Este meu artigo foi publicado
no jornal "A RAZÃO", de Santa Maria, RS,
edição do dia 20/junho de 2011, à página 4
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Meu saudoso professor de latim contava a história de um talentoso ator francês, já idoso, que durante a ocupação nazista tinha virado garçon para poder sobreviver. O bar parisiense onde ele foi trabalhar era o mais frequentado pela alta oficialidade alemã. E ali se apresentavam as cançonetistas, os mágicos, os cantores.
Numa das noites de fim-de-semana, com a casa cheia, num dos intervalos artisticos, o garçon tomou o microfone e do alto do palco fez um violento discurso contra a ocupação nazista e disse cobras e lagartos contra o Hitler. Os franceses presentes o aplaudiram delirantemente, enquanto ele era preso e algemado pelos soldados alemães. Levado à frente do coronel que estava na mesa principal que lhe indagara do porquê de tal atitude, o velhor ator disse aos prantos :
- Por causa das palmas, eu necessitava ouvir palmas de novo, eu passei minha vida recebendo aplausos e estava saudoso de aplausos calorosos...
Eu lembro dessa história por causa de algumas figuras da política brasileira recente. O Lula se refestelava diante do microfone e dava entrevista até sobre o que não entendia. Amava o microfone, as platéias, os aplausos. O Fernando Henrique Cardoso, embora mais pernóstico, também adorava falar e dar entrevistas em cinco ou seis linguas diferentes. E tinha orgasmos culturais quando alguma universidade européia lhe concedia um título de "honoris causa".
Tanto Lula como FHC estão fora do poder. E se ressentem da ausência dos puxasacos, das entrevistas, dos aplausos. E resolveram isso cada um à sua maneira. Lula anda percorrendo os mais diversos locais (indústrias, associações, multinacionais) dando "conferências", hilariantes por certo, cobrando a bagatela de 250.000 reais cada uma. E recebendo dinheiro, risos e aplausos. Já o Fernando Henrique Cardoso, para surpresa do país, empunhou a bandeira da maconha e percorre o país e defende as passeatas a respeito da descriminalização e uso da droga. E é delirantemente aplaudido pelos jovens viciados e doentes e (suponho) também pelos traficantes. Afinal, cada um arruma aplausos como quer e pode.
Enquanto isso, o que faz a "presidenta" Dilma, desaparecida da mídia, soturna, calada ? Com leucemia, com pneumonia, com cara amarrada, parece que não gostou de ser eleita e dá a impressão que não tinha vocação para o cargo que ocupa.
Por outro lado, o vice-presidente Michel Temmer - ao lado de sua bela e jovem cônjuge - é todo sorrisos e dá entrevista a torto e a direito como se presidente fosse. Todos tentam se arrumar como podem. E planejam longe.
Enquanto isso, a classe dos professores em greve ou por entrar em greve se prepara para tomar no fiofó. Sem dinheiro, sem risos, sem aplausos. Eu presencio isso há mais de 50 anos.
Até quando, meu Deus ?
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