terça-feira, 22 de novembro de 2011

PARTIDO VERDE : MINHA OPINIÃO - James Pizarro







Na noite de 22 de março de 1985, uma sexta-feira, reuniu-se o Conselho Superior da AGAPAN - Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, na velha sede da rua General Teles, em Porto Alegre. A pauta da reunião era a discussão sobre a criação do Partido Verde no Brasil. Compareci à reunião na condição de único conselheiro da AGAPAN residente no interior gaúcho e levei minha opinião por escrito, cuja cópia distribuí a todos os colegas.Já naquela época era notória a influência política, direta e indireta, do movimento ecologista em países de maior padrão cultural. Do que se lia nos jornais e revistas e do que se ouvia dos militantes que tinham viajado ao exterior, eram de certa forma diferentes as características do movimento ecologista na Europa e nos Estados Unidos.
Os ecologistas americanos ligavam o movimento aos núcleos de organização dos cidadãos e também ao movimento de defesa dos consumidores, sentimento que os americanos têm bem exacerbado. Normalmente, usavam e usam como forma de pressão o recurso judicial, isto é, se valiam e se valem da Justiça para acionar qualquer empresa, obra ou empreendimento que prejudique o meio ambiente. O ativismo ecologista também se fazia sentir, com bastante eficácia, junto ao Congresso e junto à Presidência da República. Lembro que em março de 1981, o então presidente Ronald Reagan foi interpelado severamente por 10 importantes associações conservacionistas a respeito dos prejuízos que a política norte-americana estava causando ao meio ambiente.
Já na Europa Ocidental havia um traço característico no movimento ecologista : ele estava bastante politizado. Isto era bastante evidenciado pela fundação e funcionamento de vários "Partidos Ecológicos", todos eles ativamente engajados na disputa de cargos através de eleições. Em 1979, por ocasião das eleições para o Parlamento Europeu, os candidatos ecologistas conquistaram 4,4 % dos votos. Em 1974, na França, por ocasião das eleições presidenciais, o engenheiro agrônomo René Dumont, especialista em Ecologia Tropical, surgiu como o primeiro presidenciável ecológico do mundo. Obteve 12 % dos votos, um verdadeiro fenômeno ! Já em 1981, para concorrer ao mesmo cargo, o movimento ecologista francês indicou Brice Lalond, presidente do "Rassemblement des Amis de la Terre" (Associação dos Amigos da Terra). Andava ao redor de 4 a 5 % o prestígio eleitoral dos ecologistas alemães, mas sua influência indireta era muito maior (porque eles ficavam com poder de barganha, uma vez que podiam determinar a sorte dos demais candidatos, dos chamados "partidos tradicionais"). Helmuth Schmidt enfrentou, dentro do seu próprio partido (Partido Social Democrata) forte oposição à sua política nuclear.
Na Suécia, onde os grupos ecologistas são muito ativos, nas eleições de 1976, a posição das entidades ecologistas foi importantíssima na queda do governo social-democrata de Olof Palme. Mesmo para os leigos em politica é sabido que, na maioria dos países europeus impera o "sistema distrital". Daí a possibilidade grande dos ecologistas conquistarem importantes posições em nivel LOCAL.
Porém, o que mais chamava a atenção naquela época dentro do movimento ecologista é que ele não seguia as gastas divisões de "esquerda" e "direita". Ele sabiamente congregava pessoas idealistas que pertenciam a diversos partidos. E a AGAPAN era um belo exemplo disso, pois entre os seus conselheiros figuravam representantes de praticamente todos os partidos existentes naquela época.
O partido que mais chamava a atenção dos ecologistas gaúchos era o PV alemão, pois eles congregavam segmentos sociais dos mais variados possíveis, desde a juventude evangélica até às minorias sexuais. Pregava um sistema de indústria que levasse em consideração a natureza humana, o desarmamento,a amizade entre os povos, a cooperação com o Terceiro Mundo, uma agricultura que respeitasse a Natureza, o aproveitamento do homem cuja função foi substituída por alta tecnologia, etc...As assembléias do PV alemão era uma verdadeira Torre de Babel, tamanhas as tendências e a variedade de discussões. Willi Hoss, deputado eleito pelo PV alemão esteve visitando o Brasil em julho de 1984 e declarou : "Todas as questões essenciais são decididas na base, com discussões em assembléias de delegados, o que faz com que tenhamos mais assembléias do que os outros partidos, e que estas sejam mais longas e acaloradas".
Na assembléia da AGAPAN eu argumentei longamente que não achava válido nem o Capitalismo e nem o Socialismo como existiam naquela época, pois ambos eram baseados e estruturados sobre o militarismo, fomentador da indústria bélica. Particularmente, eu gostaria de combinar os pontos positivos dos dois sistemas. Do sistema socialista eu lembrei dos ideais primeiros de uma sociedade igualitária, que não repouse sobre a propriedade privada nem seja centralizada pelo Estado. Do Sistema Ocidental, lembrei da extrema necessidade de respeito pelos direitos humanos, a liberdade total de expressão, etc...Sonhava eu com este sistema ideal, que iria além do Socialismo e Capitalismo, onde o poder de decisão sobre os problemas básicos teria de estar nas mãos do cidadão. Daí a importância e o crescimento dos partidos alternativos, como o alemão, que pregavam a reconquista do poder de decisão para o cidadão. Era uma reflexão que eu queria fazer aquela noite, comparando a situação européia com a situação brasileira.
No Brasil, a primeira noticia que eu tinha de Partido Verde foi originária do Rio de Janeiro (primeiro semestre de 1982). Lembro que a imprensa noticiou o aparecimento do Partido Ecológico (este seria o nome) no RJ, garantido por uma lista de 6000 assinaturas de todos os Estados e por um suposto apoio fas associações ecologistas de todo o país. Tudo não passava de um alarme falso, pois 1982 era ano eleitoral e não houve registro desse partido no Tribunal Superior Eleitoral.
A segunda notícia de um PV no Brasil foi oriunda de Curitiba (março de 1985), pois recebi correspondência a cerca da criação do Partido Verde, com ficha de inscrição, programa de ação, logotipo (uma simpática baleia com a inscrição "Participe"). O tal partido apresentava apenas uma caixa postal como endereço e me lembro do número : 2949. Escrevi para lá solicitando nomes das pessoas envolvidas naquele projeto, endereços, telefones, dias e locais de reuniões, etc...Nunca recebi resposta.
Muitos candidatos se apresentaram à opinião pública como "representantes ecologistas", "porta-vozes do verde" e coisas do gênero. Muitos eram dignos de crédito. Mas a maioria jamais foi vista numa associação ecologista...Em Porto Alegre, destaque-se a honestidade, o padrão cultural, o nível do trabalho e o comprometimento com a causa do vereador Caio Lustosa, advogado de enorme prestígio pessoal e ativo militante da AGAPAN. Lembro de outros, no Brasil : José Frejat (no Rio de Janeiro), Noel de Carvalho (em Resende), Lizt Pereira (do PT carioca), compositor Galvão (do PMDB da Bahia, apoiado por Caetano e Gilberto Gil), Walter Lazzarini (PMDB de São Paulo), Gastão Gonçalves da Silva (PMDB de SP), Fernando Vitor, do PMDB de Diadema, MG), Catarina Koltai (PT de SP), Arnaldo Pasqualini (PMDB de Peruibe), etc... Em 1988, em Santa Maria, com uma plataforma ambientalista, sob o título de "Guerreiro da Natureza", eu fui eleito vereador pelo PDT. Registre-se a bem da verdade que, no RS, apenas dois candidatos reconhecidos publicamente como ativistas ecologistas foram eleitos : Caio Lustosa (PMDB de Porto Alegre) e James Pizarro (PDT de Santa Maria). Dezenas de outros candidatos fizeram "santinhos" se apresentando como ecologistas, outros fundaram associações ecologistas "fantasmas", etc...tudo na intenção de captar votos de eleitores simpáticos à causa da defesa do meio ambiente. Não lograram êxito pela falta de credibilidade.
Naquela noite, na sede da AGAPAN, contrariando a opinião de muitos, eu me mostrei contra a criação do PV (pelo menos naquele momento político brasileiro). Sempre entendi que a causa ecologista era profundamente política, mas que deveria ser TRANSPARTIDÁRIA, isto é, a bandeira da causa ecologista deveria permear por dentro de todos os partidos. E que isolar toda a luta ecologista dentro de apenas uma sigla, com o nome de PV, enfraqueceria o movimento. Achava que também seria uma incoerência, já que combatíamos a centralização do poder e do capital. O que é um partido senão uma forma de centralização ideológica à busca do exercício do poder ? Não conseguimos estruturar uma entidade ecologista com duas dezenas de associados, pois existem centenas de problemas para que a mesma sobreviva (desde problemas financeiros até picuinhas pessoais). Imagine-se uma estrutura partidária de nível nacional. Infelizmente eu tinha razão. Mais de uma centena de entidades ecologistas existiam no RS naquela época. Hoje, em atividade, entidades desse tipo não se contam nos dedos de uma mão. A principal razão da extinção das mesmas foi que se tornaram braços de um partido político apenas, isto é, foram "aparelhadas" partidariamente, o que feriu de morte o movimento. O PV foi criado no RJ e elegeu Gabeira. E daí ?Espremendo-se bem o assunto, qual a força em nivel local, estadual e nacional do Partido Verde ? Que poder de fogo possui ? Realmente trata só da defesa ambiental ...ou virou um partido corriqueiro, com as mesmas mazelas dos outros ?Quantos deputados estaduais e federais, ou mesmo vereadores, eleitos pelo PV em todo o país ?
Eu tinha razão. As teses ecologistas deveriam estar dentro da cartilha programática de todos os partidos. Isolar tudo numa sigla apenas mandou o movimento ecologista para a CTI.

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