Vivi em Santa Maria 65 anos. Assisti aos poucos a transformação da pacífica cidade. Metamorfose ao contrário : de linda borboleta para bicho-cabeludo... Todos se conheciam. Hoje a cidade é formada por estranhos. Casas com grades e cercas elétricas. Medo de assaltos e violência. Uma comunidade com 35.000 desempregados. Uma selva de cimento que pouco se diferencia de outras centenas.
Não sou mal agradecido. Apenas resolvi passar meus últimos anos à beira do mar. No convívio das gaivotas e pescadores. Olhar no horizonte. Mas não pensando no futuro de glória, vaidade e prepotência. Mas olhar fixo no horizonte do mar. Para ver se a tainha está chegando. Resolvi migrar. Para longe de tudo que seja o contrário de simplicidade. Resolvi viver feliz. Assumir meu lado mamífero. Preocupado apenas com as 24 horas de hoje. O alimento de hoje. O sol de hoje. Quero atingir o máximo da simplicidade que pode ter um homem e sua amada aos 69 anos. Quero a quietude. E a alegria das baleias na Praia do Rosa...
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