terça-feira, 24 de agosto de 2010

MARIA SILVEIRA PIZARRO, MINHA MÃE

Minha mãe se chama Maria, conhecida por todo mundo pelo nome de Iria...Dona Iria. Minha avó materna,vó Olina, contava que o nome dela era para ser Maria Iria e que meu avô, na hora do registro, esqueceu e registrou apenas como Maria.
Ela cresceu como filha biológica única, mas com três irmãos adotivos : José, Moisés e Carmelita. Foram três irmãos adotados pelos meus avós, diante da morte dos pais biológicos deles, amigos da família.
Minha mãe estudou todo o Curso Elementar (depois chamado Ginásio e hoje chamado Ensino Fundamental) no Colégio Santa Terezinha (hoje prédio do MANECO), internato e semi-internato mantido pela Cooperativa dos Empregados da Viação Férrea do Rio Grande do Sul em sua época áurea. No turno da manhã, minha mãe tinha as disciplinas pertinentes a esse tipo de curso (Matemática, Português, Ciências, Geografia, História, Música, etc...). Pela tarde aprendia bordado,tricô, tocar violino,educação física, etc...Minha mãe sempre dizia que as freiras do Santa Terezinha usavam a frase : "De manhã se educa a mente e a alma, pela tarde se educa o corpo".
Aos 16 anos conheceu Alfeu, meu pai, e pouco tempo depois casaram. Foram morar na rua Silva Jardim, onde hoje está minha casa (número 2447) e a casa de minha mãe (2431).
Minha mãe ajudou na árdua luta de sustentar uma família com dois filhos, construir uma casa própria com o ordenado de funcionário público de meu pai, que trabalhava em dois empregos. Exímia na arte de fazer doces, durante anos fez e vendeu doces sob encomenda para casamentos e aniversários. Nunca teve empregada doméstica. A família sempre recebeu ajuda providencial, quando necessário, de meu avô materno, Seu Fredolino. Como ferroviário, ganhava muito bem à época e podia prestar este auxílio e o fazia de bom grado.
As únicas diversões das quais me lembro eram freqüentar todos os circos que chegavam a Santa Maria. Ir aos bailes mensais do Clubes de Atiradores Santamariense. E não perder as esporádicas festas do Grupo de bolão 7 de setembro, de cuja equipe meu pai era o "capitão", pois era exímio bolonista.
Depois de idosa, minha mãe freqüentou aulas na UFSM como aluna especial. Engajou-se na luta política da terceira idade na cidade, sendo uma das fundadoras do grupo "Mexe Coração", com sede no Centro de Atividades Múltiplas, no Parque Itaimbé. Participou de aulas da caratê. Foi atriz de vários espetáculos do grupo teatral da terceira idade, onde se revelou notável comediante. Viajou pelo interior gaúcho para apresentações teatrais. Fez parte do coral dos idosos. Frequentava as aulas recreativas de natação na piscina térmica da UFSM. Enfim, teve uma vida socialmente participativa
Esteve casada com meu pai durante 63 anos de feliz união, pois ambos se completavam. Ficou viúva em 9 de maio de 2004, quando meu pai morreu vitimado por complicações pós-operatórias advindas de uma cirurgia cardíaca.
Vive na mesma casa ainda, ao lado da casa onde reside meu filho e a poucos metros da casa onde reside minha irmã. Acompanhada por duas atendentes. Amparada por um excelente plano de saúde. Ela tem grande afinidade com minha mulher, sua nora. Insisti até à exaustão para trazê-la para a praia de Canasvieiras para gozar do sossego de uma praia maravilhosa no final de sua vida. Já estava em meus planos alugar um apartamento maior, onde ela teria a privacidade de seus aposentos. Insisti então para que ela viesse aqui viver nem que fossem alguns meses durante o ano. Não consegui fazê-la mudar de ares. Parto agora para uma última tentativa : trazê-la para passar uma semana aqui na praia.
Os percalços, os problemas, a viuvez, a distância...tudo isso poderia ser resolvido se ela aceitasse vir em definitivo.
Mas conheço minha mãe... depois de dizer não, é não.
Contento-me, então, com conversas telefônicas semanais. E com visitas esporádicas a Santa Maria (no mês de novembro de cada ano trago minha mãe para passar trinta dias aqui comigo). Porque, infelizmente, a minha opção de vir morar na praia, desejo acalentado há anos, não coincidiu com a opção de minha mãe.
Lamento pela opção que ela fez. Mas que sou obrigado a respeitar.

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AUTOR : James Pizarro

Um comentário:

Ana disse...

Que privilégio, uma mãe saudável, lúcida, decidindo sua vida, fazendo suas escolhas!

Um belo exemplo!

Tomara que ela aceite o convite e vá tirar férias em Floripa!