quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
CARNAVAL E A DITADURA DA ALIENAÇÃO - Ana Echevenguá
“Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, Me dá um dinheiro aí. Não vai dar? Não vai dar não? Você vai ver a grande confusão que vou fazer Bebendo até cair. Me dá, me dá, me dá (oi) Me dá um dinheiro aí!”
A alienação do carnaval chegou. ‘Não transe sem camisinha’ (Lula, no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, jogou camisinhas para o público), ‘não beba’, ‘não dirija se beber’, ‘não se desidrate’, ‘só veja e leia notícias sobre a festa de Momo’... tratamento alienante mesmo! O governo paternalista fornece verba pras escolas de samba, camisinha, disque-pileque, trio elétrico, feriado, imagens inéditas das bundas e dos tapa-sexo das musas do carnaval, ...
E o que acontece? O povo adere às maravilhas do consumo de sexo e substâncias e psicotrópicas. E o pobre gasta tempo, dinheiro e energia para ser rei ou rainha na ‘Festa-do-Povo’ e desfilar para a diversão dos mais abastados. Como nos áureos tempos do Coliseu de Roma!
Enquanto isso, os “Donos do Poder” aproveitam o período para colocarem suas falcatruas em dia... criam leis e MPs oportunistas para garantir seu locupletamento às nossas custas, na maior parte das vezes; até o Supremo Tribunal Federal está aproveitando a alienação para exigir do Congresso Nacional a votação do reajuste de sua remuneração, que vai provocar efeito cascata na folha de pagamento da magistratura federal e promotorias. E, imaginem só!, os deputados federais querem usar este reajuste para equiparar seus vencimentos aos dos ministros do STF.
Aonde buscar tanto dinheiro?? Ora, eles metem a mão no nosso bolso: a carga tributária de 2008 chegou à casa dos 36,54% do PIB. Sem reforma tributária, os pobres chegam a pagar 44,5% a mais de tributos do que os ricos. No carnaval, a coisa não muda! Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, mais de um terço do preço dos produtos do carnaval é tributo. Confete e serpentina possuem 43,83% de impostos embutidos no seu preço final. 54,8% do preço da cerveja - independente da embalagem (lata ou garrafa) – são impostos; 45,8% do refrigerante em lata e 43,91% da água mineral, idem.
Mas isso não nos interessa! Afinal, precisamos ‘cair na folia’! E os moradores do “país tropical abençoado por Deus” são agraciados com os feriadões do Carnaval, da Páscoa, do Dia das Bruxas, da festa da Independência, da República...
Alienação é palavra de ordem! Lula, na mensagem de fim de ano, disse que a crise internacional não era problema porque o Brasil ficaria mais fortalecido com ela e incentivou seus governados a uma feliz gastança para realizar seus sonhos no Natal;: “se tem um dinheirinho no bolso ou recebeu o décimo-terceiro, e está querendo comprar uma geladeira, um fogão ou trocar de carro, não frustre seu sonho, com medo do futuro (...) se você não comprar, o comércio não vende. E se a loja não vender, não fará novas encomendas à fábrica. E (...) a médio prazo, o seu emprego poderá estar em risco".
Ora, antes do discurso otimista-alienante (com uma aula de ‘economês’ digrátis), já havia um movimento generalizado de cortes de despesas no Brasil. Ou seja, as demissões começaram antes da crise chegar aqui. Em dezembro de 2008, contamos com 650 mil demissões; somente a indústria demitiu mais 80 mil pessoas. A CSN - Companhia Siderúrgica Nacional - foi uma das primeiras. Mais de 590 funcionários estão pedindo a reintegração aos seus empregos, com apoio do Ministério Público do Trabalho. (http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/02/19/materia.2009-02-19.0102383175/view).
A Vale, no mesmo período, anunciou o corte de 10% em sua produção, com a demissão de cerca de 1.300 funcionários ao redor do mundo; 20% destas demissões ocorrerá em Minas Gerais (http://dinheiro.br.msn.com/financaspessoais/noticia.aspx?cp-documentid=15142194).
Em 11 de dezembro de 2008, a Embraer já anunciava o que está colocando em prática hoje: o corte “cerca de 20% de seu efetivo em janeiro de 2009, o que representará algo próximo a 4 mil funcionários”. (http://www.gazetamercantil.com.br/GZM_News.aspx?parms=2232888,608,20,1).
E os números vão aumentar em 2009 porque esta é a melhor forma de cortar custos. Segundo o PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento -, a América Latina pode perder até 4 milhões de empregos este ano; o crescimento do mercado de trabalho informal e de baixa remuneração afetará negativamente a vida de 7 milhões de trabalhadores. Há previsão de aumento de até 15% nos níveis de pobreza; e de perdas bilionárias, com as grandes marcas anunciando venda de unidades de negócios, fechamento de fábricas e demissões. Tão logo as 10 maiores fabricantes mundiais de carros anunciaram mais de 35 mil demissões, a GM demitiu 744 empregados em São José dos Campos (SP).
As empresas de tecnologia de informação, somente em janeiro de 2009, demitiram mais de 30 mil pessoas no mundo. A Microsoft já eliminou 5 mil vagas (http://portal.softwarelivre.org/news/12674). Recentemente, a Sadia anunciou a demissão de cerca de 350 funcionários. (http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/economia/)
Parece que a aula de economês não deu certo: a compra do fogão dos seus sonhos, ou a entrega do seu dinheirinho pras casas Bahia, pro Big, pra Fiat do Brasil não mudou o rumo da crise... você está (ou estará) na fila do seguro-desemprego!
Ai, gente boa! O tempo passa e o Brasil continua, desde o tempo das Capitanias Hereditárias, com uma das maiores concentrações de renda do planeta. Atualmente, 10% da população mais rica do Brasil detêm 75,4% de todas as riquezas do país.
Ao invés de reforma tributária e política, temos proliferação de programas sociais: distribuição de bolsa-família, de bolsa-escola, de seguro-desemprego que manipulam as pesquisas sobre o nosso rendimento 'per capita'. E somos elogiados quando as pesquisas mostram brasileiros saindo da chamada ‘linha da indigência’ (os que recebem valores mensais inferiores a um quarto do salário mínimo) e passando para a ‘linha da pobreza’ (os que recebem até meio salário mínimo mensalmente).
Fazemos festa chafurdando na lama! O Brasil Alienado vive sob a Ditadura do Poder Econômico com a prevalência dos interesses da classe dominante, da elite, dos ricos, dos plutocratas ou dos cleptocratas. Assim como a Ditadura Militar, a do Poder Econômico também nos bombardeia insistentemente, através da mídia mercenária, com o discurso falaz de que vivemos sob as asas da liberdade e da democracia.
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FONTE : Ana Echevenguá, advogada ambientalista, coordenadora do programa Eco&Ação, presidente da ong Ambiental Acqua Bios e da Academia Livre das Águas, e-mail: ana@ecoeacao.com.br, website: www.ecoeacao.com.br
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7 comentários:
L Janz disse...
Triste mas é a realidade...
A grande maioria de nós realmente não quer acordar... Como diz o ditado, "a ignorancia é mesmo uma benção"... Para que me tornar consciente e ter tantas dores de cabeça? Preferível mesmo é ser despreocupado... Como diz a Ministra: "relaxa e goza"...
Isso tudo é de fato uma calamidade generalizada.
Meu grande professor da biologia do mundo e da cidadania, um grande abraço!
James o colega, o amigo, o pai, o avô, o militante da vida, o poeta, o orador, o engenheiro social, o provocador, o guerreiro, o apaixonado pela vida.
Semeou mais coisas que nenhum Walt Whithman escreveu.
Um grande abraço com carinho!
Nadson.
Canção de mim mesmo
Walt Whitman
1.
Eu celebro o eu, num canto de mim mesmo,
E aquilo que eu presumir também presumirás,
Pois cada átomo que há em mim igualmente habita em ti.
Descanso e convido a minha alma,
Deito-me e descanso tranqüilamente, observando uma haste da relva de verão.
Minha língua, todo átomo do meu sangue formado deste solo, deste ar,
Nascido aqui de pais nascidos aqui de pais o mesmo e seus pais também o mesmo,
Eu agora com trinta e sete anos de idade, com saúde perfeita, dou início,
Com a esperança de não cessar até morrer.
Crenças e escolas quedam-se dormentes
Retraindo-se por hora na suficiência do que não, mas nunca esquecidas,
Eu me refugio pelo bem e pelo mal, eu permito que se fale em qualquer casualidade,
A natureza sem estorvo, com energia original.
2.
Casas e cômodos cheios de perfumes, prateleiras apinhadas de perfumes,
Eu mesmo respiro a fragrância, a reconheço e com ela me deleito,
A essência bem poderia inebriar-me, mas não permitirei.
A atmosfera não é um perfume, mas tem o gosto da essência, não tem odor,
Existe para a minha boca, eternamente; estou por ela apaixonado
Irei até a colina próxima da floresta, despir-me-ei de meu disfarce e ficarei nu,
Estou louco para que ela entre em contato comigo.
A fumaça da minha própria respiração,
Ecos, sussurros, murmúrios vagos, amor de raiz, fio de seda, forquilha e vinha,
Minha expiração e inspiração, a batida do meu coração, a passagem de sangue e de ar através de meus pulmões,
O odor das folhas verdes e de folhas ressecadas, da praia e das pedras escuras do mar, e de palha no celeiro,
O som das palavras expelidas de minha voz aos remoinhos do vento,
Alguns beijos leves, alguns abraços, o envolvimento de um abraço,
A dança da luz e a sombra nas árvores, à medida que se agitam os ramos flexíveis,
O deleite na solidão ou na correria das ruas, ou nos campos e colinas,
O sentimento de saúde, o gorjeio do meio-dia, a canção de mim mesmo erguendo-se da cama e encontrando o sol.
Achaste que mil acres são demais? Achaste a terra grande demais?
Praticaste tanto para aprender a ler?
Sentiste tanto orgulho por entenderes o sentido dos poemas?
Fica esta noite e este dia comigo e será tua a origem de todos os poemas,
Será teu o bem da terra e do sol (há milhões de sóis para encontrar),
Não possuíras coisa alguma de segunda ou de terceira mão, nem enxergarás através do olhos de quem já morreu, nem te alimentarás outra vez dos fantasmas que há nos livros.
Do mesmo modo não verás mais através de meus olhos, nem tampouco receberás coisa alguma de mim,
Ouvirás o que vem de todos os lados e saberás filtrar tudo por ti mesmo.
3.
Eu ouvi a conversa dos falantes, a conversa sobre o início e sobre o fim,
Mas não falo nem do início nem do fim.
Nunca houve mais iniciativa do que há agora,
Nem mais juventude ou idade do que há agora,
E jamais haverá mais perfeição do que há agora,
Nem mais paraíso ou inferno do que há agora,
O anseio, o anseio, o anseio,
Sempre o anseio procriador do mundo.
Na obscuridade a oposição equivale ao avanço, sempre substância e acréscimo, sempre o sexo,
Sempre um nó de identidade, sempre distinção, sempre uma geração de vida.
Não vale elaborar, eruditos e ignorantes sentem que é assim.
Certeza tal como a mais certa certeza, aprumados em nossa verticalidade, bem fixados, suportados em vigas,
Robustos como um cavalo, afetuosos, altivos, elétricos,
Eu e este mistério aqui estamos, de pé.
Clara e doce é minha alma e claro e doce é tudo aquilo que não é minha alma.
Faltando um falta o outro, e o invisível é provado pelo visível
Até que este se torne invisível e receba a prova por sua vez.
Apresentando o melhor e isolando do pior, a idade agasta a idade,
Conhecendo a adequação e a eqüanimidade das coisas, enquanto eles discutem eu mantenho-me em silêncio e vou me banhar e admirar a mim mesmo.
Bem-vindo é todo órgão e atributo de mim, e também os de todo homem cordial e limpo.
Nenhuma polegada ou qualquer partícula de uma polegada é vil e nenhum será menos familiar que o resto.
Estou satisfeito – vejo, danço, rio, canto;
Quando o companheiro amoroso dorme abraçado a mim a noite inteira e depois vai embora ao raiar do dia com passos silenciosos,
Deixando-me cestas cobertas com toalhas brancas enchendo a casa com sua exuberância,
Devo adiar minha aceitação e compreensão e gritar pelos meus olhos,
Para que deixem de fitar a estrada ao longe e para além dela
E imediatamente calculem e mostrem-me para um centavo,
O valor exato de um e o valor exato de dois, e o que está à frente?
4.
Traiçoeiros e curiosos estão à minha volta
Pessoas com quem me encontro, os efeitos que a minha infância tem sobre mim, ou o bairro e a cidade em que vivo, ou a nação,
As últimas datas, descobertas, invenções, sociedades, autores antigos e novos,
Meu jantar, roupas, amigos, olhares, cumprimentos, dívidas,
A indiferença real ou fantasiosa de um homem ou mulher que eu amo,
A doença de alguém de minha gente ou de mim mesmo, ou ato doentio, ou perda ou falta de dinheiro, depressões ou exaltações,
Batalhas, os horrores da guerra fratricida, a febre de notícias duvidosas, os terríveis eventos;
Essas imagens vêm a mim dia e noite, e partem de mim outra vez,
Mas não são o meu verdadeiro Ser.
Longe do que puxa e do que arrasta, ergue-se o que de fato eu sou,
Ergue-se divertido, complacente, compassivo, ocioso, unitário,
Olha para baixo, está ereto, ou descansa o braço sobre certo apoio impalpável,
Olhando com a cabeça pendida para o lado, curioso sobre o que está por vir,
Tanto dentro como fora do jogo, e o assistindo, e intrigado por ele.
No passado vejo meus próprios dias quando suei através do nevoeiro com lingüistas e contendores,
Não trago zombarias ou argumentos, apenas testemunho e aguardo.
Amigo Nadson Werneck !
Que maravilha começar a manhã lendo um comentário destes ! Fiquei emocionado !
Espero que estejas feliz voltando para o Rio de Janeiro, tua querida terra natal, junto com a Ângela e o Lucas.
Desejo toda sorte do mundo pra vcs todos !
E volte sempre ao meu blog !
Abraço
Pizarro
Uauuuu!
Que linda homenagem, esta do comentário do Nadson!
Se fosse pra mim, virava post - Anamostrada que sou!! Heheheh!
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Vim elogiar a bela matéria sobre o carnaval e as nossas mazelas... De chorar, de tão verdadeira!
From: Nadson Flesch
Sent: Friday, February 27, 2009 3:24 PM
To: James Pizarro
Subject: Mensagem no Blogspot
Caro professor James, meu mestre, com todo o respeito ao amigo Nadson Werneck, que também o conheço lá de Santa Maria, fui eu, Nadson Flesch, quem postou a mensagem em sua home Page http://professorpizarro.blogspot.com/ hoje cedo. Foi uma surpresa encontrá-lo novamente, ainda que virtualmente. Eu estava lendo uma crônica do Máximo no website do jornal A Razão, e encontrei o seu comentário por lá, juntamente, com o endereço de seu blog. Como bom aluno fui ver o que o mestre estava a produzir nesta fase e gostei muito do que vi e li.
Encheu-me de alegria ver que ainda continuas com o espírito aguerrido. Espero que nesta nova fase (nova para mim, pois não sabia ainda que tinhas encontrado um novo lugar para fazer a sua morada, o seu reduto, o seu templo em Canasvieiras) continues semeando todas as coisas boas que sempre fizestes.
Tenho muitas lembranças boas do início dos anos oitenta. Quando fui seu aluno no cursinho e na universidade. Tenha a certeza de que as suas palavras, através da minha vida (e da minha filha que está por vir até outubro) estarão sempre vivas.
Minha vida profissional está bem. Depois, é claro, de muita luta para se estabelecer uma empresa de consultoria e se manter.
Espero poder encontrá-lo novamente, em Brasília aonde já moro há alguns anos ou aí em sua praia, e ter a oportunidade de apresentar a minha família.
Um grande abraço pra você e sua família, meu mestre, meu colega, meu amigo.
Nadson Flesch
Imperdoável equívoco, fruto da pressa ou talvez de um preoce Alzhemeir...rssssssss
Desculpe. Mas penso ter reparado o equívoco. Só spuerado pela alegria de te saber bem em Brasília, com uma bela companheiras (vi as fotos) e esperando uma filhinha para outubro, mesmo mês do meu aniversário (sou de 26 de outubro).
Abração fraterno e eu e minha mulher te esperamos aqui em Canas para umavisita e uma churrasco.
Pizarro
Dra. Ana, "Me dá um dinheiro aí", criada em 1959, vale até os dias atuais. Só que agora com o Poder Econômico mais ávido em cima da classe proletária, esmagada por altos impostos que sufocam qualquer ser humano que tenta sobreviver honestamente no Brasil. Talvez um dia nossa voz possa ser ouvida e os altos impostos possam ser reduzidos. Parabéns pelo seu trabalho em favor da vida, da natureza... Abraços,
Iracema
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