segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A BANDA DO MANECO

A história da banda do Maneco está indelevelmente ligada ao nome do ex-aluno Roberto Binato, depois formado médico e professor universitário do Curso de Medicina da UFSM, no Departamento de Biofísica, onde ministrava aulas juntamente com o Dr. Irion. Mesmo cursando Medicina, continuava sendo o responsável pela banda do Maneco, nas funções de "mestre", uma espécie de maestro que cuidava tanto da coreografia e da disciplina como também dos arranjos musicais e repertório. Era carinhosamente chamado de "Binatão", devido à sua alentada obesidade, pois era um glutão inveterado. Presenciei, mais de uma vez, aquele homem devorar em poucos minutos dois quilos do recém-lançado Sorvete Kibom, uma das suas preferências. Ele casou com uma farmacêutica e, durante anos, trabalharam na zona italiana da Quarta Colônia, transferindo-se para Santa Maria, quando seus filhos vieram fazer o Ensino Médio e frequentar cursinhos pré-vestibulares. Um de seus três filhos, de nome Sílvio (apelido "Dandão"), foi meu aluno e companheiro de jogo de tênis nas quadras do ATC-Avenida Tênis Clube.
A banda do Maneco era constituída por uma quantidade incrível de integrantes. Certa época, a banda chegou a desfilar com quase 200 figurantes, fazendo as chamadas "evoluções" durante o desfile. A evolução que mais agradava e que arrancava delirante aplauso do público era copiada da Banda de Fuzileiros Navais, do Rio de Janeiro : a banda desfilava formando uma gigantesca âncora, que ocupava uma quadra inteira de rua. A banda viajava muito por todo o RS, a convite de escolas e prefeituras. Em Santa Maria, era convidada a abrilhantar todo tipo de solenidade. Certa feita, no campo de futebol do Riograndense Futebol Clube, completamente lotado, a banda formou - pela primeira vez - a palavra MANECO, numa evolução que comoveu a pais, alunos, professores, funcionários e público em geral.
A banda tinha toda sorte de instrumentos : bumbos, surdos, caixas, taróis, pratos, escaletas, pífaros, trombones, pistons, cornetas, flautas doces, etc...Os ensaios eram realizados somente à tarde, depois do término das aulas, no pátio da escola ou pelas ruas da cidade. O Padre Rômulo Zanchi, férreo disciplinador na direção do colégio, exigia que os integrantes da banda apresentassem seus boletins todo santo mês em seu gabinete. Quem estivesse mal de notas era sumariamente banido da banda. O padre Rômulo dizia : "É uma honra tocar na banda e aluno vadio não veste aquele uniforme para representar o Maneco pelas ruas da cidade ! " Assim é que, nos desfiles da Semana da Pátria ou nos deslumbrantes Jogos da Primavera, quando a banda chegava ao centro da cidade, capitaneando os quase dois mil alunos do Maneco, toda o público sabia que ali naquela corporação musical marchava a elite cultural do colégio, representada por seus melhores alunos. Durante duas ou três noites que antecediam à data do desfile, alunos e alunas voluntariamente faziam bolhas nos dedos cortando papel laminado para fazer "picadinhos" que eram acondicionados em dezenas e dezenas de sacos de estopa. No dia do desfile, estes alunos e seus familiares postavam-se estrategicamente nas sacadas dos edifícios mais altos da avenida Rio Branco e da rua do Acampamento (o Taperinha era um dos preferidos) e, quando o Maneco começava sua esperada apresentação, os céus do centro da cidade eram tomados por aqueles milhares de "picadinhos" laminados que produziam um efeito espetacular refletindo a luz do sol. Torcidas organizadas berravam sem parar :"Maneco ! Maneco !" Aquelas músicas, marchas e dobrados em furiosa harmonia marcial...o Tadeu com seu garbo de mor da banda....as duas graciosas balisas (a Carmem Helon Mariosi era uma delas)...aquela multidão...aqueles papéis picados...os foguetes...os gritos...os aplausos...a cadência...aquilo tudo era emocionante ! E eu ali no meio da banda, tocando pifaro, ao lado do Paulo Ari (agrônomo, professor da UFSM, já falecido) e o Alceste Almeida (médico, hoje deputado federal por Roraima). Eu ali...durante seis anos tocando naquela banda...passando por aquelas emoções que enchiam meu coração adolescente de felicidade e orgulho. Era impossível não chorar...
Atualmente, a banda continua ainda em ação, passando por dificuldades financeiras. Tem de arrecadar fundos com promoções, tocar nas ruas e avenidas enquanto alguns integrantes vendem rifas para os transeuntes para o custeio do aluguel dos ônibus que levam a banda até cidades onde se realizam concursos de bandas marciais e musicais. Assim é que, mesmo com essas dificuldades todas, a banda do Maneco venceu, em 2002, as competições de Alegrete e Quaraí. Por falta de recursos não pôde comparecer ao concurso de São Lourenço do Sul e luta com dificuldades para comparecer a outros, como o de Lagoa Vermelha. Segundo sei, a UFSM foi sensível e colaborou com R$ 600. Enquanto a banda passa por essa penúria, leio nos jornais que a Câmara de Vereadores está pleiteando uma "singela" suplementação de verbas de quase meio milhão de reais para tapar "furos" no orçamento mal calculado, mais R$ 600 de auxílio-telefone e 150 litros de gasolina por mês para cada vereador. Mas algum dos vereadores foi sensível à situação da banda, como outrora ocorria ? Em 1958, ano do centenário do município, o então vereador pelo PTB, Alfeu Cassal Pizarro - meu pai e a meu pedido - destinou a quantia de 5000 cruzeiros (moeda da época) para a aquisição de instrumentos para a banda do Maneco (a xerocópia do documento está nos arquivos do Maneco). Mais de 50 anos depois, esse tipo de sensibilidade política parece estar em extinção no meio dos homens públicos...
Quero registrar o trabalho voluntário, incansável, de vários elementos que trabalharam sempre pela banda nos últimos tempos: Luiz Carlos Santos (professor de Biologia de cursos pré-vestibulares e também do Maneco), Alberi da Silva Pereira (36 anos,um dos coordenadores, com 18 anos de banda), José Paulo Rorato (43 anos, integrante da banda desde 1993) e tantos outros.

***PEDIDO : quem quiser acrescentar fatos, relembrar coisas que não estão aqui, enviar fotos, etc...dirijam-se ao meu e-mail : jamespizarro@hotmail.com Ficarei muito agradecido.
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AUTOR : James Pizarro

7 comentários:

antes que a natureza morra disse...

RECEBIDO POR E-MAIL
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James, a quem aprendi a admirar, mesmo sem conviver...coisa mais enternecedora estas reminiscências do Maneco, colégio que fez parte da vida da maioria dos jovens da região de Santa Maria. Cursei o Clássico, no Maneco em 69/70 e 71..época gloriosa, onde os alunos do Curso Clássico, orientados para as Áreas Humanas, prestavam exame vestibular para cursos de Engenharia, Fonoaudiologia (na época, uma inovação) e eram aprovados. Mas, sempre há um aspecto hilário a recordar: no meu tempo de Maneco, o "terror" era a fiscalização da Plauta e da Maria Helena no sentido de coibir o uso de minissaias no Colégio. Nós, traiçoeiramente, usávamos saias "maria-mijona" (pelos joelhos...só quando adentrávamos no hall), porque fazíamos uma "massaroca" na saia,logo depois, só prá ficar curtinha, pois era o fashion da época. Mas , às vezes, elas nos surpreendiam e éramos suspensas das aulas por três dias. O Guiga, radialista jovem da época, era então convocado para alardear a notícia. Aproveitávamos a suspensão e ficávamos reunidas em casa de colegas,(algumas para a família não saber, pois a educação na família era rigorosíssima ainda em relação aos padrões de comportamento) conversando, num ambiente de amizade ímpar. Muitas vezes, nossos pais nem ficavam sabendo. Ô tempo bom...das bandas, das paqueras, das grandes amizades, hoje dispersas pelo mundo.Maneco é vocabulário presente em nossas vidas. Grande beijo, James...moras no meu coração!

Mirian S. Moro
Prof. da Delegacia de Ensino
Erechim, RS

antes que a natureza morra disse...

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James, a quem aprendi a admirar, mesmo sem conviver...coisa mais enternecedora estas reminiscências do Maneco, colégio que fez parte da vida da maioria dos jovens da região de Santa Maria. Cursei o Clássico, no Maneco em 69/70 e 71..época gloriosa, onde os alunos do Curso Clássico, orientados para as Áreas Humanas, prestavam exame vestibular para cursos de Engenharia, Fonoaudiologia (na época, uma inovação) e eram aprovados. Mas, sempre há um aspecto hilário a recordar: no meu tempo de Maneco, o "terror" era a fiscalização da Plauta e da Maria Helena no sentido de coibir o uso de minissaias no Colégio. Nós, traiçoeiramente, usávamos saias "maria-mijona" (pelos joelhos...só quando adentrávamos no hall), porque fazíamos uma "massaroca" na saia,logo depois, só prá ficar curtinha, pois era o fashion da época. Mas , às vezes, elas nos surpreendiam e éramos suspensas das aulas por três dias. O Guiga, radialista jovem da época, era então convocado para alardear a notícia. Aproveitávamos a suspensão e ficávamos reunidas em casa de colegas,(algumas para a família não saber, pois a educação na família era rigorosíssima ainda em relação aos padrões de comportamento) conversando, num ambiente de amizade ímpar. Muitas vezes, nossos pais nem ficavam sabendo. Ô tempo bom...das bandas, das paqueras, das grandes amizades, hoje dispersas pelo mundo.Maneco é vocabulário presente em nossas vidas. Grande beijo, James...moras no meu coração!

Mirian S. Moro
Prof. da Delegacia de Ensino
Erechim, RS

antes que a natureza morra disse...

RECEBIDO POR E-MAIL
*********************
Que baita texto! Um dia ainda vou fazer uma reportagem sobre a tua vida, quando me formar. Pode cobrar!!!

Duas coisas:

1º. Todo sábado tenho o prazer de conviver com Renato Molina Filho, na Rádio Universidade, que é o nosso técnico de som durante o programa Radar Esportivo. Faz algumas semanas, estávamos conversando frente a um painel com fotos antigas da Rádio, em comemoração aos 80 anos da emissora, quando o Molina apontou pra uma foto tua e disse:
- Esse cara aqui, foi uma das maiores cabeças que já vi aqui na rádio. Eu lembro que toda semana eu vinha gravar com ele aqui, o programa "Antes que a Natureza Morra". Ele antecipou todos esses desastres naturais que estão acontecendo hoje, e as pessoas faziam piada dele. Pra mim, ele tá no mesmo nível que o Lutzemberger.
Fiquei felicíssimo ao ouvir tal depoimento, e agora fico mais ainda ao saber que a mãe desse técnico de som metido a cantor de rock n' roll é irmã de criação da tua própria mãe!

2. Ainda sobre teus tios de criação: "Bezerra" é um sobrenome originário do Ceará, região sertaneja. Tenho a felicidade de ter recebido por parte de mãe o sangue daquela gente batalhadora, já que minha avó é, também, "Bezerra" - e, por conseqüência, minha mãe. Só não fiquei com o sobrenome porque a sociedade machista exige que se passe adiante o sobrenome do pai apenas - dessa forma, adotei o sobrenome "Ito" de meu avô japonês.

Grande abraço!!!

Daniel Ito Isaia
Jornalismo - UFSM

antes que a natureza morra disse...

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Que baita texto! Um dia ainda vou fazer uma reportagem sobre a tua vida, quando me formar. Pode cobrar!!!

Duas coisas:

1º. Todo sábado tenho o prazer de conviver com Renato Molina Filho, na Rádio Universidade, que é o nosso técnico de som durante o programa Radar Esportivo. Faz algumas semanas, estávamos conversando frente a um painel com fotos antigas da Rádio, em comemoração aos 80 anos da emissora, quando o Molina apontou pra uma foto tua e disse:
- Esse cara aqui, foi uma das maiores cabeças que já vi aqui na rádio. Eu lembro que toda semana eu vinha gravar com ele aqui, o programa "Antes que a Natureza Morra". Ele antecipou todos esses desastres naturais que estão acontecendo hoje, e as pessoas faziam piada dele. Pra mim, ele tá no mesmo nível que o Lutzemberger.
Fiquei felicíssimo ao ouvir tal depoimento, e agora fico mais ainda ao saber que a mãe desse técnico de som metido a cantor de rock n' roll é irmã de criação da tua própria mãe!

2. Ainda sobre teus tios de criação: "Bezerra" é um sobrenome originário do Ceará, região sertaneja. Tenho a felicidade de ter recebido por parte de mãe o sangue daquela gente batalhadora, já que minha avó é, também, "Bezerra" - e, por conseqüência, minha mãe. Só não fiquei com o sobrenome porque a sociedade machista exige que se passe adiante o sobrenome do pai apenas - dessa forma, adotei o sobrenome "Ito" de meu avô japonês.

Grande abraço!!!

Daniel Ito Isaia
Jornalismo - UFSM

antes que a natureza morra disse...

RECEBIDO POR EMAIFrom: aseligman
Sent: Thursday, May 07, 2009 10:13 PM
To: jamespizarro@hotmail.com
Subject: Do filho do Faéco




Olá, professor.

Aqui Airton Seligman, filho do Faéco (Raphael Seligman), seu professor no Maneco. Moro em São Paulo há mais de 20 anos e foi com enorme prazer que encontrei suas memórias na internet. Li com uma saudade legal a história de tanta gente conhecida, queridos amigos do velho.

Uma observação: o velho falava com enorme paixão e orgulho do fato de ter ajudado a remontar a banda do Maneco. O senhor lembra da participação dele?

Contava que levou os instrumentos de sopro pra casa, oxidados por longo tempo fora de uso, que os limpou, poliu (ou algo assim). Contava que conseguiu alguns instrumentos doados por outras instituições. Não recordo de muita coisa mais - e nem tenho certeza de que isso que citei era o que ela falava (tenho 48 anos, e o velho já se foi há 16 anos).

Se o senhor lembrar de alguma coisa nesse sentido, ficaria muito grato se me contasse algo.

Ps.: aliás, tenho uma vaga lembrança de ter sido seu aluno de cursinho, mas, como minha memória é uma tragédia, também não posso afirmar isso com certeza. Talvez meus irmãos, Lilian e Renan Seligman, que moram em Santa Maria, possam me ajudar nesse quesito.

Obrigado pelo esforço de manter viva a memória de figuras legais da velha e boa Santa Maria

Forte abraço

Airton Seligman

antes que a natureza morra disse...

Airton, fraterno :

Fui aluno do teu pai na disciplina de Química quando ele ainda era estudante de Medicina e começou a dar suas primeiras aulas no MANECO, dirigido pelo austero Pe. Rômulo Zanchi a quem todos temiam, alunos e professores.
A banda do MANECO era uma "Instituição" mesmo na cidade e dentro do colégio, capaz de mobilizar toda a comunidade escolar e, em especial, alguns pais de alunos e alguns professores, entre os quais teu pai. Realmente, ele foi um colaborar da banda, amigo de seus integrantes, sempre disposto a ajudar, a conversar com todos, naquele tom simpático, receptivo, alegre, que era uma das características do teu pai. Continuei a manter amizade com teu pai durante décadas, pelos corredores da UFSM, onde fui professor durante quase 40 anos e também com a tua mãe. Aliás, uma coisa nos uniu mais ainda, pois minha filha Nara, com 15 para 16 anos foi aprovada no vestibular e se formou em Fonoaudiologia com apenas 20 anos. Imediatamente foi ao Hospital da Escola Paulista de Medicina fazer seu pós em "Distúrbios da Comunicação Humana".
Claro, foste meu aluno de Biologia no pré-vestibular MASTER. Dei aulas no MASTER durante 39 anos.
Provavelmente tenha sido professor da Lilian também.
Dia desses, aqui na praia de Canasvieiras (onde estou morando desde março de 2008) encontrei o Grassiolli que, salvo melhor juízo, foi teu cunhado.
Por qualidade nata ou por hábito profissional de guardar milhares de nomes científicos de animais e plantas, tenho uma memória excepcional, razão pela qual lembro de detalhes, nomes, histórias, casos pitorescos, etc...sobre S. Maria. Curiosamente, eu acho que fui professor de todos os jovens descendentes de famílias judaicas de S. Maria (Groisman, Seligman, Shmulerg,etc...).
Passa o endereço dos meus blogs para os teus irmãos e para a amiga Firmina, pois acho que eles gostarão de ler os mesmos :
www.professorpizarro.blogspot.com
www.antesqueanaturezamorra.blogspot.com
www.james-pizarro.blogspot.com
Foi um imenso prazer receber este teu carinhoso e-mail, pois o mesmo me remeteu novamente a um período muito feliz de minha vida.
Abraço fraterno

James Pizarro

antes que a natureza morra disse...

From: Antonio Jose Correia Ribas
To: jamespizarro@hotmail.com
Subject: Leitura de seu Blog



Professor Pizarro,

A Internet nos permite lembrar de muitas coisas que passaram e que nunca deixaram nossa memória.
Vivi em Santa Maria de 1959 à 1976, quando conclui o curso de Engenharia Civil. Estou no Paraná, em Curitiba minha terra natal, há mais de 30 anos, depois de passar por algumas cidades do interior deste estado.
Estudei no Maria Rocha, mas vi no seu Blog a história do Maneco e muitos nomes conhecidos e amigos de minha mãe.
Vi a citação de seu nome como sua professora de matemática, como magra e ágil no falar e no raciocínio. Pois assim permaneceu até o último dia 7 de março de 2009 quando faleceu.
Sempre falando nos seus alunos com muito orgulho e nas suas colegas com muita saudade.
Viveu os últimos 16 anos em Curitiba, desde a morte de meu pai.
É muito bom e gratificante ver os ex-alunos, depois de tanto tempo, ainda lembrarem de seus professores. Também carrego comigo a boa lembrança de meus mestres, que permitiram, com os seus ensinamentos, trilhar uma carreira da qual me orgulho.

Um grande abraço,

Antonio José Correia Ribas