sábado, 19 de novembro de 2011

MINHAS MEMÓRIAS DO "MANECO" - James Pizarro




Quando a Cooperativa dos Empregados da Viação Férrea do Rio Grande do Sul, fundada em 1913, era considerada a maior cooperativa da América Latina, os ferroviários - carinhosamente chamados de "ferrinhos" - resolveram destinar 50 % dos lucros líquidos para obras referidas ao ensino, chamado à época de "Instrução" (o escritor e historiador João Belém pormenoriza dados em seu livro sobre a história do município de Santa Maria e fala sobre esta decisão dos ferroviários). Assim é que, já no seu quarto ano de funcionamento (1917), a Cooperativa decidiu fundar um colégio profissionalizante, que somente veio a ser inaugurado em em 1/maio/1922 : Escola de Artes e Ofícios. A escola possuía seções profissionalizantes para diversos tipos de ofícios , tais como mecânica, eletricidade, modelagem e funilaria, fundição, ferraria e tornearia mecânica. Funcionou em suntuoso prédio, ainda hoje existente, situado na avenida Rio Branco esquina com a rua dos Andradas, onde funciona o atual Instituto Mariano da Rocha.
Mas era preciso também construir um colégio modelar, do tipo internato feminino. O colégio era destinado às filhas dos ferroviários de todo o Rio Grande do Sul. Ali elas poderiam estudar as disciplinas convencionais do Ensino Fundamental e Ensino Médio (naqueles tempos,chamados de Curso Complementar e Curso Suplementar), e também desenvolver habilidades caseiras, tais como corte e costura, bordado, música, desenho, pintura, trabalhos domésticos, etc...
Assim é que, demonstrando a força coletiva que possuíam naqueles saudosos tempos, foi fundado o Colégio Santa Terezinha, entregue às freiras para que as mesmas o dirigissem. Meninas de todos os recantos do RS vieram para Santa Maria fazer seus estudos.
O prédio do Colégio Santa Terezinha é o prédio onde atualmente, devidamente reformado, funciona o Colégio Estadual Manoel Ribas. O nome foi dado em homenagem a Manoel Ribas, vulgo "Maneco Facão", que foi Governador (leia-se "Interventor") do Estado do Paraná durante todo o período da ditadura de Getúlio Vargas. Antes, Manoel Ribas havia ocupado o cargo de Intendente de Santa Maria, tendo assumido os destinos do município em 3 de outubro de 1928. Em Curitiba, ao lado do "Passeio Público", tradicional área de lazer daquela cidade, funciona uma respeitável escola estadual parananese,também chamada Escola Estadual Manoel Ribas.
Causou espanto para a população santa-mariense da época o gigantismo das instalações daquela escola. Depois de extinto o Colégio Santa Terezinha, naquele mesmo prédio foi criado o Grupo Escolar João Belém, que ali ficou até ser transferido para pavilhões de madeira construídos nas proximidades e, anos depois, definitivamente transferido para amplo prédio de alvenaria onde até hoje se encontra, entre as ruas Comissário Justo e José do Patrocínio. Depois da transferência do João Belém para as novas instalações, fundou-se o Colégio Estadual Manoel Ribas, em 10 de outubro de 1953, até hoje popularmente chamado de "Maneco". Era tal a qualidade de ensino do novo colégio, que o mesmo passou a ser conhecido, em todo o território gaúcho, pelo título de "Colégio Padrão do RS".

INFÂNCIA

Minha vida está indelevelmente ligada àquele prédio, pois minha mãe, Maria Silveira Pizarro, sempre chamada de "Dona Iria", foi aluna do Colégio Santa Terezinha onde, inclusive, iniciou-se no aprendizado do violino.
Entre o prédio e o muro externo do Maneco, fronteiro com a rua José do Patrocínio, em frente ao Curso Santa Clara, existe um pequeno obelisco de um metro de altura, sem placa e sem inscrição de espécie alguma, o que sempre me despertou curiosidade. Um dia dia, minha avó materna, Olina Correa da Luz, deu-me a explicação. Uma freira estava limpando a parte externa das vidraças do segundo andar e, desequilibrando-se, caiu de uma altura aproximada de 15 metros, vindo a falecer. O obelisco foi construído "in memoriam" exatamente sobre o local onde ficou, inerte, o corpo da infeliz religiosa.
Guri curioso, precoce mesmo em relação a esses assuntos dos mais velhos, surpreendi-me muitas vezes - na hora do recreio - com o nariz esborrachado nas vidraças das janelas das salas de aula a contemplar o obelisco. Lembro que, ao entardecer dos dias nublados, eu olhava rapidamente o obelisco e tratava de sair da janela. Eu sentia apreensão, medo mesmo. Pois, na minha fervilhante e fantasiosa cabeça de guri recém entrado na puberdade, parecia que - a qualquer momento - eu ía enxergar aquela freira voando em minha direção. Sorrindo para mim. Ou me acenando ternamente.
Aquele singelo monumento, até hoje anônimo para todos que ali passam, ainda está lá, já apresentando as marcas inexoráveis do tempo, este consumidor implacável de corpos, vaidades, pedras, juventude e lembranças. Nunca consegui descobrir o nome da freirinha...Seria Petúnia ? Margarida ? Rosa ? Hortência ? Não sei bem o porquê, mas sempre desconfiei que ela deveria ter nome de flor. Afinal, só uma flor pode ser levada pelo vento. Com suas pétalas necropsiadas durante a queda. Só uma flor tem o poder mágico de se imiscuir nos meandros da alma de um adolescente. E lá, no recôndito de sua memória, permanecer incólume. Até que sua cabeça se povoe de cabelos brancos. Sua testa seja vincada pelas rugas. E ele resolva contar, aos 60 anos de idade, essas lembranças...

JARDIM DA INFÂNCIA

Minha mãe saiu do Colégio Santa Terezinha para casar. Não chegou a completar seus estudos por isso. Naquele tempo, mulher era para cuidar da casa, do marido e da prole. Ao melhor estilo machista vigente na época...do qual meu pai, Alfeu, até hoje ainda é adepto.
Já fundado o Grupo Escolar João Belém, ali fui matriculado - com 6 anos de idade - no Jardim da Infância (pois não se cogitava falar em maternal, pré-maternal, etc...). Assim é que, nos primeiros dias do mês de março de 1948, comecei a estudar. Agarrado à mão de minha mãe, fui levado e entregue na penúltima porta do corredor do primeiro andar à professora Luiza Leitão, uma professora negra, de cabelos brancos, que foi minha primeira professora e da qual guardo enternecedora lembrança. Ela me recebeu carinhosamente. O que fez dissipar-se do meu assustado espírito qualquer resquício de medo. Muito embora eu tenha sentido um inesquecível aperto no peito quando vi minha mãe me abanar e desaparecer pelo corredor.
É incrível, mas lembro detalhadamente desse primeiro dia de aula ! Sentei-me numa mesinha, junto com duas meninas e um menino, de nome Cleómenes, que era muito chato e usava óculos. Inexplicavelmente, não guardei o nome das duas meninas, que eram simpáticas e puxavam conversa. A professora Luiza Leitão bateu palmas, pediu silêncio. E colocou no aparelho de som (que era chamado de "vitrola") um enorme disco de vinil. Daquele disco, como num passe de mágica, brotou a emocionante novela intitulada "As Aventuras do Coelhinho Joca", a primeira história infantil gravada que ouvi em minha vida. Eu gostei tanto que, meses depois, quando ganhei meu primeiro cachorro de presente, um fox preto e branco, tratei de batisá-lo de "Joca"...
Corria o ano de 1948, ano em que o Botafogo foi campeão carioca. O time alvinegro entrava em campo com sua mascote "Biriba", uma cadela também fox preta e branca...

EDY MAIA BERTÓIA

A diretora do Grupo Escolar João Belém se chamava Edy Maia Bertóia, casada com um senhor careca, funcionário da Cooperativa dos Ferroviários. Moravam à rua Silva Jardim, quase na esquina com a Comissário Justo. A Dona Edy era mãe do Dr. Ararê Bertóia, médico em Santa Maria e de Soila Bertóia, residente em São Paulo. Parece mentira...a Dona Edy ficou minha grande amiga por mais de 45 anos ! E hoje, falecida, virou nome de escola municipal, numa justa homenagem.
Num relance, passaram-se mais de 50 anos desde a minha primeira aula. Da qual lembro detalhadamente. Desde a disposição dos móveis na sala. Dos quadros. Dos rostos. Dos sons. Do sino batendo para o meu primeiro recreio. Da primeira merenda. À noite, custei muito a dormir. Pois recapitulava mentalmente tudo o queme havia acontecido naquele dia memorável.
A professora Luiza Leitão, e depois a professora Léa Balthar, foram as duas responsáveis pela minha alfabetização.

"AUDIÇÕES"

A outra diretora do João Belém, que substituiu a professora Edy Maia Bertóia, foi a Professora Heleda Diquel Siqueira. Que também foi minha professora de Trabalhos Manuais. Dona Heleda era exímia jogadora de bolão. Viajava muito pelo RS disputando campeonatos femininos de bolão. Ao contrário das minhas alfabetizadoras, já falecidas, a professora Heleda ainda está viva, morando no Balneário Camboriu, lioral de Santa Catarina.
Nas datas importantes - principalmente nas datas cívicas - aconteciam no João Belém as chamadas "audições". O que era isso ? Todo o corpo docente e discente era reunido no salão de festas da escola. E havia apresentação de números artísticos : danças, corais, declamação de poesias, números musicais, mágicas, bandas, etc... Tudo isso era precedido pela fala do locutor. Que lia uma sinopse do número que ía ser apresentado.
Devido ao desembaraço, desenvoltura ou "cara-de-pau" - seja lá que nome tenha isso - sempre fui escolhido para ser o locutor das "audições". O que me conferia um certo "status" com os professores. Simpatia com as meninas. E ciume dos colegas.
Dou-me conta, agora, do óbvio : a influência que tais experiências da meninice podem ter na formação da nossa personalidade. E até nas nossas escolhas profissionais de adulto. Entre meus 45 e 50 anos fui radioator de historinhas infantis levadas ao ar pelo programa infantil apresentado pela radialista Maria Helena Martins : Programa "Era Uma Vez..." O programa ía ao ar todos os domingos, às 18:00h, pela Rádio Universidade de Santa Maria. A novela, apresentada em capítulos dominicais, chamava-se "Histórias do Sapinho Hortêncio". Eram escritas por João Teixeira Porto, militar reformado, funcionário da UFSM e ator amador da Escola de Teatro "Leopoldo Froes".
Fui sarcasticamente criticado por alguns poucos colegas de docência da UFSM pois, para eles, um mestre universitário andar fazendo papel de um sapo em novelas de rádio "não se coadunava com a importância da cátedra". Nunca dei importância para as críticas e gozações desses sabichões que, mesmo pilotando seus títulos de mestrado e doutorado, não conseguim dar aula sem as famigeradas fichinhas de anotações amarelecidas pelo tempo, sem as quais não conseguiam enfrentar as numerosas turmas de alunos. Um deles, chegou mesmo a dizer que eu só poderia fazer papel de sapo, numa clara alusão à minha obesidade...Muitas palestras fiz nas escolas da cidade para alunos do jardim da infância e do pré-primário. Mas fi-las, não como Prof. Pizarro, mas como Sapinho Hortêncio, este sim conhecido da piazada.
Esta atividade como Sapinho Hortêncio sempre me foi muito prazeirosa, porque ele foi importante veículo de educação ecológica para a infância da minha cidade. Na raiz dessa minha atividade não estará, lá bem no fundo, a saudosa professora Luiza Leitão com as "Histórias do Coelhinho Joca" ? E meus programas de rádio ecológico pela Rádio Universidade ? E meus comentários diários na Rádio Imembui, nos programas do Vicente Paulo Bisogno e Pedro Feire Junior ? E meus voluntariosos pronunciamentos na Câmara de Vereadores quando lá estive de 1989 a 1992 ? E as dezenas de conferências em mais de 200 cidades gaúchas ao longo de quase 40 anos ? E as 10 horas de aula diárias nos cursinhos pré-vestibulares e na UFSM ?
Na raíz de todas essas atividades ligadas ao uso público da palavra, da oratória como meio de vida, bem lá no cerne dessas atividades de adulto...não estará a figura franzina daquele meninote que era o locutor das "audições" do Grupo Escolar João Belém ?
Que mistério ! Que estranho fermento a Vida e o Destino semeiam na sensibilidade da gente! E ao longo do tempo aquilo vai se metamorfoseando em pão. Amassado com o sangue da vocação. O suor da transpiração. E a lágrima da inspiração. Que mistério ! A ninguém é lícito deixar de colaborar na construção do mundo. Seja pescando crustáceos e peixes na orla marítima, para alimentar estômagos famintos. Seja pescando almas solitárias, melancólicas, com a isca fascinante da palavra. Não para dar-lhes pão, feito de trigo ou centeio. Mas o pão divino do amor e da fraternidade. Disfarçado pela oratória sensível do teatro. Do discurso. Do programa de rádio. Da aula bem dada. Todas elas, atividades movidas pela paixão. Quem não entender a paixão e o milagre da palavra, o seu amplo poder, perdeu o dom do mistério.
Esse mistério foi inoculado em meu espírito pela paixão de meus professores do Maneco. Cujos apontamentos históricos, escritos somente com o auxílio de minha memória, começo a rascunhar...Espero a caridade da leitura de todos para com essa tentativa de colaborar com a memorialística da cidade.
Nas cercanias do Colégio Estadual Manoel Ribas funcionava a monumental Cooperativa dos Ferroviários da Viação Férea do Rio Grande do Sul, com dezenas de prédios dedicados a múltiplos fins. Um grande prédio servia de sede burocrática e também de armazém de "secos e molhados", expressão em voga à época. Ali existia qualquer tipo de alimento imaginável para comprar. Anexo a este grande armazém havia loja de roupas e tecidos, alfaiataria, relojoaria, carvoaria, fábrica de sabão, padaria, lenheira, farmácia, etc...Ao lado do prédio do Maneco funcionava um gigantesco açougue, prédio em ruínas ainda hoje existente ao lado da Escola Santa Clara. Em frente a este prédio, no passado, formava-se longa fila desde a madrugada, principalmente de meninos que, munidos com seus "ganchos" (estruturas de ferro em forma de letra jota) esperavam para levar a carne para casa.
Não se usava dinheiro, pois a Cooperativa fornecia, no início de cada mês, uma série de "vales", fichas de papelão azul que correspondiam a uma certa quantia em dinheiro, de acordo com o ordenado do ferroviário. Os meninos entregavam aqueles "vales" para o açougueiro (eram mais de 10 açougueiros atendendo simultaneamente), em troca dos "pesos" solicitados. Chamava-se de "peso" ao tipo de carne solicitada, isto é, filé, costela minga, coxão de fora, coxão de dentro, etc...
Tinha de haver cuidados no transporte daquele gancho com carne até à casa. Os cachorros íam atrás, pulando, para roubar a carne. Muito guri tomou surras homéricas por ter deixado o gancho com carne no chão enquanto jogava "bolita" (bola de gude). E a cachorrada levava a carne do penitente...ou a carne era roubada por outros guris ! Às vezes, mentiam que não tinha chegado a carne. E trocavam os "vales" por outro tipo de compra nos bares e lojas da cidade.Os "vales" tinham inteira credibilidade na comunidade santa-mariense e circulavam livremente no comércio, como se dinheiro fosse. Aliás, os próprios adultos - quando ficavam com pouco dinheiro no fim do mês e tinham "vales" sobrando - trocavam-nos por dinheiro, numa transação chamada popularmente de "touro". Era comum o ferroviário dizer : "Me apertei de dinheiro, vou ter de fazer um touro..." Não consegui descobrir até hoje o porquê do uso da expressão "touro"...

MANECO E FERROVIA

É indispensável falar na Ferrovia e na Cooperativa nos dados iniciais sobre a história do Maneco, pois os destinos dessas instituições se entrelaçam. A maioria absoluta dos filhos e netos de ferroviários estudavam no Maneco, assim como filhos de funcionários públicos, classe média e proletariado em geral. Os filhos de famílias mais abastadas e da classe média alta estudavam no Colégio Sant'Anna e Colégio Centenário (as moças) e Colégio Santa Maria (rapazes).
Os sapatos todos que usei, até à idade de 15 anos ou 16 anos, foram presentes dos meus avós maternos, vó Olina e vô Fredolino. Sapatos comprados na sapataria da Cooperativa dos Ferroviários. O primeiro relógio que ganhei na vida, de enorme mostrador e pulseira de couro brilhante, foi comprado na relojoaria da Cooperativa : era um típico "cebolão" ! Na época, chamava-se "cebolão" ao relógio que possuia mostrador muito grande...

A GARE DA VIAÇÃO FÉRREA

A minha ligação com a ferrovia vem do fato do meu avô Fredolino ter sido ferroviário. Era exímio carpinteiro, verdadeiro artista, cujo trabalho, dedicação, assiduidade e pontualidade lhe faziam gozar de enorme prestígio junto aos superiores. Trabalhou mais de 45 anos na ativa, sem nunca ter tirado licença, atestado médico, faltado ao serviço ou feito greve. A greve era um recurso muito usado pelos ferroviários naqueles tempos, com o qual meu avô não não concordava.
Vô Fredolino trabalhava no chamado "recinto", que nada mais era do que o imenso espaço existente em frente à gare da Estação da Viação Férrea de Santa Maria, em parte hoje ocupada irregularmente pelos chamados "sem teto". Ali existiam vários departamentos da ferrovia e meu avô exercia suas atividades no chamado "Posto de Visitas", onde se situava a carpintaria geral da "Rede". A Viação Férrea era conhecida em todo o teritório gaúcho simplesmente por "Rede".
Quando os ferroviários entravam em greve, reuniam-se no campo gramado que existia atrás do Maneco, ao lado de um enorme depósito de combustível (chamado de "tonel"), construído para armazenamento de óleo para as primeiras locomotivas a óleo diesel adquiridas e que causavam grande admiração aos habitantes da cidade. Este campo, outrora gramado, é hoje um estacionamento de ônibus de empresas de transporte coletivo.
De cima daqueles barrancos os ferroviários faziam comícios, proferiam palavras de ordem e jogavam pedras e penicos cheios de merda nos ferroviários que não aderiam ao movimento paredista, então chamados de "furadores" de greve ou "carneiros". Anos depois, nas aulas de Zoologia do próprio Maneco, aprendi que os carneiros e as ovelhas eram animais tão passivos, tão dóceis. que não dão nenhum gemido quando são levados para o abate, ou mesmo quando estão sendo abatidos. Daí a razão óbvia do apelido de "carneiros" que tinham os "fura-greves"... Tanto isso é verdade que, nas fazendas e abatedouros do Rio Grande do Sul, quando um carneiro "berra" (o verbo certo seria "balir", mas o povo fala "berrar") na hora do abate, é imediatamewnte poupado, solto, e jamais molestado ou morto por alguém. Diz a crendice popular que aquele que ousar matar um carneiro que berrou na hora do abate sofrerá toda sorte de desgraças para o resto da vida.

AS GREVES

Eu sempre fugia de casa e me misturava àquela multidão de ferroviários grevistas. Aquilo me fascinava. Lembro que, certa vez, aquela manifestação foi dispersada por uma tropa de cavalarianos da Brigada Militar. Cerca de 40 homens montados e empunhando espadas reluzentes que serviam para dar estrondosos "planchaços" nas costas dos grevistas, o que os fazia urrar de dor. "Planchaço" é um golpe dado com a parte lateral da espada e que produz enorme mancha arroxeada na pele do golpeado, provocando dor insuportável, edema e...faz a coragem desaparecer na mesma hora ! Minha avó usava o termo "planchar" para nomear a ação de passar calças de homem com o ferro de passar roupas municiado de ardentes brasas. Aliás, o ferro de passar roupas usado pela vó Olina está cuidadosamente enfeitando a sala de visitas de minha casa, preciosa relíquia para mim.
Mas, para ser absolutamente verdadeiro, devo dizer que vô Fredolino nunca fez greve. Tinha horror à greve, dizendo sempre que "aquilo é coisa de vagabundo, pois o ordenado da Rede é o mais alto da cidade". Ele tinha razão quanto ao ordenado, pois todos os ferroviários tinham casa própria. Faziam férias. Tinham enorme prestígio junto aos gerentes de estabelecimentos bancários. Faziam poupança. E tinham crédito ilimitado no comércio local. Lembro que vovô vaticinava : "Essas greves ainda vão acabar fechando a Rede..." Vovô, durante as greves, tinha de ser retirado do trabalho pela polícia ou por "carro de praça" (nome dado aos pontos de táxis da época). Ele era levado até o chamado "KM 2", no extremo oeste da cidade, onde meu pai o esperava num taxi na então Praça 810, até hoje situada na esquina da Avenida Rio Branco com Silva Jardim, no "boulevard" central. Era uma "praça de carros" de propriedade de um motorista chamado Dario, que morava no Bairro Itararé, composta somente por automóveis da marca Dodge. É célebre na crônica policial santa-mariense o chamado "Crime do Dodge Verde", ocasião em que mataram o motorista Mariano, da praça 810, por razões passionais conforme comentários da época. Oficialmente, nunca se descobriu o criminoso. Os boatos diziam que o assassino tinha sido um médico. Há na cidade, uma rua chamada Motorista Mariano, no bairro Nossa Senhora de Lourdes, de CEP 97.050-510...
Nunca me saiu da memória a figura de meu avô abandonando seu trabalho de carpinteiro e, cercado por policiais, deixando o recinto da gare da Viação Férrea abaixo de impropérios, vaias, ofensas e gritos de "carneiro" ! E eu, menino de 10 ou 11 anos, no meio dos grevistas lá naqueles barrancos atrás do Maneco. Eu ficava confuso. Com uma ardência no coração. E lágrimas nos olhos. Querendo dizer para todo mundo que meu avô era um homem direito. Uma pessoa honesta. O homem que me dava sapatos. Presentes. E uma moeda de "um pila", aos domingos, para ir ao matinê das 13:15h no então existente Cine Teatro Imperial, situado na rua Dr. Bozano, onde hoje está uma das filiais das Casas Eny. Mas eu me calava. Eu tinha medo. Eu corria para casa. Tomava um banho rápido. Botava um pijama azul, listrado, de pelúcia. E ficava esperando a chegada de meu avô...

O AVÔ FREDOLINO

Ele chegava em silêncio. Subia as escadas. Enquanto meu pai pagava o táxi. Botava uma bombacha cinzenta. Sentava-se para tomar chimarrão. E minha avó Olina trazia uma bacia de latão, pintada de verde, com água quente escaldante. Meu avô botava os pés dentro. Eu me ajoelhava à sua frente. E cumpria o ritual de lhe lavar os pés.Com sabão comprado na fábrica de sabão da Cooperativa dos Ferroviários. Meu avô ensinava : "Este sabão tem bastante soda, tira qualquer cascão". Uma vez por mês eu cortava as unhas dos pés de meu avô. Cortava com dificuldade. Pois ele tinha unhas grossas. Duras. Calcificadas. em excesso. Meu avô sorvia lentamente aquele chimarrão. Silenciosamente. Enquanto minha avó esquentava a janta. E meu pai se recolhia para a casa ao lado, onde morávamos.
Eu tinha vontade de falar com meu avô. Vontade de perguntar o porquê daquilo. Por que ele não fazia greve como os outros ? Eu olhava para ele. Cara séria. Olhar perdido em cogitações. E não conseguia enxergá-lo como um "carneiro". Eu não conseguia entender, aos 12 anos, como se podia jogar um penico cheio de merda num homem daqueles. Que não tinha vícios. Não faltava ao serviço. Não bebia. Era tesoureiro da Associação dos Vicentinos. Católico praticante. Temente a Deus. Que tinha como única diversão frequentar toda quinta-feira à noite aos "brassards", isto é, aos treinos do Grupo de Bolão Sete de Setembro, no Clube Santa-mariense. Gostava também de frequentar os bailes promovidos pelo Clube Santa-mariense, onde tinha mesa cativa, reservada pelo Sr. Cardonetti, ecônomo do clube durante décadas.
Eu queria indagar coisas do meu avô. A respeito do seu comportamento diante da greve. Mas as palavras morriam na minha garganta. Eu não podia fazer uma coisa que nem meu pai tinha coragem de fazer. Isto é, indagar meu avô. Cobrar explicações. Tirar-lhe satisfações. As únicas palavras que meu avô se permitia dizer eram sempre as mesmas : " ...aquilo é coisa de vagabundo...o ordenado da Rede é o mais alto da cidade...essas greves vão acabar fechando a Rede".
Com o advendo do golpe militar, a "Revolução de Março de 1964", os ferroviários foram especialmente perseguidos. Seus sindicatos fechados. Seus líderes presos, acusados de comunistas. A Rede toda controlada com mão-de-ferro. Enfim...um desmonte completo duma categoria de trabalhadores . Que sabia lutar pelos seus direitos. À sua maneira. A Viação Férrea, que era estadual, foi federalizada com a Revolução de março de 64. Recentemente, foi vendida. Privatizada. A preço de banana. Os prédios vendidos. Ou danificados por vândalos e ladrões. A Cooperativa faliu. Os ferroviários que restaram demitidos. muitos sem ganhar seus direitos completos. Ações na justiça. Essa agonia da Viação Férrea daria um romance de centenas de páginas.
A Rede fechou. Não tenho mais aquele relógio "cebolão" que ganhei de meu avô quando tinha 15 anos. Eu mesmo tenho de comprar meus sapatos. Meu avô morreu. E minhas unhas dos pés estão ficando grossas. Duras. Calcificadas em excesso. Será que Amanda, Tarso, Júlia, João ou Thiago - meus cinco netos - um dia cortarão as unhas de meus pés em troca de um pila ?

COMO JULGAR ?

Nunca fiz e nunca farei juízo de valor sobre a atitude política de meu avô. Um carpinteiro que nunca teve tempo de estudar. Porque precisava levar comida para casa. Um trabalhador. Que nunca ouviu falar em Sociologia. Socialismo. Marxismo. E outros tipos de devaneios e sonhos. Ele era um simples. Um honesto. Um bom - eis meu avô. Dentro do seu simplório esquema de pensamento, não deixou de ser um futurólogo. Pois previu, com dezenas de anos de antecedência, a morte da Viação Férrea !
Além de minha mãe, sua única filha, meu avô criou três filhos adotivos, três irmãos : Carmem, José e Moisés, todos de sobrenome Bezerra, órfãos de pai e mãe. Meu avô criou os três. deu-lhes educação e formação. Os três estão casados. Moisés foi ser ferroviário como meu avô, dirigindo as locomotivas diesel. José foi gerente da Caixa Rural. Carmem casou com Renato Molina, também ferroviário, pai do Renato Molina Filho, operador de áudio da Rádio Universidade. Formado em Fisioterapia. E cantor de rock da Banda NOCET, com CD já gravado.

REPERCUSSÃO INTERIOR

Talvez essas experiências todas tenham me transformado num profissional que sempre fez greve. Sempre fui um grevista convicto. Por formação. Talvez essas experiências tenham me transformado, em certa época da minha vida, num vereador do PDT. Tenham me transformado num homem com exacerbado senso do exercício de sua cidadania. O que não quer dizer que eu esteja certo. Ou que meu avô tenha estado errado. Afinal, a unanimidade não é burra ?
Aprendi uma coisa digna com meu avô. Em todas as greves que participei como docente da UFSM - e foram muitas - nunca permiti que meus colegas grevistas in sultassem os não-grevistas. Mesmo que os insultos fossem simples palavras de ordem. Aprendi que temos de respeitar os limites dos outros. Os direitos dos outros. As opiniões dos outros.
Todos os colegas não-grevistas têm filhos. Netos. E pode ser que sejam filhos e netos sensíveis. Emotivos. Que se assustem. E chorem ao ler os panfletos ofensivos. As acusações de "carneiros".
Panfletos que nada mais são do que uma versão modernizada dos penicos de merda de antigamente...

A GARE DA ESTAÇÃO

A gare da estação da Viação Férrea do RS foi local frequentado pela elite da sociedade santa-mariense, por mais incrível que isso possa parecer hoje aos mais moços, testemunhas da decadência da categoria ferroviária. Ali estavam os escritórios das chefias. A sala do diretor da estação (chamado de "Agente"). O amplo e completo "stand" de revistas (a chamada "Revistaria da Estação"). O higiênico e confortável restaurante, onde serviam-se desde refeições "à francesa" até rápidos lanches. A fantástica sorveteria com inimagináveis guloseimas servidas em finas taças de prata. O competente serviço de carregadores de bagagens ("mensageria"), com os servidores vestidos de azul, com colarinho e gravata, portando carrinhos de ferro para o transporte das malas. O serviço de autofalantes com as publicidades (chamadas "reclames") ditas por um locutor cego, que tinha a fantástica capacidade de memorizar tudo. Entre um "reclame" e outro, valsas de Strauss e sambas de Ary Barroso...
Para ter acesso à gare da Viação Férrea, era necessário comprar ingresso. Vendido sob a forma de um papelote duro, numerado, metade branco, metade verde. Que era picotado pelo porteiro engravatado na roleta numerada que dava acesso ao interior das instalações. Rapazes e moças, acompanhados de seus pais, costumavam formar fervilhante torvelinho de gente nas horas de chegada e partida dos trens de passageiro. Trens que atendiam por nomes especiais : "Noturno", "Fronteira", "Serra", "Porto Alegre". A gente ficava abanando para as pessoas que partiam naquela "composição" formada por dezenas e dezenas de carros. Puxada por barulhenta e folclórica máquina a vapor, carinhosamente chamada de "Maria Fumaça". Pouco depois substituídas pelas máquinas movidas a diesel e pelos trens húngaros, que tinham até ar condicionado e lanche gratuito.

FÉRIAS

Todo fim-de-ano lá ía eu com minha família - pelo trem da "Serra" - curtir férias escolares na cidade de Getúlio Vargas, situada depois de Carazinho e antes de Marcelino Ramos, na fronteira com Santa Catarina. Íamos no vagão-leito, composto de duas camas beliche, o máximo em conforto para a época. Existiam carros de "Primeira Classe", com poltronas estofadas. E carros de "Segunda Classe", com bancos de madeira, ocupados pelas pessoas mais pobres, gaúchos de bota e bombacha que levavam desde galinhas enfarofadas até gaiolas com seus passarinhos de estimação. Havia o "Carro-Restaurante", onde os mais abastados faziam suas refeições, servidas por garçons de gravata borboleta. Os dois últimos carros dessas composições eram para uso dos funcionários que estavam trabalhando no trem e para uso dos Correios e Telégrafos, já que os malotes de cartas e encomendas eram predominantemente transportados pela Viação Férrea.
Meu tio, também ferroviário, de nome João Cassal Pizarro, era "agente" (leia-se Chefe) da Estação de Getúlio Vargas. Esta cidade serrana era dividida em duas partes : a "estação" e a "sede". Na "estação" ficavam as instalações ferroviárias, armazéns, depósitos e uma pequena vila de pouco mais de mil almas. Na "sede" ficava a cidade propriamente dita, com a Prefeitura Municipal, hospital escolas, delegacia, clubes, etc...Com a onda emancipacionista que assolou o Rio Grande do Sul nos últimos anos, o que se conhece hoje pelo nome de Getúlio Vargas é apenas e tão-somente a antiga "sede". A chamada "estação" de outrora constituiu-se num novo município, independente, que atende pela singela designação de "Antiga Estação".
Naquele aprazível lugar, de terra vermelha e barrenta, passei por muitos anos as minhas férias. E minha estada era no próprio recinto da gare da estação ferroviária, onde residia meu tio, conhecido por Tio Cassal. Era um homem sumamente interessante. "Gourmet" inveterado. Fumante inveterado. Jogador de cartas inveterado. E também inveterado apreciador de belas mulheres. Minha tia, chamada de "Tia Preta", fazia vistas grossas a tudo, ao melhor estilo masoquista das mulheres da época. Tudo em meu tio era inveterado. Exagerado. Compulsivo. Ele teve um violento AVC-acidente vaso-cerebral, que minha tia chamava de "derrame". AVC que o deixou rengueando de uma perna e usuário de uma bengala. Mas ele ainda teve de lucro uma sobrevida de mais dez anos...
Tio Cassal tinha três filhos : Cleonice, Carlos Miramar e Paulo. Cleonice, chamada na intimidade de "Nice", é casada com Sadi Tagliari, talentoso acordeonista que tocou numa orquestra formada por seus dez irmãos e famosa na zona serrana do RS : Orquestra Tagliari. Depois, Sadi aposentou-se como gerente do Banco do Brasil . Moram em Porto Alegre. Carlos Miramar, "Carlinhos" para os íntimos, era piloto de avião, casado com Ivone Demoliner, filha do proprietário da famosa Erva-mate Demoliner, de Erechim. Paulo, meu primo "Paulinho", é formado em Administração de Empresas e mora em Porto Alegre com a família.

VOLTANDO À ESTAÇÃO

Já professor da UFSM, fui designado pela reitoria para representar a UFSM e fazer palestra sobre Ecologia na cidade de Getúlio Vargas, a "sede" dos meus tempos de piá. Falei para cerca de duzentas pessoas no cinema da cidade, numa promoção da Delegacia de Educação da região. E pedi ao meu anfitrião um favor : eu queria visitar o recém-criado município chamado "Antiga Estação", situado a uns 20 quilômetros dali.
A outrora estrada barrenta está hoje asfaltada. E em poucos minutos lá estava eu a visitar as velhas instalações da ferrovia (ainda são as mesmas). A velha casa onde morava meu tio, pintada de marrom, onde eu passava as minhas férias na infância. Apenas dois funcionários na gare da estação que, na ausência de trens de passageiros, estão ali apenas para a fiscalização dos trens carregados de soja que dali partem em direção à cidade de Rio Grande. De onde a nossa soja é levada para países asiáticos, para se transformar em ração para porcos. Ou para países europeus, onde as pessoas já são superalimentadas e melhor saúde teriam se comessem menos. Enquanto parte do nosso povo passa fome e morre com o nariz achatado nas portas dos hospitais...
Falei com um dos funcionários, o mais antigo, e ele bondosamente me proporcionou acesso aos livros antigos, já depositados no "arquivo morto" da estação. Ao folhear os mesmos, deparei-me centenas de vezes com a espalhafatosa e esparramada assinatura de meu saudoso Tio Cassal, autorizando isso ou aquilo...No pátio da antiga e abandonada casa, pude ver o poço - de onde tirávamos cristalina e pura água gelada - atulhado e transformado numa espécie de floreira. Um velho pé de plátano, com o tronco cheio de buracos e condenado à morte, completava o desolador quadro de abandono daquele pátio que foi tão importante nas minhas férias de guri. Ao lado daquele pé de plátano ficava uma gaiola, com o bicho de estimação de meu tio : um gracioso e canoro cardeal. A gaiola ficava com a porta permanentemente aberta. O cardeal comia nas mãos de meu tio, ao amanhecer. E depois, voava para longe, passando o dia fora. Lá pelas 18:00h, servindo chimarrão para meu tio, ouvia ele dizer : "Vamos para o pátio que tá na hora do cardeal voltar". Inacreditável ! O bichinho aparecia. E como por encanto, pousava no dedo indicador do meu tio, que o colocava na gaiola. Onde já estavam um pedacinho de banana mole, uma gema de ovo e alpiste com semente de girassol. Décadas depois, contei isso numa aula de Ecologia. Enquanto me virei para apagar o quadro-negro, tive o dissabor de ouvir este comentário de um aluno da primeira fila : "Que baita atochada ! " Quer dizer: passei por mentiroso simplesmente porque estava contando...a verdade! Não se fazem mais alunos como antigamente. Que ainda tinham a perspectiva encantadora do mistério. Como também não se fazem mais tios inveteradamente encantadores. Nem tão pouco se fazem cardeais encantados com a liberdade, embora apaixonados por seu dono.
Por que esses tios têm de morrer ?
Por que esses cardeais são condenados à extinção ?
Por que a gente tem de caminhar rumo a uma antiga e pungente estação, chamada Solidão, que precede nossa chegada à estação definitiva ?

MANECO - ANOS 50

Ao decidir escrever essas reminiscências, tomei a decisão de não ir ao Maneco. Não me socorrer de nenhum depoimento. E não consultar nenhum documento. Poderia mentir aqui, dizendo que fiz isso para não causar transtorno ou incomodar pessoas. Mas prefiro dizer a verdade. Resolvi, com uma certa onipotência, confiar apenas na minha memória e nas minhas emoções. Porque, se começasse a recolher documentos, juntar xerocópias e ouvir relatos orais, meu texto sofreria influência de terceiros e um certo processo de racionalização. Que é tudo o que não queria.

MEUS PROFESSORES

Usando apenas a memória, listei tanto quanto possível, os nomes de todos os meus ex-professores do Maneco e suas respectivas disciplinas. Eles faziam parte do corpo docente do Maneco no período compreendido entre 1954 e 1962, período em que lá cursei o Ensino Fundamental (ex-Ginásio e ex-Primeiro Grau) e o Ensino Médio (ex-Científico e ex-Segundo Grau).
Inicialmente, por razões didáticas, vou apenas citá-los para, posteriormente, tecer comentários a respeito dos mesmos. Eis os responsáveis diretos pela minha formação :
1 - Albino Seibel (Latim)
2 - Edgar Libino Kloeckner (Francês)
3 - Zenaide Martinelli de Souza (Francês)
4 - Dinarte Iovari Marschall (Português)
5 - Nilza Crivellaro Santos (Inglês)
6 - Guiomar Loureiro (Espanhol)
7 - Maria Antunes Bernardes (Literatura Brasileira)
8 - Adelmo Simas Genro (Português e Francês)
9 - Cleonice Sada Aita (História Geral)
10 - Artheniza Weimann Rocha (História do Brasil)
11 - Dina Pfeifer (História das Américas)
12 - Gisela Soccal Lang (Geografia)
13 - Ivo Lauro Muller Filho (Geografia)
14 - Wilson Aita (Desenho)
15 - Ênio Trevisan (Desenho)
16 - Clóvis D'Ávila Monteiro (Educação Física: Ginástica e Esgrima)
17 - Victor Hugo Castro (Educação Física: Ginástica e Judô)
18 - Iolanda Beltrame (Desenho)
19 - Willy Vondrack (Português)
20 - Roberto Pellin (Biologia: Citologia e Genética))
21 - Tereza Grassiolli (Biologia : Botânica)
22 - Eutherpe Almeida (Biologia : Zoologia)
23 - Constantino Reis (Física)
24 - Irma Peroni (Física)
25 - Raphael "Faeco" Seligman (Física)
26 - Paulo Lauda (Química)
27 - Miguel "Vica" Sevi Vieiro (Química)
28 - Rômulo Aita (Química)
29 - Flávio Pâncaro da Silva (Matemática)
30 - Eunice Ribas (Matemática)
31 - Heleda Diquel Siqueira (Trabalhos Manuais)
32 - Olga Fischmann (Química)
33 - Iara Dias Ferreira (Latim e Português)
34 - Beatriz Weigerht (Latim e Português)
35 - Antônio Guimarães (Francês)
36 - Romar Pagliarin (Ensino Religioso)
37 - Carlos Pretto (Ensino Religioso)
38 - Ligia Indruziak (Música)
39 - Zuleika Roth Domingues (Biologia : Zoologia)
40 - Solange Loureiro (Português)
41 - Edy Maia Bertóia (Trabalhos Manuais)
42 - Maria Luíza Tchoepke Medeiros (Filosofia)
43 - Terezinha Brum Haupt (Física)
44 - Norma Sauer (Ciências)
45 - Maria Domingas Reis (História do Brasil)
46 - Noeli Braga (Latim e Português)
47 - Anastacia Musa Naime (Inglês)
48 - Eloísa (?) (Trabalhos Manuais)
49 - Lídia (?) (Inglês)
50 - Dilma (?) (Desenho)
51 - (?) Fardo (Inglês)
52 - Lorys Sanábria (Português)

OUTROS PROFESSORES

Os professores que cito a seguir não foram meus mestres, mas convivi com os mesmos, pois todos lecionavam no Maneco no período em que lá estive (1954/1962). Nos corredores da escola, no barzinho do colégio, nas festividades, de uma maneira ou outra, sempre mantive contato com os mesmos. São os seguintes :
52 -Jacob Groismann (Física)
53 - Orestes Dalcin (Português)
54 - Norma Scherer Cassel (Português)
55 - Mário Rodrigues (Matemática)
56 - Ruth Farias Larré (Francês)
57 - Vilma Assumpção Baron (Francês)
58 - Pe. Osvaldo Viegas (Química)
59 - Sady Fagundes Ramos (Português)
60 - Manoel Vianna (Inglês)
61 - Aida Weissheimer (Inglês)
62 - Alvino Michellotti (Latim)
63 - Lígia Romano (Música)
64 - Alberta Sukermann Shmulerg (Inglês)
65 - Celanira Torres (Canto Orfeônico)
66 - Victor Hugo e Souza (História geral)
67 - Elenir Munari Vogel (Latim)
68 - Milton Monteiro (Português)
69 - Edelmira Dutra "Dona Dida" (Geografia)
70 - Victor "Fontaninha" Fontana (Matemática)
71 - Alberto Bortollotto (Português)
72 - Antônio Abelin (Geografia)
73 - Fernando Ramos (Desenho)
74 - José Marques da Rocha (História do Brasil)
75 - Ladyr Anchieta (Matemática)
76 - Pe. Paulo Fuadi Quédi (Ensino Religioso)
77 - Loreno Côvolo (Ciências)

DIREÇÃO E FUNCIONÁRIOS

Durante todos os anos em que frequentei o Maneco, sempre foi Diretor o Pe. Rômulo Zanchi, Padre Palotino (SAC-Sacerdote do Apostolado Católico).
A Secretária da escola era Iolanda Zanini, que depois formou-se em Direito e atualmente é Juíza aposentada no Paraná. Inês Zanini, sua irmã, era Auxiliar de Disciplina, depois funcionária da UFSM. Também eram Auxiliares de Disciplina João Batista Copetti, que formou-se em Educação Física e Antônio Schmitt, que graduou-se em Comunicação Social.
Eram funcionários administrativos : Germano Kurle e Osmar Pohl, ambos formados em Direito anos depois.
Também devo citar a folclórica figura de João Antonello, Zelador do Maneco e residente na parte térrea do prédio. Juntamente com sua esposa e filhos, mantinha uma concorrida cantina situada no patamar da escada que ía do térreo para o primeiro andar.

Prof. ALBINO SEIBEL

Foi meu professor de Latim durante os quatro anos do então chamado Curso Ginasial, depois chamado Primeiro Grau, hoje designado Ensino Fundamental. Os quatro livros de Latim adotados eram o "Ludus Primus", "Ludus Secundus", "Ludus Tertius" e "Ludus Quartus". Contavam a história de uma família romana, onde despontavam as histórias de Cornélia e Lésbia, recheadas de conhecimentos históricos, ensinamentos sobre Gramática, sobre as Cinco Declinações, milhares de radicais latinos, etc...Era o Prof. Albino uma criatura extremamente bondosa, muito ligado à Igreja Católica, incapaz de uma grosseiria. Nos últimos cinco minutos de cada aula costumava abrir um caderno de capa dura, no qual estavam anotadas as suas anedotas preferidas. Ele as contava com uma ingenuidade de santo para uma turma de adolescentes que mais parecia uma horda de bárbaros. Lecionou também nos primeiros anos de funcionamento da FIC-Faculdade Imaculada Conceição, depois FAFRA-Faculdades Franciscanas, hoje UNIFRA. Para complementar o vergonhoso salário de sua aposentadoria como professor estadual, nos últimos anos de sua vida corrigia os originais de teses de Mestrado e Doutorado, bem como trabalhos de pesquisa, editando-os em sua própria residência, onde mantinha um excepcional serviço de datilografia, mecanografia e encadernação. Sua filha casou com um jogador de futebol, meu ex-aluno do Curso Pré-vestibular Master, tendo o casal ido morar em Portugal, porque o rapaz assinara contrato com um time de futebol daquele país.O Prof. Albino viajou a Portugal para visitar sua filha e seu genro e lá, durante a visita, veio a morrer vitimado por fulminante infarto do miocárdio. Tinha dois outros filhos, um formado em Engenharia e hoje aposentado da Rede Ferroviária e o outro, popularmente chamado de "Caquinho", formado médico e residente no Rio de Janeiro. Quando fui vereador pelo PDT-Partido Trabalhista Brasileiro, na legislatura de 1989/1992, tive a oportunidade de ser autor de lei municipal que colocou o nome de Albino Seibel numa das ruas da COHAB-Tancredo Neves. Procurei, em vão, uma rua sem denominação nas proximidades do prédio do Colégio Estadual Manoel Ribas, mas todas já tinham denominação. Conservo carinhosamente em minha biblioteca a obra "Phrases e Curiosidades Latinas", edição póstuma de 1952, de autoria do Prof. Arthur Vieira de Rezende e Silva, que me foi presenteada pelo Prof. Albino. Trata-se de alentada obra, de 935 páginas, com 7267 citações, frases e curiosidades latinas. Depois de aposentado, o Prof. Albino chamou-me, estendeu este livro para mim e disse carinhosamente : "Foste o melhor aluno de Latim que eu já tive e este livro estará bem guardado em tuas mãos". Esforço-me até hoje para ter merecido este elogio. Diariamente, em minhas aulas de Zoologia, Citologia, Genética, Ecologia e Botânica, tenho o cuidado de desdobrar etimologicamente os termos que designam animais e vegetais, explicando o significado das raízes, prefixos e sufixos latinos. Que fortuna ter tido o professor Albino como meu mestre !!!

PROF. EDGAR LIBINO KLOECKNER

Talvez tenha sido um dos mestres que mais influência teve na minha formação, pois sempre nutri verdadeira admiração por sua cultura e inteligência. Ficava fascinado por sua extraordinária memória. É de sua autoria essa frase que ainda hoje repito aos meus alunos do Colégio Coração de Maria : "A memória é esta incrível faculdade que só possui uma propriedade : a de esquecer as coisas que aprendeu". E o Edgar nos ensinava então que, "para não esquecer, só há um método : a técnica da repetição". Foi meu professor de francês durante três anos no Maneco. E muito anos depois, já formado em Agronomia, quando resolvi cursar Comunicação Social-Jornalismo, foi novamente meu professor na disciplina de "Comunicação em Língua Francesa". Ex-seminarista, cunhado do ex-padre Ir. Vitrício (famoso pelos seus dons mediúnicos e parapsicológicos), o Prof. Edgar é dono de uma vastidão de conhecimentos que embasbacava alunos sensíveis como eu, que ficavam boquiabertos diante do mestre. Morava num apartamento da Galeria do Comércio, no Calçadão. Depois de aposentado, foi morar nas proximidades do Supermercado Nacional, à rua Marques de Herval, onde o visito sempre que posso. No intervalo de uma das aulas da Comunicação Social, fui ao corredor falar com o mestre, porque havia achado o mesmo meio triste, depressivo, durante a primeira hora de aula. Contou-me ele que tinha acabado de chegar de viagem, motivada pela morte de um irmão seu, figura a quem muito prezava. Deitou a cabeça sobre a báscula da janela do corredor do prédio da Antiga Reitoria e pôs-se a chorar, o que muito me comoveu. Recentemente, sofreu cirurgias melindrosas para lhe extirpar um câncer intestinal, razão pela qual ficou mais de dez horas anestesiado. Disse-me ele : "Acho que as anestesias deixaram sequelas na minha memória". Cumprimentava-o aos domingos, na missa das 18:00h, no Santuário-Basílica da Nossa Senhora Medianeira, onde o abraçava afetivamente, pois se encontrava entristecido pela morte de sua querida esposa. Infelizmente, o professor Edgar também faleceu há pouco.

PROF. ADELMO SIMAS GENRO

Foi meu professor de Português e de Francês, tão logo chegou de São Borja, embora nascido em Santiago. Talvez tenha sido o professor com o qual mais intimidade tive pelo fato de conviver quase diariamente com toda a sua família. Carlos Horácio Hertz Genro, seu filho médico, radiologista, foi meu colega nas quatro séries do Primeiro Grau e nas três séries do Segundo Grau, isto é, durante sete anos sentamos lado a lado, na primeira fila de carteiras da sala, pois as carteiras eram para dois alunos. Fomos colegas de aula durante todos esses anos graças ao prof. Adelmo que, na condição de Prof. Assistente de Turno, autorizava ao pessoal da Secretaria que meu nome e o de Carlos Horácio ficassem na mesma turma. Na época das provas, durante os estudos preparatórios para os exames, eu ficava na casa do Prof. Adelmo durante uma semana e, na semana seguinte, o Carlos Horácio ficava na minha casa. O Prof. Adelmo morava em ampla residência, à rua Duque de Caxias, quadra entre a Coronel Niederauer e a Olavo Bilac. Dona Elly, esposa de Adelmo, servía-nos cafés-da-tarde onde eu me fartava de comer figada, perada, marmelada, que compravam em enormes latas para abastecer a numerosa prole e amigos. Também Dona Elly permitia que fizéssemos "reuniões dançantes" na ampla varanda da parte posterior da casa. Lá eu dançava com Suzana, irmã de Carlos Horácio, que anos depois casou-se com Walter Robinson, dentista e professor universitário, muito ligado ao Movimento Cursilhista da Igreja Católica. Walter, irmão do querido amigo Carlos Alberto Robinson, faleceu vitimado pelo câncer. A filha de Walter e Suzana foi minha aluna no Curso Pré-vestibular Master e cursou, depois, Psicologia em Porto Alegre. Outro filho, Adelmo Genro Filho, apelido "Memo", precocemente falecido, era jornalista e respeitado ativista político. Tarso Genro, talentoso escritor, advogado sindicalista, ex-Prefeito de Porto Alegre é, agora, Ministro do Governo Lula. Escreveu seu primeiro livro, que era de poemas, intitulado "Vento Norte" (inexplicavelmente, nunca citado citado em seu currículo publicado na imprensa estadual) e que foi lançado em sessão de autógrafos no salão de eventos da outrora ativíssima USE-União Santa-mariense dos Estudantes, no subsolo de um prédio jamais terminado, à rua do Acampamento, proximidades do Colégio Centenário. Possuo um volume do livro, devidamente autografado. Tarso casou-se com Sandra Krebs, cujo pai era gerente do então existente Banco do Comércio, situado na esquina do Calçadão, onde hoje funciona a Caixa Econômica Federal. Ainda lembro da Júlia, a outra filha do Prof. Adelmo, formada em Odontologia. Fiz campanha para o prof. Adelmo quando ele foi candidato a Vice-prefeito pelo PTB-Partido Trabalhista Brasileiro (PTB de Getúlio Vargas e de Jango, o PTB original), numa chapa encabeçada pelo Prof. Paulo Lauda, para Prefeito. Ambos obtiveram estrondosa vitória, mas foram perseguidos e tiveram seus mandatos cassados pela Revolução de Março de 1964. Quem os conhecia de perto, como eu, não só como aluno mas como amigo particular, ficou estarrecido com tamanha violência contra dois homens de bem, de conduta inatacável, quer como pais de família, quer como profissionais, quer como políticos ! Adelmo formou-se em Direito e foi advogado militante na comarca de Santa Maria. Publicou vários livros. Foi membro ativo da Academia Santa-mariense de Letras. Tenho exacerbado carinho pela Dona Elly e profunda admiração pela sua coragem, pois ela sempre foi o esteio da Família Genro. Toda a saga da Família Genro, suas vitórias, seus momentos de apreensão e de dor, tiveram forte anteparo na coragem pessoal do forte espírito de Dona Elly. Adelmo morreu quando se recuperava de uma cirurgia feita em Porto Alegre e deixou muita saudade. Seu nome é lembrado pela Câmara de Vereadores numa de suas dependências. E também o estúdio principal da então Rádio CDN, hoje Rádio Antena UM, dirigida pelo amigo Paulinho Ceccin recebeu o nome do Adelmo.

PROFa. ZENAIDE LÚCIA MARTINELLI DE SOUZA

Foi minha professora de Francês durante dois meses e minha professora de Literatura Portuguesa durante um semestre. Era esposa do Dr. Denizard Souza, médico psiquiatra, um dos fundadores do Centro Médico Hospitalar e adepto do Espiritismo em Santa Maria. Foi através da Profa. Zenaide que fui apresentado à Eça de Queiróz, Camões, Fernando Pessoa e tantos outros monstros sagrados portugueses. Por incrível que pareça, nós fazíamos análise sintática dissecando os versos de "Os Lusíadas". Atualmente, nossos filhos e netos nem sabem o que é análise sintática. Moramos na América LATINA, falamos português (que é derivado diretamente do Latim)...e deixamos de estudar Latim no colégio ! O aluno não conhece a origem da língua que fala, o esqueleto da própria língua ! Daí a dificuldade de elaborarem uma singela redação de vinte linhas nos exames vestibulares...

PROF. DINARTE MARSHALL

Trajando sempre uma indefectível "fatiota", como se dizia na época, foi meu professor de Português. Dava especial ênfase às leituras em voz alta, com preciosos ensinamentos sobre impostação de voz, uma novidade para aquela época. Formou-se também em Direito, sendo advogado atuante na comarca de Santa Maria.

PROFa. NILZA CRIVELLARO SANTOS

Foi minha professora de Inglês e, quase trinta anos depois, miha colega de magistério nos cursos pré-vestibulares Master e Riachuelo. Elaborava e obrigava a turma a decorar centenas de expressões idiomáticas, que foram muito úteis durante os estudos universitários. Morava num prédio em frente ao antigo Cinema Glória, atual "Ponto de Cinema". Sua filha, Denise, seguiu-lhe os passos, pois também é professora de inglês no Curso Pré-vestibular G-10. Seus dois filhos homens são ligados à área da publicidade e propaganda. Seu marido, Carlinhos, foi gerente das Casas Roth durante muitos anos.

PROFa. GUIOMAR LOUREIRO

Com feições indiáticas - mais lembrava o rosto de uma índia peruana - e um eterno sorriso, era a minha tranquila professora de Lingua Espanhola. Lembro bem do livro-texto que ela indicava : "Manual de Espanhol", de autoria de Hidel Becker. Eu fico cogitando da inteligência das pessoas que exerciam cargos diretivos no sistema educacional gaúcho naquela época ! Principalmente, penso na visão premonitória que tiveram essas pessoas, pois corria a década de 50, 60 e nunca alguém tinha falado em unidade do Cone Sul, em MERCOSUL e coisas do gênero. E o nosso Maneco já oferecia - há 50 anos - estudos de Espanhol para seus alunos. A Arize, filha de Guiomar, foi minha colega de aula durante anos. Formada em Odontologia, casou-se com Flávio Weighrt, também dentista e professor universitário. O marido de Guiomar, de apelido "Mico", era sócio-proprietário do Posto Esso, de combustíveis, situado no térreo do edifício de quatro andares que ainda existe bem em frente à Igreja Catedral, na avenida Rio Branco. Atrás desse edifício era a quadra de basquete do famoso Clube Irajá, onde jogavam o ex-Reitor Armando Vallandro (de apelido "Picolé"), o ex-Deputado Federal e Estadual Carlos Renan Kurtz, o médico-psiquiatra Milton Sanchis (de apelido "Mico"), etc...

PROFa. MARIA ANTUNES BERNARDES

Morava com a mãe e irmãs numa antiga casa, situada entre a avenida Rio Branco e rua André Marques, quase ao lado da residência de Dom Luiz Victor Sartori, bispo diocesano à época. Foi minha professora de Português e Literatura Brasileira. Ministrava encantadoras aulas sobre o Barroco, Realismo, Romantismo, Modernismo, etc...Seu irmão, Sérgio Carvalho Bernardes, foi professor de Geografia e Pró-reitor de Graduação da UFSM. "Mariazinha", como era carinhosamente chamada por todos, casou-se com Nevaldo Sanger,plantador de arroz em Uruguaiana. Ambos morreram, com apenas uma semana de diferença.

PROFa. CLEONICE SADA AITA

Brilhante professora de História Antiga, temida pelo tipo de perguntas que fazia nas provas, pois eram testes que não exigiam memória, mas acurado raciocínio. Aceitava brincadeiras de toda ordem, não se intimidando diante dos alunos mais "avançadinhos", lhes dando o troco na mesma medida. Casada com o Prof. Wilson Aita, que lecionava a disciplina de Desenho, Cleonice era dedicadíssima aos filhos, muito preocupada com a saúde dos mesmos, pois alguns eram diabéticos. Adorava ouvir e contar anedotas. A tristeza não fazia morada nas rodas de conversa onde ela estava.

PROFa. ARTHENIZA WEIMANN ROCHA

Foi minha professora de História do Brasil e costumava, sempre que possível, proporcionar exemplos de exercício de cidadania. Com profunda vocação democrática, nos levava até o prédio do Forum da comarca, à Praça Saldanha Marinho (onde hoje funciona a "Casa da Cultura"), onde eram realizadas as apurações - voto a voto - das eleições. Já nas primeiras séries do colégio, aos 12, 13 anos, a gente já tinha uma noção prática de como se processava o regime democrático. Seu marido, Dr. Floriano Rocha, era ativo militante do PTB-Partido Trabalhista Brasileiro e getulista doente. Foi candidato a Prefeito Municipal, não logrando êxito. A professora Artheniza era irmã do Dr. Sérgio Weimann, conhecido médico-pediatra, com o qual trabalhei muitos anos depois como auxiliar administrativo do SAMDU-Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência, primoroso serviço médico criado pelo então presidente João Goulart. A meu juízo, o SAMDU foi a coisa mais séria já criada no Brasil em termos de atendimento médico à população. Funcionou o SAMDU inicialmente quase ao lado do Hospital de Caridade "Astrogildo de Azevedo" e, depois, definitivamente, na rua Dr. Wauthier, perto da Cooperativa dos Ferroviários, na chamada Vila Belga. Com o advento da Revolução de março de 1964, o SAMDU foi fechado pelos militares.

PROFa. DINÁ PFEIFER

Foi minha professora de História das Américas, adotando um livro básico de autoria do historiador Borges Hermida. Era um temperamento irascível, tanto com os colegas quanto com os alunos. Mulher de "pavio curto", ela se irritava com grande facilidade. Durante as aulas, falava sem parar um só minuto. E não parava de caminhar um só momento por todos os cantos da sala. Aquele toc-toc dos seus sapatos altos deixavam a gente meio nervoso. Atualmente, vive em Porto Alegre. Uma outra professora do Maneco me contou que, no fim de 1997, ao assistir uma missa na Igreja do Rosário, em Porto Alegre, teve despertada sua atenção para um bate-boca na saída da celebração, no hall da igreja. Era a professora Diná Pfeifer que, aos gritos, defendia suas opiniões não se sabe a respeito de que. Coerente comportalmente...ainda continua zangada na Terceira Idade !

PROFa. GISELA SOCCAL LANG

Professora de Geografia do Brasil, possuia excepcional didática ao explicar a matéria. Mulher alta, forte, robusta, demonstrava muita segurança. Seu marido era um comeciante de cabelos brancos, que trabalhava na hoje extinta Casa Escosteguy, à rua do Acampamento, logo depois do Clube Caixeiral. Exatamente no local onde, décadas antes, mataram a tiros o então Juíz de Direito, pai do poeta pré-modernista Felippe D'Oliveira, autor do livro "Lanterna Verde".

PROF. IVO LAURO MULLER FILHO

Fumante inveterado, era morador do Edifício Pisani, situado na esquina da rua Venâncio Aires com a rua Floriano Peixoto. Magistral ao ministrar aulas de Geografia Geral ! Tinha grande aptidão para o desenho, fazendo ilustrações muito rápidas na "pedra", designação que se dava ao quadro-negro (que, aliás não era negro, era verde...). Os nossos avós chamavam a pedra ou quadro-negro de "lousa". Anos depois foi Professor Titular Doutor do Curso de Geografia da UFSM. Morou durante muitos anos numa casa na zona da serra, em Itaara, no chamado Parque Serrano, transferindo-se depois para a rua Erly de Almeida Lima, na Vila Assunção, em Camobi. Tive a oportunidade de com ele conviver em jantares e churrascos na residência do comum amigo, Dr. Renan, delegado de polícia em Santa Maria. Ivo também já nos deixou...

PROF. WILSON AITA

Professor de Desenho, entrava na aula caminhando sempre lentamente, carregando compasso e esquadro gigantes, de madeira, para realizar seus notáveis desenhos de elipses, parábolas, ciclóides e estudos de perspectiva. Casado com a professora Cleonice Sada Aita, de História Geral, era comportamentalmente o inverso da cônjuge. Ela, extrovertida. Ele, falando o estritamente necessário. Engenheiro Civil, depois de labutar anos na iniciativa privada e no Maneco, dedicou-se à criação do Centro de Tecnologia da UFSM, com a implantação de vários cursos de Engenharia. Seu secretário na UFSM era o amigo Cláudio Lopes dos Santos, irmão do Dr. Zózymo Lopes dos Santos, farmacêutico e Pró-Reitor de Pós-graduação da UFSM, onde ministrava aulas na disciplina de Higiene e Saúde Pública.

PROF. ÊNIO TREVISAN

Professor de Desenho, acumulava também as funções de Prof. Assistente do turno da manhã, tarefa que exercia com rigor prussiano no que tange à disciplina. Também muito alegre e gozador nas horas de folga, vivia "empulhando" todo mundo, isto é, fazendo brincadeiras e passando trotes com seus colegas professores. Mestre competente, cérebro marcado por profunda formação matemática, lamentava-se para mim - muito anos mais tarde - por não saber escrever, pois gostaria muito de redigir reminiscências sobre o Maneco e a cidade. Era irmão do Dr. Hygino Trevisan, espírita e advogado e de Eduardo Trevisan, pintor, desenhista e fotógrafo, ambos já falecidos. Os murais pintados por Trevisan valorizam os prédios do "campus" da UFSM, onde podem ser apreciados na Biblioteca Conde de Porto Alegre, Planetário, Prédio da Administração Central, Centro de Tecnologia, etc...Morou o Prof. Ênio Trevisan na esquina da rua dos Andradas com a rua Conde de Porto Alegre. Ênio sempre demonstrou entusiasmo ao relembrar os feitos do Maneco no período 1954/1962, pois sempre que me encontrava, dizia : "Que geração de professores, heim Pizarro ?" Eu sempre replicava : "E que geração de alunos, heim ? "

PROFa. DILMA

Foi professora de Desenho por muito poucos anos no Maneco. Mulher alta, elegante, cabelo modelo Chanel, muito simpática e acolhedora com os alunos. Costumava levar vasos de argila ou frutas que - colocados em cima de uma cadeira, sobre a mesa da mestra - serviam de modelo para a execução de nossas naturezas-mortas. Produto "moderno", recém-lançado nas livrarias, o giz-de-cera fazia sucesso entre os alunos e era o material preferido da professora. Morava na rua dos Andradas, entre a Duque de Caxias e a Conde de Porto Alegre, atrás do Clube de Atiradores Santa-mariense.

PROF. CLÓVIS MONTEIRO D'ÁVILA

Era Coronel da Brigada Militar do RS e um entusiasmado professor de Educação Física, preparando várias equipes do Maneco para as modalidades de desporto disputadas nos famosos "Jogos da Primavera". Estes jogos, uma criação de "Estado Novo", era uma idéia do Presidente Getúlio Dorneles Vargas, conservada por seus sucessores. Constituía-se numa disputa de cerca de duas semanas de duração entre todos os colégios da cidade, que disputavam entre si todas as modalidades de esportes. Era uma acirrada disputa entre as escolas, quer nos esportes coletivos (basquete, vôlei, futebol, futebol de salão, etc...), quer nos individuais (ginástica, atletismo, corridas, maratona,etc...).O início dos jogos era marcado por um monumental desfile (que era chamado de "parada"), que durava cerca de cinco horas, pois todos os alunos de todos os colégios eram obrigados a desfilar. O percurso da "parada" era desde o Colégio Centenário, na rua do Acampamento (início do desfile), passando por toda a extensão da avenida Rio Branco e terminando na gare da Viação Férrea. O professor Clóvis era sobretudo entusiasmado por vôlei, judô e esgrima. Ele também ministrou aulas, anos depois, no Curso Superior de Educação Física da UFSM, onde veio a se aposentar. Morou, até sua morte, no Edifício Guanabara, à avenida Presidente Vargas. Sua esposa ministrava aulas de "Comunicação em Língua Inglesa" no Curso de Comunicação Social da UFSM.

PROF. VICTOR HUGO CASTRO

Também Coronel da Brigada Militar do RS, era companheiro do Cel. Clóvis na disciplina de Educação Física. Era o Comandante do Corpo de Bombeiros da cidade, que tinha então uma pequena guarnição sediada no pátio da Câmara de Vereadores, à rua Vale Machado. Baixinho, cabelos grisalhos, barrigudo, usava óculos de aros grossos e era um glutão inveterado. Os alunos ficavam estupefatos ao vê-lo comer mocotó, uma das suas predileções gastronômicas, pois ele devorava seis a sete pratos fundos da singela sopa...

PROFa. IOLANDA BELTRAME

Professora de Desenho, alta, cabelos ruivos, muito séria e de poucas palavras. Morava quase ao lado do Ginásio do Corintians, à rua General Neto. Sempre me entusiasmou muito a continuar desenhando, pois acreditava que eu tinha pendor para fazê-lo. Realmente, seus ensinamentos me foram de muita valia, pois até hoje - ao ministrar aulas de Bilogia - necessito usar dezenas de desenhos em cada aula, caprichosa e rapidamente feitos com giz colorido no quadro-negro (que, teimosamente, chamo até hoje de "pedra"...).

PROF. WILLY VONDRACK

Foi professor de Português, tendo se graduado posteriormente em Direito. Tocava violino da Igreja Evangélica de Santa Maria. Quando seus colegas professores ficaram sabendo dessa sua faceta musical, liderados pelo bem-humorado professor Ênio Trevisan, foram todos ao culto para assistí-lo exercitar seus dotes de violinista. A comunidade evangélica, na ocasião, ficou surpresa com a quantidade de "novos membros" presentes ao culto. O pastor, entre afoito e otimista, chegou a falar no sermão em "conversão coletiva". Mas tudo não passava de uma simples brincadeira para constranger o professor Willy, que era muito encabulado...

PROF. ROBERTO PELLIN

Descendente de italianos, bonachão, sempre de terno e gravata, abria seu caderno de capa dura - onde estava o resumo da aula - e começava sua dissertação de Biologia, passeando sem parar por toda a aula. De origem humilde, com muita dificuldade conseguiu formar-se em Medicina. Depois de formado, foi clinicar em Porto Alegre.

PROFa. TEREZA GRASSIOLLI

Foi a melhor professora de Botânica que tive em toda a minha vida e uma das responsáveis por ter feito vestibular para Agronomia e ter me transformado em professor de Biologia. Dava toda a matéria, desde Citologia e Histologia, passando pela Fisiologia, Organologia e indo até à Sistemática ou Taxonomia Vegetal. Sabia, como ninguém, fazer fantásticos e maravilhosos desenhos de Angiospermas e Gimnospermas no quadro-negro. A partir de 1967, já formado e dando aulas na UFSM, fui seu colega no Departamento de Biologia da UFSM, onde ela exerceu a Chefia, sucedendo aos professores Dr. Romeu Beltrão (médico) e Dr. Armando Adão Ribas (Engenheiro Agrônomo).

PROFa. EUTERPE ALMEIDA

Foi minha professora de Zoologia, no terceiro ano do Curso Científico. Foi a primeira turma para a qual ela deu aula, uma vez que era recém-formada. Casou-se com o então estudante de Medicina, Nei Almeida, mais conhecido pelo apelido de "Neizinho", exímio jogador de basquete do Corintians de Santa Maria. Foi várias vezes campeão estadual de basquete jogando pelo Corintians, cujo quadra era chamada "Alçapão" e ficava atrás do Clube Caixeiral, onde hoje existe um estacionamento de automóveis. Euterpe mudou-se para a cidade de Santana do Livramento, onde Nei Almeida foi clinicar depois de formado.

PROF. CONSTANTINO REIS

Foi professor de Física do Maneco, recém-transferido da cidade de Cruz Alta por perseguição política devido à altercação mantida com um aluno, filho do Delegado de Polícia daquela cidade. Anos depois, este aluno - já cursando Medicina em Santa Maria - foi um dos responsáveis pela anulação dos exames vestibulares da UFSM, pois tinha conseguido roubar os originais das provas da gráfica da Universidade e vender as cópias para dezenas de vestibulandos. O fato foi denunciado corajosamente pela professora Águeda Brazzalle Leal, que tinha sido procurada às vésperas do vestibular por um dos vestibulandos que havia comprado as provas e queria que a mestra resolvesse as questões. Feita a denúncia, o então reitor Hélios Homero Bernardi anulou o vestibular, fato que ganhou notoriedade nacional. Uma vez em Santa Maria, Constantino Reis também fez o curso de Engenharia Civil, onde lecionou depois, embora por poucos anos. Fundou, deu aulas e dirige até hoje o Curso Pré-vestibular Constantino Reis, situado à rua dos Andradas, logo abaixo da avenida Rio Branco. Com notáveis recursos didáticos, é grande professor de Física. O professor Constantino é o mestre que melhor uso faz do quadro-negro, com caprichosos gráficos e elucidativos cálculos demonstrados em minúcias. Nunca vi outro professor fazê-lo igual...

PROFa. IRMA PERONI

Era professora de Física e também de Matemática. Para minha turma, ministrou aulas de Ótica e Eletricidade. Tinha feito cursos de especialização na Itália, numa época em que nem se imagina criar cursos de Mestrado e Doutorado. Moarava sozinha num apartamento situado do recém construído Edifício Taperinha. Tinha uma deficiência numa perna, o que a obrigava ao uso de sapatos ortopédicos especiais, produzindo-lhe dificuldades para ficar em pé durante muito tempo. Mesmo assim, sempre deu quatro a cinco períodos de aula seguidos, sem nunca ter feito uma só queixa ou tirado atestado médico, recurso tão em moda nos dias atuais...

PROF. RAPHAEL SELIGMAN

Ministrou aulas de Física e Química, enquanto fazia o curso de Medicina na UFSM. Judeu, temperamento afável, era muito simpático e querido por todos. Formado, foi ministrar aulas de Otorrinolaringologia na UFSM. Juntamente com seu colega Dr. Cóser,foi grande incentivador da criação do Departamento da Fala, embrião para a criação do Curso de Fonoaudiologia. Também falecido.

PROF. PAULO LAUDA

Foi meu fabuloso professor de Química Orgânica ! Médico, formado na Universidade Federal do Paraná (a primeira Universidade brasileira, fundada em 1912), clinicava em Santa Maria e tinha grande militância política. Foi eleito Prefeito Municipal pela sigla do antigo PTB. Foi posteriormente cassado pela Revolução de Março de 1964, tendo seus direitos políticos suspensos. Foi professor de Dermatologia do Curso de Medicina da UFSM, onde foi - por várias vezes - escolhido paraninfo e homenageado das turmas de formandos, tal a admiração que os alunos nutriam por ele. Fumante inveterado, espantava aos alunos o fato de durante a aula acender um cigarro no outro para, assim, continuar fumando ininterruptamente durante horas. Morreu por isso, vitimado por um brutal enfisema pulmonar. Ela dava sempre aula no último período, que terminava às 12:30h. Muitas vezes ele me ofereceu carona até minha casa, em seu carro DKW vermelho e branco. Tempos depois, durante muitos anos foi presidente do ATC-Avenida Tênis Clube. Na época de verão, depois de assinar a papelada na secretaria do ATC, sentava-se numa mesa ao lado da piscina para tomar seu whisky. Já casado, formado, muitas vezes lhe fiz companhia nessa mesa para papos intermináveis e grandes recordações.

PROF. MIGUEL SEVI VIEIRO

De apelido "Vica", foi professor de Química e também prefeito de Santa Maria. Homem de quase dois metros de altura, quase careca, gritão,barulhento,brincalhão, extrovertido, não havia possibilidade de silêncio por onde estivesse ou andasse. Morava à rua Dr. Bozano, quase na praça Saturnino de Brito, num prédio de dois andares, encimado pelo único "relógio do sol" que a cidade tinha. Durante anos exerceu as funções de médico proctologista do instituto de previdência dos ferroviários, já que antes da unificação da Previdência Social no país (criação do INPS, depois INSS), cada categoria de trabalhadores tinha seu próprio instituto. Contava-se no meio estudantil que cada ferroviário que ía a uma consulta com o Dr. Vieiro, para fins de exame de hemorróidas ou próstata, não costuma regressar jamais, pois o mestre era conhecido por possuir o dedo indicador mais grosso e longo de todo o município...Juntamente com sua esposa, foi proprietário de um restaurante chamado "Pingo de Mel", que funcionou à rua Venâncio Aires, em frente ao atual Restaurante Bovinus e Associação Rural. O restaurante servia saborosas iguarias, sob encomenda, como "pato laqueado", além dos primorosos doces feitos pela Dona Eugênia, esposa de "Vica". O restaurante "Pingo de Mel" era avançado demais para para o público santa-mariense. Acho que até hoje seria... Pois, passados mais de 40 anos, a apetência gastronômica da cidade sempre foi - historicamente - pelo galeto, radite, polenta e afins. A população sempre teve o duvidoso gosto por restaurantes enormes, com dezenas e dezenas de mesas, onde as pessoas íam mais para serem vistas. Locais onde a gente nem pode conversar direito, tal o barulho. E todos podem cuidar da vida de todo mundo, desde o modo de vestir, passando pelo prato pedido até à observação do(a) companheiro(a) da refeição. O "Pingo de Mel" tinha menos de 10 mesas, era aconchegante, atendido pelos proprietários, típico local para se namorar ou comemorar uma data mais íntima. Local para ser frequentado por civilizados, não movidos a suco gástrico, saliva e peristaltismo intestinal. Por gente que quer algo mais...música suave, enlevo, paz e um certo bolor de Primeiro Mundo. Por isso, infelizmente, tal restaurante teve vida efêmera...

PROF. RÔMULO AITA

Foi professor de Química, enquanto cursava Medicina na UFSM. Depois de formado, lecionou na UFSM. Especializou-se em Cardiologia. Mora até hoje na rua Benjamin Constant, quase em frente ao Edifício dos Oficiais da Brigada Militar.

PROF. FLÁVIO PÂNCARO DA SILVA

Foi temido professor de Matemática pelo rigorismo de suas provas. Muito jovem, cabelo rigorosamente penteado e ajeitado com um produto que lhe dava um brilho especial (acho que era "Brilhantina" ou "Glostora", produtos muito usados na época), provocava suspiros nas meninas. Gostava muito de fazer demonstração minuciosa de teoremas no quadro-negro. Lembro até hoje do "Teorema dos Ângulos Alternos-Internos", de saudosa memória. Depois, fez o curso de Direito, passando a exercer a advogacia. Foi para Porto Alegre onde, mediante concurso, foi guindado à condição de Juiz de Direito. Quando se aposentou da magistratura gaúcha, o Dr. Adelmo Genro viajou a Porto Alegre para lhe entregar uma placa em nome dos colegas e amigos de Santa Maria.

PROFa. EUNICE RIBAS

Professora de Matemática, magra, ágil, rápida no raciocínio e no falar. Seu marido era engenheiro do DAER-Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem do RS. Era prima do meu saudoso amigo e colega Eng. Agr. Armando Adão Ribas, um dos fundadores do Curso de Agronomia da UFSM, no ano de 1962.

PROFa. HELEDA DIQUEL SIQUEIRA

Ex-diretora do Grupo Escolar João Belém, foi uma das minhas professoras de Trabalhos Manuais.

PROFa. HELOÍSA

Baixinha, corpo escultural em forma de violão, óculos de grossas lentes, também foi minha professora de Trabalhos Manuais. Solteira, sorridente, fazia suspirar o coração de todos os alunos do colégio que, em seus devaneios onanísticos, só pensavam nela...Acredito que muitos professores eram fascinados por aquela verdadeira Vênus calipígia ! Que faria qualquer Sheila Mello ou Carla Perez recolherem-se à sua insignificância...

PROFa. MARIA GESSI FISHMANN

Brevilínea, extremamente simpática, ativísima, também foi minha competente mestra de Matemática. Grande capacidade didática e muita paciência para explicar abstrações matemáticas para gente que, como eu, tinham dificuldades com números. Moarava na esquina da rua Silva Jardim com a rua Conde Porto Alegre.

PROFa. OLGA FISHMANN

Foi minha professora de Química Inorgânica na primeira série do Científico, sempre falando em seus ácidos, óxidos, bases, sais e cálculos estequiométricos e ajustagem de equações. Costumava fazer tricô enquanto dissertava sobre a matéria. Era farmacêutica e entrou na UFSM como laboratorista, no Curso de farmácia, transformando-se depois em pesquisadora de Parasitologia e Micologia Médica, fazendo notável dupla com o cientista professor Dr. Alberto Thomás Lôndero, de renome internacional por seus trabalhos de pesquisa sobre fungos. Lembro de uma edição da revista norte-americana "Micology", que estampava na capa o retrato do Dr. Alberto Thomás Lôndero. No inicío de sua vida médica, o Dr. Lôndero exerceu a especialidade de Pediatria, tendo sido meu médico quando criança, conforme informação que me foi passada por meus pais. O Dr. Lôndero faleceu em 26 de agosto de 2003

PROFa. IARA DIAS FERREIRA

Filha do Eng. Dias, um dos responsáveis pelas construções iniciais dos prédios do "campus" da UFSM em Camobi, a professora Iara foi casada com o Eng. Agr. Mário Ferreira, lotado na Carteira Agrícola do Banco do Brasil e professor de Meteorologia e Climatologia no Curso de Agronomia da UFSM, já falecido. Foi minha professora de Latim e de Português. Mário e Iara têm três filhas mulheres e moram à rua Jorge Abelin, atrás do Colégio Centenário.

PROFa. BEATRIZ WEIGHRT

Recém-formada, foi nomeada para o Maneco como professora de Latim e Português. Morava com sua família à rua Professor Braga, ao lado da CE-1 (Casa do Estudante Universitário). Seu pai, professor Erwino Weighrt, era conceituado mestre do Curso de Farmácia da UFSM. Seu esposo era funcionário do então existente Banco da Bahia, localizada na Galeria do Comércio (em frente à residência do Reitor Mariano da Rocha) e, depois, no térreo do edifício da SUCV-Sociedade União dos Caixeiros Viajantes, onde hoje está a Farmácia vruz Vermelha. Beatriz, atualmente, está residindo em Portugal.

PROF. ANTÔNIO GUIMARÃES

Foi professor de Francês e um dos homens mais ranzinzas que conheci, muito embora, particularmente, nunca tivesse tido nenhum atrito com ele em sala de aula. Mas era temido não só por alunos e funcionários, como também por alguns professores. Formou-se em Direito. Atualmente, muito doente, magérrimo, reside na cidade de Arroio dos Ratos.

PROF. ROMAR PAGLIARIN

Era padre e professor de Ensino Religioso. Tinha acendrado senso do exercício da cidadania que, com desenvoltura e despojamento, procurava transmitir aos alunos. Não era muito bem visto pelos militares. Nas quermesses realizadas no pátio então existente atrás da Igreja Catedral, algumas vezes sentei-me à sua mesa para horas de conversações sobre todo tipo de assunto, principalmente política. Pacientemente, ouvia e me esclarecia sobre as dúvidas que eu suscitava. Andava numa espécie de moto da época, de nome Lambreta. Na despedida de nossa turma, com monumental churrasco realizado na Estação Experimental de Silvicultura, no distrito de Boca do Monte, os alunos pegaram sua Lambreta à revelia e se acidentaram com a mesma, danificando-a. Este churrasco, que durou o dia inteiro, merecia um capítulo à parte, pois aconteceu de tudo. Joacir Medeiros, hoje Doutor em Física e professor da UFRGS, completamente embriagado, subiu na longa mesa dos professores e correu sobre a mesma, pisando em pratos de maionese, com farinha espirrando para todos os lados. Parou na frente do temido Pe. Rômulo Zanchi, diretor do Maneco e lhe dirigiu desaforos aos berros. Outros "detalhes" desse churrasco abstenho-me de registrá-los, pois alguns dos personagens envolvidos são "senhores de respeito" hoje em dia... Romar deixou o sacerdócio. Casou-se, morando atualmente no Residencial Florença, à rua Benjamin Constant. Tem filhos formados, um deles em Medicina. Ministra aulas na UNIFRA.

PROF. CARLOS PRETTO

Também padre e professor de Ensino Religioso. Igualmente, tinha a mesma visão de mundo do Romar Pagliarin. Era combativo, exuberante ao desfiar suas argumentações e defender seus pontos-de-vista. Fascinava a classe. Lembro que tinha muito aluno que não professava a fé católica, ou que era ateu, e que reverentemente assistia às suas aulas. Abandonou a batina. E se casou com a filha do reverendo da Igreja Episcopal, Siloé Pereira Neves, irmã do bispo atual Jubal Pereira. Estão morando em São Paulo.

PROFa. LIGIA INDRUZIAK

Professora de Música, moradora do trecho inicial da então Visconde Ferreira Pinto, hoje designada rua Comissário Justo. Àquela época, a Visconde Ferreira Pinto se iniciava no cruzamento com a Silva Jardim; hoje , ela recebe este nome apenas depois da ampla área outrora pertencente à Viação Férrea, já no Bairro Itararé. A professora Lígia, de descendência polonesa, era irmã da bióloga Leocádia Indruziak, que foi minha colega no Maneco e depois, minha colega no Departamento de Biologia da UFSM, durante trinta anos, onde ela ministrava aulas sobre Vertebrados. Uma curiosidade quanto ao nome da rua, Comissário Justo : tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, pois ele era temido pela gurizada da cidade devido às funções que desempenhava com rigor. Ele era Comissário de Menores, nomeado pelo Juiz Diretor do Forum, com as funções de ficar na portaria do Cine-Teatro Imperial (rua Dr. Bozano) e do Cine Independência (à praça Saldanha Marinho) para fiscalizar a piazada que queria assistir filmes proibidos até 14 anos, ou até 18 anos, conforme censura vigente na época. Hoje, o Cine-Teatro Imperial, onde a Escola de Teatro Leopoldo Froes (dirigida pelo saudoso Edmundo Cardoso) encenava seus espetáculos, não existe mais. E o Cine Independência também cerrou as portas, sendo suas dependências alugadas durante anos para as celebrações da Igreja Universal do Reino de Deus, do polêmico bispo Edir Macedo. Depois da transferência dessa igreja para outro local, o prédio ficou entregue às moscas, muito embora brotem de certos setores da comunidade raquíticos apelos para que o prédio seja tombado como patrimônio histórico do município.

PROFa. ZULEIKA ROTH DOMINGUES

Quase não tive contato com ela, pois foi nossa professora de Biologia apenas por três semanas, em substituição à professora titular, que se encontrava enferma.

PROFa. SOLANGE LOUREIRO

Foi minha professora de Português durante um ano. Ela gostava muito de Literatura Brasileira e Portuguesa. Morava na rua Pinheiro Machado, perto do Hospital de Caridade "Astrogildo de Azevedo". Era prima do meu colega Mário Loureiro Chagas, que se formou em Direito e exerceu com destaque a advogacia na comarca de Julio de Castilhos, tendo falecido recentemente. O irmão da professora Solange, Solon Loureiro, era advogado e ativo militante político.

PROFa. EDY MAYA BERTÓIA

Ex-diretora do Grupo Escolar João Belém, foi professora do Maneco na disciplina de Trabalhos Manuais.

PROFa. MARIA LUIZA MEDEIROS

Uma das primeiras psicólogas de Santa Maria, foi minha professora de Filosofia. Tinha consultório particular, onde fazia testes psicológicos para os candidatos a tirarem carteira de motorista, assim como realizava testes de QI (Quoeficiente de Inteligência), muito em voga à época. Era irmã do advogado Vivaldino Medeiros Neto, que por muitos anos foi secretário do Departamento de Biologia da UFSM, nas chefias dos professores Dr. Romeu Beltrão, Eng. Agr. Armando Adão Ribas e bióloga Terezinha Grassiolli. Transferiu-se para Porto Alegre, onde aposentou-se como advogado da UFRGS.

PROFa. NOELI BRAGA

Figura simpaticíssima, foi minha professora de Latim e Português. Morava no edifício da antiga loja Elegância Feminina, onde hoje funciona um mini-shopping. Era casada com o falecido Paulo Braga, irmão de Zélia Braga do Prado Veppo, esposa do amigo, médico e poeta Luiz Guilherme do Prado Veppo, já falecido. Lembro muito bem que, quando me elegi vereador, em 1988, a professora Noeli fez questão de me telefonar com muita antecedência para dizer que votaria em mim, atitude não muito comum no eleitor de hoje. Pois o pessoal costuma primeiro consultar a lista dos eleitos para só depois dizer em quem votou. E - fantástica coincidência - sempre votam num vencedor... Vitimada por uma hepatite, Noeli morreu recentemente.

PROFa. MARIA DOMINGUES REIS

Foi minha professora de História do Brasil durante as séries do ginásio. Loira, elegantemente vestida, sempre de sapatos de salto altíssimo para compensar a pouca altura, era excelente professora ! Era casada com o então Delegado de Polícia, Moura Reis, muito atuante na cidade e figura polêmica devido ao seu temperamento.

PROFa. ANASTACIA MUSA NAIME

Professora de inglês, de ascendência árabe, era figura querida dos alunos. Sempre a encontrava pelas ruas da cidade, onde ela parava com freqüência para conversar com todo mundo. Figura muito bem relacionada em toda a comunidade.

PROFa. NORMA SAUER

Foi minha professora de Ciências no curso ginasial. Era chamada carinhosamente de "Norminha". Foi com ela que aprendi, pela primeira vez, o funcionamento do sistema circulatório, pequena e grande circulação, sístole e diástole, taquicardia e bradicardia, e demais conhecimentos pertinentes ao coração. Morava na subida da rua Silva Jardim, perto do hoje Parque Itaimbé. Seu marido trabalhava no ramo de couros e curtumes. Sempre ativa, a professora Norma toma parte ainda hoje em atividades ligadas aos grupos da Terceira Idade de Santa Maria.

TURMA DE 1962

A turma do Ensino Médio, então chamado de Científico, que estudou no período 1961/1963, era constituída de 50 alunos. No entanto, a turma do terceiro ano à qual pertenci e que prestou exame vestibular nos primeiros dias de janeiro de 1963, era composta de 42 alunos. Foram aprovados 41 alunos. Apenas uma aluna foi reprovada, ficando na primeira suplência no vestibular que fizera em Porto Alegre. Desta turma, que marcou a história do Maneco, sairam nove primeiros lugares e quatro segundos lugares nos vestibulares da UFSM. E note-se que não existiam cursinhos pré-vestibulares, pois os mesmos eram desnecessários diante da qualidade profissional dos mestres do Maneco. Lembro de todos os meus colegas da Turma-A do Terceiro Ano Científico/1962, assim também como dos alunos do outro terceiro ano (Turma-B), todos vestibulandos de 1963. Passados 40 anos, lembro o vestibular que fizeram, a profissão que abraçaram, onde residem. Sei até daqueles que, infelizmente, já faleceram. Ei-los :
1 - Régis Agne (Medicina - Santa Maria)
2 - Joacir Medeiros (Física - Porto Alegre)
3 - Diná Souza Martins (Odontologia - Santa Maria)
4 - Sérgio Segala (Medicina - Santa Maria)
5 - Carlos Horácio Hertz Genro (Medicina - P. Alegre)
6 - Luiz Fernando Estivallet Bezerra "Life" (Engenharia Eletrônica - RJ)
7 - Nelson Segala (Medicina - Santa Maria) - Falecido
8 - Telma Cordeiro (Medicina - Santa Maria)
9 - Carlos Nelson Pallaoro (Odontologia - Santa Maria)
10 - Izidoro Lima Garcia Filho "Izidorinho" (Medicina - Santa Maria) - falecido
11 - Ilza Norma Rocha (Matemática - em Porto Alegre)
12 - Flori Machado Sobrinho (Medicina - Brasília, Hospital Sarah)
13 - Gladis Hoffmeister (Farmácia - reside na Alemanha)
14 - Jussara Terra (Odontologia - Santa Maria)
15 - Clândio Charão (Engenharia - Santa Maria)
16 - Delba Ramos (Santa Maria)
17 - Roselee Maria Peixoto (Santa Cruz do Sul)
18 - Lilian Basso (Geografia - em Porto Alegre)
19 - Olga Maria Domingues (Letras - reside nos Estados Unidos)
20 - Zaira Motta (Matemática - Caçapava do Sul,RS)
21 - Dari Pretto (Medicina)
22 - Luiz Francisco Flores "Chico" (Odontologia - Porto Alegre)
23 - Francisco Bossardi (Odontologia - Porto Alegre)
24 - Carmem Helon Mariosi (Farmácia - Santa Maria)
25 - Neuza Mothcy de Oliveira (Odontologia - Santa Maria)
26 - Sônia Pinheiro (Odontologia - Porto Alegre)
27 - Arize Loureiro Weighrt (Odontologia - Rondinha, RS)
28 - Madalena Zwetsch (Farmácia - São Leopoldo,RS)
29 - José Feliciano Albuquerque "Cadelão"(Engenharia Civil - Santa Maria)
30 - Roger Pereyron (Medicina - Santa Maria)
31 - Marcos Baseggio (Engenharia e Medicina)
32 - Luiz Osvaldo Coelho (Medicina - Porto Alegre)
33 - Neuza Abelin (Medicina - São Paulo)
34 - Flávia Portoalegre (Medicina - São Paulo)
35 - Carmem Souza Coelho (Direito - Porto Alegre)
36 - Marco Santiago (Oficial-aviador da Aeronáutica - Santa Maria)
37 - Jane Benaduce (Matemática - Santa Maria) - Falecida
38 - Eliane Carpilowsky (Pedagogia - Rio de Janeiro)
39 - Maria Cristina Pereira (reside em São Paulo)
40 - Hugo (?) (Engenharia)
41 - James Pizarro (Agronomia - Santa Maria)
42 - José Hamilton Acosta (Medicina - Santa Maria) - falecido
43 - Gilberto Brilhante Trindade "Meio Louco" (Odontologia - Santa Maria))
44 - Oldemar Weber (Medicina - Santa Maria)
45 - Rogério Ferrari (Medicina - Porto Alegre)
46 - Luiz Cláudio Lima "Liminha" (Odontologia)
47 - José Francisco Gonthan Ritzel "Neneco" (Aeronáutica - Aviador)-Falecido
48 - Bethania Ehlers (residente em São Paulo)
49 - Ana Lídia (funcionária da UFSM - Santa Maria)
50 - Célia Cláudia Borges (Odontologia - Porto Alegre)
51 - Gilberto Amorin "Gordo" Souto ( Medicina Veterinária - Santa Catarina)
52 - Glênio Lopes dos Santos (Agronomia - Santa Maria)
53 - Vera Maria dos Santos (Letras - Santa Maria)
54 - Tito Flávio de Oliveira Gorski (Engenharia Elétrica - Florianópolis)
55 - Maria Estela (?) (Engenharia Civil)
56 - Erriô Brum Pires (Odontologia - São Sepé)
57 - Cledir Farias (Engenharia Mecânica) - Falecido
58 - (?) Moreira (Medicina Veterinária - Santa Maria) - Falecido
59 - Udo Cristhman (Engenharia Mecânica)
60 - Rubem Fortes (Agronomia - Santa Maria) - Falecido
61 - Carlos Jader Feldmann (Medicina - Porto Alegre)
62 - Iria Both (Farmácia)
63 - Cláudio "Polaco" Vallandro (Medicina - Porto Alegre)
64 - Luiz Galeno Mothcy ( Porto Alegre)
65 - Carlos Alberto T. Crivellaro (Médico - São Paulo)
66 - Thadeu Mello (Administração - Santa Maria)
67 - Antônio Ernesto Möjen (Rio de Janeiro) - Falecido
68 - "Pintado" (?) - (Santa Catarina)
69 - Leonardo Cauduro (Rio de Janeiro)

A BANDA DO MANECO

A história da banda do Maneco está indelevelmente ligada ao nome do ex-aluno Roberto Binato, depois formado médico e professor universitário do Curso de Medicina, no Departamento de Biofísica, onde ministrava aulas juntamente com o Dr. Irion. Mesmo cursando Medicina, continuava sendo o responsável pela banda do Maneco, nas funções de "mestre", uma espécie de maestro que cuidava tanto da coreografia e da disciplina como também dos arranjos musicais e repertório. Era carinhosamente chamado de "Binatão", devido à sua alentada obesidade, pois era um glutão inveterado. Presenciei, mais de uma vez, aquele homem devorar em poucos minutos dois quilos do recém-lançado Sorvete Kibom, uma das suas preferências. Ele casou com uma farmacêutica e, durante anos, trabalharam na zona italiana da Quarta Colônia, transferindo-se para Santa Maria, quando seus filhos vieram fazer o Ensino Médio e frequentar cursinhos pré-vestibulares. Um de seus três filhos, de nome Sílvio (apelido "Dandão"), foi meu aluno e companheiro de jogo de tênis nas quadras do ATC-Avenida Tênis Clube.
A banda do Maneco era constituída por uma quantidade incrível de integrantes. Certa época, a banda chegou a desfilar com quase 200 figurantes, fazendo as chamadas "evoluções" durante o desfile. A evolução que mais agradava e que arrancava delirante aplauso do público era copiada da Banda de Fuzileiros Navais, do Rio de Janeiro : a banda desfilava formando uma gigantesca âncora, que ocupava uma quadra inteira de rua. A banda viajava muito por todo o RS, a convite de escolas e prefeituras. Em Santa Maria, era convidada a abrilhantar todo tipo de solenidade. Certa feita, no campo de futebol do Riograndense Futebol Clube, completamente lotado, a banda formou - pela primeira vez - a palavra MANECO, numa evolução que comoveu a pais, alunos, professores, funcionários e público em geral.
A banda tinha toda sorte de instrumentos : bumbos, surdos, caixas, taróis, pratos, escaletas, pífaros, trombones, pistons, cornetas, flautas doces, etc...Os ensaios eram realizados somente à tarde, depois do término das aulas, no pátio da escola ou pelas ruas da cidade. O Padre Rômulo Zanchi, férreo disciplinador na direção do colégio, exigia que os integrantes da banda apresentassem seus boletins todo santo mês em seu gabinete. Quem estivesse mal de notas era sumariamente banido da banda. O padre Rômulo dizia : "É uma honra tocar na banda e aluno vadio não veste aquele uniforme para representar o Maneco pelas ruas da cidade ! " Assim é que, nos desfiles da Semana da Pátria ou nos deslumbrantes Jogos da Primavera, quando a banda chegava ao centro da cidade, capitaneando os quase dois mil alunos do Maneco, toda o público sabia que ali naquela corporação musical marchava a elite cultural do colégio, representada por seus melhores alunos. Durante duas ou três noites que antecediam à data do desfile, alunos e alunas voluntariamente faziam bolhas nos dedos cortando papel laminado para fazer "picadinhos" que eram acondicionados em dezenas e dezenas de sacos de estopa. No dia do desfile, estes alunos e seus familiares postavam-se estrategicamente nas sacadas dos edifícios mais altos da avenida Rio Branco e da rua do Acampamento (o Taperinha era um dos preferidos) e, quando o Maneco começava sua esperada apresentação, os céus do centro da cidade eram tomados por aqueles milhares de "picadinhos" laminados que produziam um efeito espetacular refletindo a luz do sol. Torcidas organizadas berravam sem parar :"Maneco ! Maneco !" Aquelas músicas, marchas e dobrados em furiosa harmonia marcial...o Tadeu com seu garbo de mor da banda....as duas graciosas balisas (a Carmem Helon Mariosi era uma delas)...aquela multidão...aqueles papéis picados...os foguetes...os gritos...os aplausos...a cadência...aquilo tudo era emocionante ! E eu ali no meio da banda, tocando pifaro, ao lado do Paulo Ari (agrônomo, professor da UFSM, já falecido) e o Alceste Almeida (médico, hoje deputado federal por Roraima). Eu ali...durante seis anos tocando naquela banda...passando por aquelas emoções que enchiam meu coração adolescente de felicidade e orgulho. Era impossível não chorar...
Atualmente, a banda continua ainda em ação, passando por dificuldades financeiras. Tem de arrecadar fundos com promoções, tocar nas ruas e avenidas enquanto alguns integrantes vendem rifas para os transeuntes para o custeio do aluguel dos ônibus que levam a banda até cidades onde se realizam concursos de bandas marciais e musicais. Assim é que, mesmo com essas dificuldades todas, a banda do Maneco venceu, em 2002, as competições de Alegrete e Quaraí. Por falta de recursos não pôde comparecer ao concurso de São Lourenço do Sul e luta com dificuldades para comparecer a outros, como o de Lagoa Vermelha. Segundo sei, a UFSM foi sensível e colaborou com R$ 600. Enquanto a banda passa por essa penúria, leio nos jornais que a Câmara de Vereadores está pleiteando uma "singela" suplementação de verbas de quase meio milhão de reais para tapar "furos" no orçamento mal calculado, mais R$ 600 de auxílio-telefone e 150 litros de gasolina por mês para cada vereador. Mas algum dos vereadores foi sensível à situação da banda, como outrora ocorria ? Em 1958, ano do centenário do município, o então vereador pelo PTB, Alfeu Cassal Pizarro - meu pai e a meu pedido - destinou a quantia de 5000 cruzeiros (moeda da época) para a aquisição de instrumentos para a banda do Maneco (a xerocópia do documento está nos arquivos do Maneco). Mais de 45 anos depois, esse tipo de sensibilidade política parece estar em extinção no meio dos homens públicos...
Quero registrar o trabalho voluntário, incansável, de vários elementos que trabalharam sempre pela banda nos últimos tempos: Luiz Carlos Santos (professor de Biologia de cursos pré-vestibulares e também do Maneco), Alberi da Silva Pereira (36 anos,um dos coordenadores, com 18 anos de banda), José Paulo Rorato (43 anos, integrante da banda desde 1993) e tantos outros.

***PEDIDO : quem quiser acrescentar fatos, relembrar coisas que não estão aqui, enviar fotos, etc...dirijam-se ao meu e-mail : jamespizarro@hotmail.com Ficarei muito agradecido.

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