sexta-feira, 25 de novembro de 2011
A TRAGÉDIA DE ELOÁ - James Pizarro
CANTO I
Os lábios de Eloá.
Grossos. Untados de vermelho nas fotos de seu orkut.
Os cabelos pretos de Eloá.
Sedosos. Longos. Esvoaçantes. Lindos.
O sorriso de Eloá.
Dentes lindos. Alvos. Instigantes. Adolescentes.
O corpo precoce de Eloá.
Hormônios em convulsão. Vida acelerada.
O jeito de Eloá.
Terno. Educado. Apreciado pelos colegas.
O comportamento de Eloá.
Sereno. Alegre. Humorado. Simpático.
Tudo isso foi de roldão porque a patologia, fantasiada de amor, roubou sua vida.
Cérebro jovem cremado pelo calor na bala incandescente.Do tiro assassino.
Neurônios esguichando para fora da cabeça.
Vida brutalmente podada.
CANTO II
Pulmões enchendo-se de oxigênio no peito alheio.
Córneas.
Fígado.
Pâncreas.
Coração.
Tudo generosamente doado. Recauchutando outras vidas.
De Eloá sobrou o cadáver oco. Preenchido de gazes e algodão.
O jovem corpo estendido no necrotério.
Os pés enrijecidos. Que deram tantos passos.
Mas que - por fatalidade - caminharam, aos 12 anos, em direção ao homem errado.
Pobre Eloá.
Linda Eloá.
Infeliz Eloá.
Quantas Eloás estão indo pelo mesmo caminho neste Brasil ?
Quantas ?!...
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