sábado, 14 de fevereiro de 2009

"BERBIGÃO DO BOCA" ABRE O CARNAVAL DE FLORIANÓPOLIS (13/02/2009)



Lá estavam os ricos da rica Ilha. Lá estavam os pobres dos morros empobrecidos. Foram também os brancos, bronzeados nas praias. Foram os negros descendentes dos escravos. Chegaram as crianças, as moças e as prostitutas. Chegaram os meninos, os rapazes e os gays. Avistava-se os cantores, os músicos e até o mudo. Avistava-se os mascarados, as bailarinas e o cadeirante. Via-se o boleiro, o vendedor de bilhetes, o pipoqueiro. Escutava-se a cozinheira, a camareira, a estudante. Estava o manezinho e o turista gringo. Todos se encontraram. Onde? No Berbigão do Boca.

Nunca saberemos quantos eram. 10, 15, 20 mil? Nem os homens da farda sabem calcular. Muito menos os civis “encamisetados” de colorido. E jamais os bêbados cambaleantes. Falemos de milhares e fica tudo certo.

O hino diz tudo: “Dele, do Berbigão do Boca, ninguém pode fugir. É festa pra rachar. É uma coisa louca.”

Mas afinal, o que é este tal Berbigão do Boca? Berbigão é uma iguaria da Ilha. Não é peixe, nem camarão. Muito menos siri, ostra, marisco. É um “bichinho” pequeninho que dá um caldo delicioso, um pastel de dar água na boca, um ensopado de fechar o comércio. E este tal de Boca?

Boca é uma figura muito querida na Ilha, que adora Carnaval. Certa vez, quando não se tinha o que fazer na cidade, ele pensou: lá em Pernambuco tem o Bacalhau do Batata. Bem que aqui poderia ter o Berbigão do Boca.

Festa garantida por decreto municipal

E teve. Mas é bom saber: o Berbigão do Boca não é um bloco. É mais que isso. Mas também isso. O Berbigão do Boca, por decreto municipal, abre o Carnaval em Florianópolis. Tanto que, depois do desfile, tem o Concurso da Rainha. Na mesma noite, o prefeito entrega simbolicamente as chaves da cidade para o Rei Momo.

O Berbigão do Boca é a grande festa da Ilha. Junta-se tudo: as bandeiras de todas as escolas, os batuqueiros de todos os blocos, todos os famosos e aqueles que se julgam anônimos. No Berbigão é meio assim. Tem pai, mas não tem mãe. Tem avô que se perde do netinho. Tem netinho que faz xixi na rua. O Berbigão é mais que a grande festa da Ilha. O Berbigão é a grande festa da família.

Ontem, em plena sexta-feira 13, o Berbigão mais uma vez fez bonito. Era meio-dia e já estava concentrado. Arrumadinho em tom maior de amarelo. Foi filmado pela TV e tudo. Depois, apareceu em rede nacional.

No fim da tarde teve fogos. Os pombos do Largo da Alfândega levantaram em revoada. O hino ecoou pelos corredores dos prédios. Gente se esbarrava na calçadas. Os bonecos agigantaram-se ainda mais.

O arrastão do Berbigão do Boca seguia. Mas outro berbigão ficava. Uma multidão preferia ficar nos bares do Mercado, perto do vendedores de cerveja, pegando a fumaça do churrasquinho. É por essas e outras que se torna tão difícil calcular o número de foliões do Berbigão do Boca. O provável é que, recém-aberto, o Carnaval já deixe saudades da festa de ontem. Fica sempre a dúvida: será que vai ter evento carnavalesco tão bom quanto o do Berbigão do Boca?

Na Ilha da Magia, cercada de histórias de bruxas, reza uma lenda: se o Berbigão do Boca foi bem, é sinal que toda a folia será.

A partir das 13h, nove berbigãozeiros começaram a preparar pratos exclusivamente à base do molusco para o Concurso de Culinária Berbigão do Boca, realizado em uma tenda montada no Largo da Alfândega.

Coordenado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), o concurso premiou com o troféu Berbigão do Boca a receita Berbigão Tropical do Mago, criada por Ady Brigido Silva, que também abocanhou o prêmio no ano passado.

A receita apresenta o berbigão gelado, acompanhado de pimentões, cebola, azeite de oliva e temperos. Entre os oito jurados, Cláudia Pacheco, dona de um buffet de eventos da Capital, afirmou que a criatividade foi responsável por garantir mais sabor à competição, que premia as melhores e mais inovadoras receitas feitas com o rei da festa.

Em seguida, as entidades e pessoas que contribuíram para a festa receberam o troféu Amigo do Berbigão do Boca. Uma multidão acompanhou a entrega dos troféus antes da saída do desfile até a Praça XV, às 18h.

Segundo Leonardo Garofallis, organizador do Berbigão do Boca, esta edição foi a mais prestigiada pelo público, que lotou o vão do Mercado Público e a Praça da Alfândega.
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FONTE : ÂNGELA BASTOS (DC - 14 de fevereiro de 2009, edição N° 8346)

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