias de folia, tanto nas praias quanto no Centro. Agora está na cidade vizinha, São José, que o contratou para as rainhas do samba requebrarem. Outra reclamação é a respeito da contratação de profissionais do Rio de Janeiro para avaliar o samba de Florianópolis.

– Tem gente muito boa aqui, não precisa trazer de fora – diz Vieira.

Mas o músico que já representou o Brasil em viagens pela América Latina, Portugal e Espanha em 2002, a convite da Embratur, não vive só da folia de Momo. Toca o ano inteiro em eventos fechados e não se restringe ao samba: jazz, blues, salsa, merengue, toda a variedade de estilos faz parte de seu repertório. Liza Minelli, Hermeto Pascoal, Luiz Henrique Rosa, Zeca Pagodinho e Roberto Carlos são alguns dos músicos que dividiram o palco com Mazinho.

A história do trombonista com a música levaria um dia e meio para ser contada, como o próprio resume. Começou muito cedo, aos sete anos. Aprendeu com o pai, trombonista da banda da Polícia Militar. Viu que tinha jeito para a coisa e nunca mais parou. Tocou nas rádios da época e impressionava pelo fôlego.

– Meu pai nasceu no samba. Todo músico tem que tocar samba, senão não é músico. O samba é difícil. Pega esses compositores, o Noel Rosa, o Cartola, tem muito arranjo. O Vander Pires, puxador oficial da Mocidade (do Rio de Janeiro), foi lá em casa e ficou impressionado como o pai consegue acompanhar enredo de escola de samba. É muito rápido– explica Luciano.

Entre as histórias de Carnaval, Mazinho se lembra de uma que aconteceu há 15 anos. Quando participava do bloco Em Cima da Hora, da Astel. O músico que tocava a tuba tinha tomado umas e outras e se perdeu do resto, indo sozinho em direção à praia da Baía Sul, enquanto a banda seguia para o Centro.

O trombonista vai tocar hoje na Avenida Beiramar de São José para animar o baile gay, a partir das 20h. Mazinho não assume a predileção por nenhuma escola de samba, mas o filho entrega que ele tem uma simpatia pela Copa Lord.
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FONTE : DC - (21 de fevereiro de 2009, edição N° 8353)

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